17 Dezembro 2020
Mais de 370 líderes assinam declaração demandando o fim das práticas de conversões antes da conferência do Reino Unido.
A reportagem é de Harriet Sherwood, publicada por The Guardian, 16-12-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Lideranças religiosas de todo o mundo estão se reunindo em um evento organizado pelo governo do Reino Unido para clamar pelo fim da criminalização das pessoas LGBT+ e banir globalmente as práticas de conversão.
Mais de 370 figuras de 35 países representando dez religiões assinaram uma histórica declaração ao início da conferência em 16 de dezembro, em um movimento que destacará as divisões nas religiões globais.
Entre os signatários está o arcebispo Desmond Tutu e oito outros arcebispos, a ex-presidente católica da Irlanada Mary McAleese, mais de 60 rabinos, e líderes muçulmanos, hindus, sikhs e budistas.
Os ministérios britânicos das Relações Exteriores e do Desenvolvimento sediam a conferência que deveria ocorrer em Whitehall, mas, devido às restrições nível 3 da covid-19 em Londres, acontecerá de forma online. James Duddrige, o ministro para a África, coordenará o encontro.
A Abadia de Westminster realizará uma celebração privada depois do evento, liderada por diáconos de Westminster e da Catedral São Paulo.
A declaração pede pelo fim da criminalização das pessoas LGBT+ e “das terapias de conversão” – tentativas para mudar, suprimir ou apagar a orientação sexual, identidade de gênero ou expressão de gênero de uma pessoa.
Também reconhece que “alguns ensinamentos religiosos frequentemente, ao longo do tempo, causaram e continuam a causar profunda dor e ofensa” às pessoas LGBT+, e tem “criado, e continua a criar, sistemas opressivos que abastecem a intolerância, perpetuam injustiça e resultam em violência”.
O governo do Reino Unido originou esta conferência, apesar de falhar em agir com as promessas feitas em 2018 de proibir as terapias de conversão. Em julho deste ano, Boris Johnson disse que planos para proibir a prática “absolutamente abominável” seriam apresentados após um estudo.
Questões de sexualidade e identidade de gênero causaram amargas divisões dentro da Comunhão Anglicana global, chefiada por Justin Welby, o arcebispo de Canterbury, por décadas. Os líderes da Igreja em países como Nigéria, Uganda e Ruanda defendem o ensino bíblico tradicional sobre o assunto.
No entanto, Sarah Mullally, bispa de Londres e número três na Igreja da Inglaterra, enviou uma mensagem de “sincero encorajamento” ao encontro. “Quando os ensinamentos cristãos são distorcidos para incitar a violência, isso é um abuso terrível da mensagem do evangelho”, disse ela.
A declaração foi assinada pelos líderes da Igreja Anglicana na Escócia e no País de Gales. Paul Bayes, o bispo de Liverpool, é co-presidente da Comissão Inter-religiosa Global sobre Vidas LGBT+, que será lançada na conferência.
Bayes disse: “Por muito tempo, os ensinamentos religiosos foram mal utilizados – e ainda estão sendo mal utilizados - para causar profunda dor e ofensa àqueles que são lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queer e intersex. Isso deve mudar”.
Outro signatário, Dilwar Hussain, presidente da New Horizons in British Islam, disse que pressionou as organizações muçulmanas a se envolverem com a justiça LGBT+, mas admitiu que era um “desafio”.
Ele acrescentou: “Fala-se muito nas comunidades muçulmanas sobre igualdade, preconceito, discriminação... se quisermos levar a sério as questões de justiça e injustiça em nossa sociedade, precisamos ter um argumento que seja moralmente consistente”.
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Lideranças religiosas fazem chamado por descriminalização global das pessoas LGBT+ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU