03 Dezembro 2020
Um mosaico no chão com as palavras “A verdade acima de todas as coisas” dá as boas-vindas aos visitantes da Igreja de São Miguel em Manhattan, onde o popular padre George Rutler servia como pastor desde 2013. Mas Rutler agora é acusado de assédio sexual contra uma mulher que trabalhava de guarda depois que ela supostamente teria o flagrado e filmado assistindo pornografia gay no mês passado.
A reportagem é de Christopher White, publicada por National Catholic Reporter, 01-12-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Tais alegações chocaram os paroquianos e associados de Rutler, enquanto eles procuram reconciliar as acusações com suas próprias experiências de conservadorismo político e teológico, pois o padre é conhecido por aparecer frequentemente na emissora EWTN e por escritos nos quais ele ridiculariza “abortistas e sodomitas”, defende as práticas litúrgicas tradicionais e critica o papa Francisco.
Rutler defende sua inocência. Em uma carta direcionada aos paroquianos em 20 de novembro, ele afirma que uma segurança contratada para fornecer segurança adicional durante a eleição o acusou de tocá-la indevidamente em uma ocasião.
“Eu nego fortemente tais acusações, eu afirmo que é incoerente e doloroso para minha reputação e inconsistente com a forma como conduzi cinquenta anos de serviço ministerial sem qualquer acusação de mau comportamento”, escreveu ele.
Mais detalhes sobre a acusação apareceram em uma entrevista da jovem de 22 anos, Ashley González, concedida em 26 de novembro, em uma emissora de tv a cabo (confira a reportagem, em inglês, no quadro abaixo). Ela acusou que na manhã do dia 04 de novembro, o padre “agressivamente se jogou sobre mim e me agarrou sexualmente, agressivamente, e eu lutava para afastá-lo de mim”.
O alegado ataque de Rutler contra González veio depois de ela usar o telefone para gravar o pastor assistindo a um vídeo de pornografia gay no computador.
Os 18 segundos de gravação, obtidos pela NCR, mostram um homem de costas sentado embaixo de um aglomerado de ícones religiosos e retratos assistindo a uma tela de computador que mostra um homem fazendo sexo oral em outro homem. O homem visto olhando para a tela é aparentemente careca, assim como Rutler, embora sua identidade não possa ser confirmada.
González afirmou ao canal News 12 que Rutler era “como um monstro”, descrevendo o suposto ataque contra ela no segundo dia de trabalho. A reportagem da News 12 também mostra uma série de textos enviados por González a sua mãe dizendo que ela não se sentia segura e que ela seria estuprada.
Por meio de Manuel Gomez, da Black Ops Private Investigators, que a representam, González recusou dar entrevista ao NCR, mas seu representante afirmou que ele foi contatado pela cliente horas depois do suposto ataque.
Ele disse que González entrou com um relatório policial detalhando como Rutler supostamente bateu à porta de seu escritório, impedindo-a de fugir, e a agarrou antes que ela conseguisse escapar. De acordo com Gomez, Rutler convidou González para descansar em seu escritório entre suas visitas à propriedade da igreja.
De acordo com o relato de Gomez, Rutler entrou em seu escritório para verificar os resultados das eleições e depois passou a ver pornografia. Gomez disse que o vídeo do celular gravado por González foi entregue à polícia e enviado à arquidiocese de Nova York e à Santa Sé.
Joe Zwilling, diretor de comunicações da arquidiocese, disse ao NCR em um e-mail que “o caso do padre Rutler está atualmente nas mãos do promotor público” e que a arquidiocese está cooperando totalmente com a investigação, embora ele não tenha respondido se a arquidiocese ou os investigadores assumiram a custódia do computador em questão.
Danny Frost, diretor de comunicações do promotor distrital de Manhattan, recusou-se a comentar, escrevendo em um e-mail para o NCR que o escritório “não confirma se existem investigações”.
Rutler também recusou o pedido de comentário da NCR, afirmando em um e-mail: “Não tenho permissão do advogado para comentar, exceto que gozo da confiança de meus superiores e sou totalmente inocente. Até que este assunto seja julgado, é prudente evitar comentários e possíveis calúnias”.
Desde que assumiu como pastor da Igreja da 34th Street em 2013, a paróquia de Rutler tornou-se um paraíso para uma série de causas e indivíduos tradicionalistas. Em 2018, ele recebeu o ex-conselheiro do Trump, Steve Bannon, na inauguração de um santuário para cristãos perseguidos e, em 2019, recebeu o Stanford White Award para Artesãos do Instituto de Arte Clássica e Arquitetura. Além da EWTN, que suspendeu temporariamente os programas de Rutler, o padre de 75 anos tem contribuído regularmente para a Crisis Magazine e seu boletim semanal foi reimpresso pelo site de direita Church Militant.
Como um anglicano convertido ao catolicismo, o graduado de Dartmouth serviu como capelão nacional da Legatus, uma organização para ricos líderes empresariais católicos, e ele frequentemente se gaba de ter sido nomeado um texano honorário pelo presidente George W. Bush quando este era governador do estado.
Antes de ser nomeado pároco de São Miguel, Rutler esteve por muito tempo na Igreja do Nosso Salvador, na Park Avenue. Quando o cardeal Timothy Dolan o transferiu em 2013, depois que ele atingiu os limites do mandato pastoral da arquidiocese, muitos de seus aliados protestaram contra a mudança, elogiando a Igreja do Nosso Salvador como uma paróquia “vibrantemente ortodoxa”.
Zwilling disse ao NCR que Rutler “não tem uma designação no momento” e que “ele não está servindo como padre”, embora a sinalização da Igreja e o boletim de 29 de novembro continuem a listar Rutler como pastor.
Na coluna de seu pastor, reimpressa em 2009, ele lamenta o declínio das taxas de fertilidade na Europa, o aumento da imigração islâmica e o declínio do casamento. Ele também exorta os paroquianos a enfrentar as lições do Advento: morte, juízo, céu e inferno.
“Cristo não nos chama para enfrentar a cultura, mas para transformá-la”, escreve. “A transformação aconteceu em um decadente Império Romano e pode acontecer em nosso tremendo império moderno, mas apenas enfrentando a realidade”.
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EUA. Padre que contribuía com a emissora católica EWTN, partidária de Trump, é acusado de assédio sexual - Instituto Humanitas Unisinos - IHU