27 Outubro 2020
"O Brasil e a América Latina, provavelmente, devem passar pela 2ª onda, agravando a situação econômica e social da região que já é grave e não deve gerar grandes alívios em 2021. O aumento do desemprego, a queda da renda e a elevação da pobreza podem ser um barril de pólvora a ponto de explodir a qualquer momento", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e pesquisador titular da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 26-10-2020.
O mundo já ultrapassou 43 milhões de pessoas infectadas pela covid-19 e chegou a 1,2 milhão de mortes registradas. Mas provavelmente estes números sejam maiores pois há muita subnotificação. A pandemia avança pelo globo, mas de forma diferenciada.
Há países como o Camboja – que tem uma população de quase 17 milhões de habitantes – e que registrou apenas 287 casos da covid-19 e nenhuma morte. Há países como Taiwan, Vietnã e Nova Zelândia que conseguiram construir uma barreira sanitária para impedir a propagação comunitária do SARS-CoV-2 e tiveram poucos casos e poucas mortes.
Também há países que tiveram uma primeira onda pandêmica muito forte, mas conseguiram controlar a doença (por exemplo, China e Tailândia). Há os que experimentam uma segunda onda muito forte (como Espanha, França e boa parte dos países europeus) e há aqueles que passam por uma terceira onda (como EUA, Irã, Israel, etc.). Pode-se definir que um país tem apenas uma onda quando a curva epidemiológica é unimodal. Duas ondas quando a curva epidemiológica é bimodal. Três ondas quando a curva epidemiológica é trimodal.
O gráfico abaixo, do jornal Financial Times, apresenta a média móvel de 7 dias para o número de mortes, por milhão de habitantes. Nota-se que a China – o país mais populoso do mundo e epicentro inicial da pandemia – conseguiu controlar a mortandade da covid-19 e registrou apena 4.634 óbitos acumulados até 24 de outubro de 2020. A Noruega teve uma primeira onda de mortes e depois conseguiu manter números próximos de zero, a curva epidemiológica norueguesa é unimodal. A União Europeia teve uma onda muito forte de mortes nos meses de março e abril, conseguiu controlar a mortandade nos meses seguintes, mas apresentou um repique nos meses de setembro e outubro (tem uma curva epidemiológica bimodal). O Irã vive a terceira onda de mortes e tem uma curva trimodal e crescente.
Imagem: Reprodução EcoDebate.
O Brasil difere destes exemplos anteriores pelo fato de ter apenas uma onda de mortes, mas apresenta uma curva epidemiológica unimodal que ficou muito tempo estacionada em alto platô. A curva brasileira está caindo lentamente nos últimos 3 meses, mas assim como de outras nacionalidades pode passar, em breve, por um repique característico da segunda onda.
Todos os países europeus dos gráficos abaixo estão passando por uma segunda onda da covid-19. Na primeira onda a Espanha teve uma média móvel em torno de 10 mil casos e 860 óbitos diários e passou para 15 mil casos e 140 óbitos na segunda onda. A França tinha 4.280 casos e 1 mil mortes e passou para 31 mil casos e 140 mortes. Cabe registrar que nos últimos dias (22 a 25 de outubro) a França teve média de mais de 40 mil casos. No dia 25/10 a França teve 52 mil casos, superando inclusive os números da Índia e do Brasil. O Reino Unido tinha 5 mil casos e 1.000 mortes na 1ª onda e passou para 20 mil casos e 170 mortes na 2ª onda. A Itália tinha 5 mil casos e 750 mortes e passou para 15 mil casos e 110 mortes. Portugal tinha 750 casos e 30 mortes na 1ª onda e passou para 2.400 casos e 20 mortes na 2ª onda.
Imagem: Reprodução EcoDebate.
Os países dos gráficos abaixo estão passando por uma terceira onda da covid-19. Na primeira onda os EUA tiveram uma média móvel em torno de 32 mil casos e 2.250 óbitos diários e passou para 69 mil casos e 1.180 óbitos na segunda onda e, por enquanto, 68 mil casos e 830 óbitos na 3ª onda. No dia 23/10 os EUA bateram o recorde diário com quase 82 mil casos. O Irã teve 3 mil casos na 1ª e 2ª onda e 5 mil casos na 3ª onda, tendo também 140 mortes na 1ª onda, 210 na 2ª e média de 300 mortes diárias na 3ª onda. E os números iranianos continuam subindo. Israel teve média de 630 casos, 1.700 casos e 6.000 casos nas três ondas e 10, 20 e 40 óbitos respectivamente. Mas os números israelenses estão caindo atualmente depois da 3ª onda. A Turquia 4.600 casos e 120 mortes na 1ª onda, 1.500 casos e 70 mortes na 2ª onda e 2.000 casos e 80 mortes na 3ª onda. E os números turcos estão subindo neste final de outubro de 2020.
Imagem: Reprodução EcoDebate.
Todas estas cifras mostram que a pandemia continua avançando no mundo e muitos países que pensavam ter controlado a pandemia agora vivem a 2ª ou 3ª onda.
O Brasil e a América Latina, provavelmente, devem passar pela 2ª onda, agravando a situação econômica e social da região que já é grave e não deve gerar grandes alívios em 2021. O aumento do desemprego, a queda da renda e a elevação da pobreza podem ser um barril de pólvora a ponto de explodir a qualquer momento.
ALVES, JED. A pandemia de Coronavírus e o pandemônio na economia internacional, Ecodebate, 09/03/2020. Disponível aqui.
ALVES, JED. Presidente quinta-coluna não combate a pandemia e instala o Necroceno no Brasil, Ecodebate, 08/06/2020. Disponível aqui.
ALVES, JED. A Argentina ultrapassa o Chile e ocupa o 10º lugar no ranking global dos casos da covid-19, Ecodebate, 31/08/2020. Disponível aqui.
ALVES, JED. Minas Gerais possui os menores coeficientes de incidência e mortalidade do Brasil. Ecodebate, 19/10/2020. Disponível aqui.
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Países enfrentam a 2ª onda e a 3ª onda da Covid-19. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves - Instituto Humanitas Unisinos - IHU