20 Fevereiro 2014
Não podemos deixar que os outros falem por Jesus. A nossa fé está sendo usada para causar sérios danos às pessoas LGBT. Mostrar amor para com o próximo, hoje, como ordenado por Jesus, significa intensificar a solidariedade e colocar-se ao lado dos nossos irmãos e irmãs LGBT em todo o mundo.
A reflexão é de Paul Brandeis Raushenbush, pastor batista norte-americano e editor-executivo da editoria de religião do jornal The Huffington Post, 16-02-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Uma multidão na Nigéria arrastou homens de suas casas no sábado e os espancou com paus e barras de ferro. Esses homens eram considerados homossexuais. Então, ao invés de protegê-los, a polícia tomou parte no ataque e bateu e chutou quatro deles. A violência surge devido a uma nova lei assinada no mês passado que criminaliza uniões homossexuais, organizações e demonstrações de afeto entre pessoas do mesmo sexo.
Na sexta-feira, o presidente de Uganda anunciou que planeja assinar uma lei que tornará a homossexualidade um crime digno de uma sentença de prisão perpétua. Na quinta-feira, a assembleia legislativa do Estado do Kansas, nos Estados Unidos, aprovou uma lei que tornará legal para os cidadãos e funcionários do governo discriminar os gays. A Rússia tem agora uma lei, já bem divulgada, contra a "propaganda gay", que levou à hostilidade generalizada em relação às pessoas LGBT.
Há uma linha comum e deplorável que une esses exemplos de opressão global às pessoas LGBT: a cumplicidade cristã.
Quando o presidente da Nigéria assinou a draconiana lei antigay, o bispo católico Ignatius Kaigama, da cidade de Jos, elogiou o presidente por sua "decisão corajosa e sábia".
A lei em Uganda, conhecida como a lei "Matem os gays", tem origem nos esforços concertados de evangélicos norte-americanos, vividamente capturados no filme God loves Uganda. As leis antigays russas são amplamente apoiadas pela Igreja Ortodoxa Russa, e os bandidos que atacam manifestantes gays têm sido conhecidos por carregar cruzes ortodoxas enquanto levam adiante a sua violência. E, no Kansas, o esforço contra as pessoas LGBT tem sido defendido por cristãos de um tipo muito especial sob a bandeira da "liberdade religiosa".
Sendo um pastor cristão ordenado, fico irritado com a colaboração e a cumplicidade dos meus correligionários com essas leis que visam especificamente à comunidade LGBT. Como é escandaloso - e pecaminoso - que a nossa tradição religiosa seja usada a serviço da demonização e difamação de seres humanos como nós. Isso já foi longe o suficiente. É hora de os cristãos com espírito de justiça levantarem-se dos bastidores e dizer as famosas palavras da drag queen do Stonewall, Sylvia Rivera: "Não agüento mais essa merda".
A boa notícia é que muitos cristãos, tanto nos bancos de igreja, quanto aqueles em posições de liderança já estão do lado das pessoas LGBT. O arcebispo Desmond Tutu disse recentemente: "Eu não adoro um Deus que é homofóbico e é assim que eu me sinto sobre isso profundamente". E chegou a dizer: "Eu sou tão apaixonado por essa causa (dos direitos LGBT) como eu sempre fui pelo apartheid. Para mim, está no mesmo nível".
Da mesma forma, o arcebispo católico irlandês Diarmuid Martin, de Dublin, recentemente escreveu: "Qualquer pessoa que não mostre amor para com gays e lésbicas está insultando a Deus. Eles não são apenas homofóbicos se fizerem isso - eles são, na verdade, teofóbicos, porque Deus ama a cada uma dessas pessoas".
E os bispos da Igreja Episcopal do Kansas escreveram uma carta em resposta ao projeto de lei antigay em que declararam: "A nossa fé baseada na Bíblia nos chama a viver o mandamento de Jesus Cristo de amarmos uns aos outros. Você não pode amar seus companheiros do Kansas e negar-lhes os direitos que pertencem a todos os outros".
Nós que somos cristãos temos que nos unir e animar essas vozes com as nossas próprias. Os cristãos devem se certificar de que suas Igrejas, amigos e líderes religiosos tenham a oportunidade de conhecer e conversar com pessoas LGBT e entender como ser alvo de tais leis os faz sentir. Os cristãos devem usar as suas próprias páginas no Facebook e outras mídias sociais e se colocar ao lado das pessoas LGBT.
Os líderes religiosos em todos os níveis devem falar diretamente contra a cumplicidade dos católicos, ortodoxos e cristãos protestantes pelo alvo contra os filhos de Deus LGBT. Papa Francisco, eu estou falando com você. É hora de você usar sua voz profética e manifestar-se contra o uso da violência e pela plena igualdade das pessoas LGBT. Todos os que estão no Twitter deveriam escrever ao @Pontifex usando a hashtag#PopeSpeakOut.
Os recentes acontecimentos em todo o mundo nos mostram que ficar sentados nos bastidores não é mais permitido - especialmente para os cristãos. Não podemos deixar que os outros falem por Jesus. A nossa fé está sendo usada para causar sérios danos às pessoas LGBT. Mostrar amor para com o próximo, hoje, como ordenado por Jesus, significa intensificar a solidariedade e colocar-se ao lado dos nossos irmãos e irmãs LGBT em todo o mundo.
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''Os cristãos são causa de opressão aos LGBT, por isso têm que ser parte da sua libertação'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU