01 Outubro 2020
A Conferência de Igrejas de Toda a África emitiu manifesto no qual define o que entende como o desafio político de enfrentamento da corrupção e a crescente dívida pública de países do continente. No lançamento virtual do documento, na segunda-feira, 21, o secretário-geral do organismo ecumênico, reverendo Dr. Fidon Mwonbeki, disse, em Nairobi, que chegou a hora de, mais uma vez, agir.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
“A igreja não pode ficar à margem, enquanto o povo de Deus continua a sofrer cada vez mais privações por causa das ações daqueles que receberam a responsabilidade de liderança”, declarou o pastor da Igreja Evangélica Luterana na Tanzânia.
O cancelamento de mais de 100 bilhões de dólares da dívida de 35 países mais pobres na Campanha do Jubileu 2000 criou a esperança de que eles nunca mais retornariam a tal escravidão.
“Pelo que ouvimos e queremos acompanhar, é possível que a maioria, senão todos os países cujas dívidas foram canceladas então, tenham voltado a ter dívidas ainda maiores agora”, lamentou o líder ecumênico, segundo o repórter Fredrick Nzwili.
Corrupção e dívida pública preocupam as igrejas, que clamam por reformas na arquitetura financeira global, mobilização de recursos internos e contenção de fluxos financeiros ilícitos.
A vice-secretária-geral do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), professora Dra. Isabel Apawo Phiri, pediu, no lançamento do documento, mudanças sistemáticas na saúde, educação e proteção social para o período pós-covid nos países africanos.
O excesso de medicalização dos cuidados na saúde inibiu as comunidades, deixando-as desmotivadas para se engajarem na saúde primária, quando ocorreu uma ênfase na concessão de tratamentos sofisticados dirigidos a alguns. A comercialização excessiva, argumentou Phiri, significa que os interesses comerciais impulsionam a agenda da saúde.
O alívio da dívida para os países africanos é um imperativo “em tempos de covid-19. O cancelamento da dívida pode salvar vidas”, disse Phiri, o que deve ser acompanhado de responsabilização no uso dos fundos públicos. “Este é um momento profético. Como igrejas, podemos ver aqui um caminho para a nova criação”, destacou.
Na África do Sul, o Conselho de Igrejas lançou, no dia 9 de setembro, campanha nacional sob o lema “A corrupção não é nossa herança”. A campanha destaca os custos humanos e monetários da corrupção que envolve funcionários públicos e representantes do setor privado.
“As pessoas frequentemente falam que a corrupção é uma questão abstrata de rands (moeda local) e centavos, ou gastos irregulares”, afirmou, no lançamento virtual da campanha, o professor de Ciências Políticas da Universidade de Pretória, Dr. Sithembile Mbete. Mas pessoas morreram por causa do covid-19 “por terem equipamento de proteção individual incorreto e outros problemas relacionados ao tipo de corrupção que vimos em torno dessa questão”, emendou.
O auditor geral da África do Sul, Kimi Makwetu, que também participou do lançamento da campanha das igrejas contra a corrupção, divulgara relatório denunciando que em alguns casos equipamentos de proteção individual foram adquiridos por cinco vezes mais do que o preço recomendado pelo tesouro nacional.
Antes do lançamento da campanha, informa o serviço de imprensa do CMI, o arcebispo anglicano Thabo Makgoba, da Cidade do Cabo, conversou com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, do Congresso Nacional Africano, a respeito da corrupção pandêmica instalada no país.
"Senhor presidente, isto não é apenas roubo. Está aniquilando a própria vida dos mais pobres; é quase genocida no efeito. Chefões corruptos que se juntaram ao seu partido, não para servir ao bem comum mas para se enriquecerem, agem com impunidade – suas atitudes são debilitantes, avassaladoras”, denunciou Makgoba.
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Igrejas africanas afirmam que corrupção e dívida pública são inseparáveis - Instituto Humanitas Unisinos - IHU