18 Janeiro 2021
"O que se tem, de fato, é falta de oxigênio e outros recursos indispensáveis em larga escala, falta de leitos, falta de profissionais de saúde e, principalmente, falta de coordenação nacional, por absoluta incapacidade do atual ocupante da pasta da saúde e pelo caráter obtuso e pelo exemplo negativo do ocupante da Presidência da República, liderando as atitudes de descaso e desrespeito de parte da população à recomendações dos profissionais de saúde", escreve a diretoria da Associação KAMURI.
Segundo ela, "além do horror estabelecido em Manaus, que pode ainda tornar-se mais grave, vivenciamos o temor de que a situação de Manaus se propague rios acima e abaixo, levando o mesmo quadro caótico ao Alto Rio Negro, ao Médio e Alto Solimões, à foz do Madeira e adiante, lugares em que as estruturas de atendimento à saúde da população são limitadas, quando não precárias. E se isso vier a se configurar, ainda uma vez pela inépcia dos governos federal e estadual, o desastre se abaterá de forma inexorável sobre as vulneráveis populações indígenas e ribeirinhas".
Como tragédia anunciada, a cidade de Manaus, capital do Amazonas, vive hoje (meados de janeiro/2021) um cenário que se aproxima ao das epidemias do final do século XIX e início do século XX: pessoas morrendo em casa, sem assistência alguma, ou morrendo às portas dos centros de atendimento à saúde, abarrotados, sem nem mesmo uma cama para serem acolhidas ali. No Brasil, quando autoridades não cumprem a tempo com suas obrigações, agem de forma inepta ou simplesmente se omitem diante dos problemas, essas mesmas autoridades costumam qualificar tragédias como a de Manaus como “uma fatalidade”. Mas o que vemos, hoje, em nosso país à deriva, não são fatalidades, são crimes perpetrados pela incompetência, pela ignorância negacionista, por uma má gestão do setor público e pela mesquinhez do ganho a qualquer custo que forjou os apelos pela abertura desenfreada do comércio para as vendas associadas às festas de final de ano.
Culpar novas cepas do coronavírus parece que será o “mantra” entoado pelos responsáveis dessa tragédia que, infelizmente, está apenas começando: do Sr Presidente da República ao Governador do Amazonas, do General da pasta da saúde à Prefeitura de Manaus, do leniente STF aos Deputados Federais e Estaduais. O que se tem, de fato, é falta de oxigênio e outros recursos indispensáveis em larga escala, falta de leitos, falta de profissionais de saúde e, principalmente, falta de coordenação nacional, por absoluta incapacidade do atual ocupante da pasta da saúde e pelo caráter obtuso e pelo exemplo negativo do ocupante da Presidência da República, liderando as atitudes de descaso e desrespeito de parte da população à recomendações dos profissionais de saúde.
Além do horror estabelecido em Manaus, que pode ainda tornar-se mais grave, vivenciamos o temor de que a situação de Manaus se propague rios acima e abaixo, levando o mesmo quadro caótico ao Alto Rio Negro, ao Médio e Alto Solimões, à foz do Madeira e adiante, lugares em que as estruturas de atendimento à saúde da população são limitadas, quando não precárias. E se isso vier a se configurar, ainda uma vez pela inépcia dos governos federal e estadual, o desastre se abaterá de forma inexorável sobre as vulneráveis populações indígenas e ribeirinhas.
O mundo luta contra uma séria ameaça à saúde das populações. Nosso país, a tudo isso, soma um ingrediente próprio, por obra dos seus governantes: o Brasil vive uma séria crise de saúde pública. Juntamo-nos às forças democráticas e a todos os profissionais de saúde engajados no combate à epidemia, apelando à consciência cidadã de todos os brasileiros contra o relaxamento dos cuidados sanitários e das medidas de distanciamento. E se resta um mínimo de decência e de postura ética na classe política e nas altas esferas do Judiciário, é urgente agir para libertar o país de uma acefalia tóxica que já vem corroendo as próprias instituições democráticas.
Nossa solidariedade a todas as pessoas enlutadas pela COVID-19, e nesse momento, nosso mais profundo sentimento de pesar a toda a população de Manaus.
Campinas, 16 de dezembro de 2021.
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Nota da Diretoria da KAMURI sobre a segunda onda da COVID-19 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU