02 Outubro 2020
A lista de estudos científicos que registram a perda de gelo na superfície da Groenlândia continua aumentando. Além disso, todos os estudos concordam que o derretimento do gelo terrestre nesta área ártica terá um impacto direto no aumento do nível do mar, em uma escala global.
A reportagem é de Joaquim Elcacho, publicada por La Vanguardia, 01-10-2020. A tradução é Cepat.
Os autores desses estudos também são unânimes na relação do degelo da Groenlândia com as mudanças climáticas causadas pela concentração de gases do efeito estufa na atmosfera (causada em grande parte por atividades humanas, como a combustão de hidrocarbonetos).
O mais recente dos estudos sobre o fenômeno é publicado esta semana na revista científica Nature e é assinado por cerca de vinte pesquisadores, em uma equipe liderada por Jason Briner, da Universidade de Buffalo (Estados Unidos) e Sophie Nowicki, pesquisadora do Cryospheric Sciences Laboratory, Goddard Space Flight Center da NASA, em Greenbelt (Estados Unidos).
As descobertas do estudo apontam que se os humanos não reduzirem drasticamente as emissões de gases do efeito estufa, a taxa de perda de gelo da Groenlândia neste século provavelmente excederá em muito a de qualquer século, nos últimos 12.000 anos.
O estudo analisou camadas de gelo em diferentes profundidades para entender melhor a história do clima, comparar esses dados com a situação atual e estimar a evolução a médio e longo prazo em toda a Groenlândia.
Os cientistas usaram reconstruções novas e detalhadas do clima antigo para conduzir o modelo e o validaram com medições do mundo real do tamanho antigo e contemporâneo da camada de gelo, detalha um relatório divulgado pela Universidade de Buffalo, onde trabalham boa parte autores do estudo.
"Basicamente, alteramos tanto nosso planeta que as taxas de derretimento da camada de gelo neste século estão a caminho de ser mais altas do que qualquer coisa que vimos sob a variabilidade natural da camada de gelo fora da água, nos últimos 12.000 anos, caso não façamos reduções drásticas nas emissões de gases do efeito estufa", explica Jason Briner, professor de geologia da Faculdade de Artes e Ciências da Universidade de Buffalo.
“Se o mundo seguir uma dieta energética massiva, em linha com um cenário que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas chama de RCP2.6, nosso modelo prevê que a taxa de perda de massa da camada de gelo da Groenlândia, neste século, será apenas um pouco mais alta do que qualquer outra experiência vivida nos últimos 12.000 anos”, acrescenta Briner. “Mas, mais preocupante, é que em um cenário RCP8.5 de alta emissão, aquele agora seguido pela camada de gelo da Groenlândia, a taxa de perda de massa pode ser cerca de quatro vezes os valores mais altos experimentados sob a variabilidade climática natural, nos últimos 12.000 anos”.
“Nossas descobertas são outra chamada de atenção, especialmente para países como os Estados Unidos”, reitera Jason Briner. “Os americanos usam mais energia por pessoa do que qualquer outra nação do mundo. Nossa nação produziu mais CO2 residente na atmosfera hoje do que qualquer outro país".
“Nós, estadunidenses, devemos seguir uma dieta energética. Os estadunidenses mais ricos, que têm a maior pegada energética, podem se dar ao luxo de fazer mudanças no estilo de vida, voar menos, instalar painéis solares e dirigir um veículo de baixo consumo de energia", diz este especialista, em um esforço para transferir conhecimento científico aos comportamentos humanos que podem ajudar a combater a crise climática.
Rate of mass loss from the Greenland Ice Sheet will exceed Holocene values this century, Nature (2020). Disponível aqui.
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A Groenlândia perde gelo a um ritmo superior ao conhecido (pelo menos) em 12.000 anos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU