26 Setembro 2020
Uma das propostas do Sínodo para a Amazônia, como consta em seu Documento Final, foi a criação de um organismo episcopal pan-amazônico, que foi concretizado na Conferência Eclesial da Amazônia – CEAMA, nascida em 29 de junho deste ano e que está em processo de aprovação no Vaticano. A primeira assembleia ordinária da nova conferência aconteceu em 25 de setembro, com a participação de seus membros nomeados e de alguns convidados.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Esta primeira assembleia da CEAMA foi definida por Dom David Martínez de Aguirre como "um evento muito importante, muito esperançoso para todos nós, porque é uma concretização de tudo o que vivemos no Sínodo". O vice-presidente da Conferência Eclesial da Amazônia lembrou que eles estão tentando colocar em ação "tudo o que colocamos em comum no Documento Final, e que o Papa, de forma tão poética e bela, concretizou nos sonhos da Querida Amazônia". Na realidade, isto é algo que já está presente, porque, segundo o bispo de Puerto Maldonado, "o Sínodo, de forma silenciosa e simples, está sendo vivido em todos os cantos da Amazônia".
Esta primeira assembleia, nas palavras do bispo dominicano, "é como tornar visível que o Sínodo está vivo, que é aquele rio da sinodalidade amazônica, de uma Igreja que se coloca do lado dos povos indígenas, de uma Igreja que quer viver sinodicamente, de uma Igreja que quer defender a Terra". Segundo Martínez de Aguirre, trata-se de "uma Igreja que quer anunciar a alegria do Evangelho, que quer anunciar Cristo como Boa Nova, como justiça e libertação para todos os povos, que isto está vivo".
Em suas palavras aos participantes, o Cardeal Cláudio Hummes agradeceu "Deus e o Espírito que nos acompanha e é o principal motor de todo este processo", ao qual acrescentou sua gratidão ao Papa Francisco, que queria que esta Conferência Eclesial da Amazônia existisse e a convidou a trabalhar, mesmo sem o reconhecimento canônico dos dicastérios. O presidente da CEAMA destacou a importância da presença na assembleia do "Povo de Deus no território, com todas as pessoas que lutam pelos direitos do povo e do Planeta". Em suas palavras, o Cardeal recordou o significado da assembleia, que "é estar com eles, ouvi-los e com eles construir o processo, o caminho, como o Papa indica", insistindo que a assembleia está "centrada no território, no povo, não em si mesma".
A assembleia realizada serviu para dar os primeiros passos rumo a um plano pastoral para toda a Pan-Amazônia, algo que, como lembrou o Cardeal Hummes, "Aparecida já nos pediu e foi acolhido pelo Sínodo, sem querer interferir na competência do bispo em sua diocese". Este plano pastoral, que deve ser concretizado nos próximos meses, recebeu as contribuições dos participantes, que serão posteriormente estudadas pelo Comitê Executivo da CEAMA. Nas contribuições foram destacados alguns elementos que deveriam estar presentes neste plano pastoral, como a sinodalidade e a eclesialidade, a ecologia integral, a conversão pastoral, a conversão missionária permanente, sempre centrada em dois elementos inalienáveis, a evangelização e a opção pelos pobres.
Diante deste novo plano pastoral, insiste-se na importância de um compromisso efetivo e afetivo com os povos originários, que se sentem cada vez mais acuados, com medo, e que clamam por uma Igreja Católica mais próxima deles e das comunidades amazônicas. Da mesma forma, não devemos esquecer as ricas experiências vividas na Amazônia e delas devemos assumir riscos, deixando-nos conduzir pela ação do Espírito, que leva a defender a Terra e a Vida tão ameaçadas nesta região, algo expresso pelo Papa em Puerto Maldonado. No nível da conversão, isto deve começar com cada evangelizador, chamado a ser sensível ao Evangelho e à realidade dos pobres e de uma Amazônia que está sendo depredada. Também se insistiu em dar vida aos documentos, na necessidade de valorizar o papel da mulher, para que ela seja mais ouvida e sua voz mais levada em conta na tomada de decisões na Igreja.
Um elemento importante é compreender a necessidade de enfatizar os processos, os itinerários, sem medir o trabalho pelos frutos, os resultados, que o Senhor lhes dá no tempo que Ele pensa que devem ser dados. Neste plano pastoral, a formação integral, o acompanhamento, o ministério, aberto às mulheres e o desenvolvimento sustentável devem estar presentes. O plano deve ser um processo de permanente discernimento vivo, onde o sensus fidei é fundamental, gerando processos de incidência, fundamentais para o desenvolvimento humano integral. É importante enfatizar a importância que a vida religiosa, entendida em termos de inserção e itinerância, pode ter nesta caminhada.
Não podemos esquecer que a CEAMA deve ser caracterizada pelo princípio de inclusão e pluralidade, que deve levá-la a buscar estilos de vida alternativos, em solidariedade, para tornar realidade uma Igreja capaz de contemplar a realidade, que promove um acompanhamento inculturado e uma formação para a encarnação. Em resumo, isto é algo novo, uma canoa que foi construída e está pronta para entrar na água e começar a velejar. Para isso será necessário buscar caminhos e linguagens comuns, especialmente com os povos amazônicos, o que ajudará a traduzir a evangelização em termos comuns a todos, o que dará valor a cada indivíduo e levará em conta as lutas dos povos, a quem é necessário acompanhar.
Como disse Dom David Martinez de Aguirre, "esta assembleia nos serviu para retomar e tentar marcar as prioridades de todo o rio de palavras que foram pronunciadas no Sínodo, destes sonhos que o Papa Francisco delineou para nós". Para isso, é necessário reunir os diferentes pontos e começar a especificar quais são as prioridades que serão dadas à CEAMA, à REPAM, à REIBA, uma rede de educação intercultural bilíngue, à Universidade Católica Amazônica, ao Observatório Socioambiental, ligado ao CELAM, como nos lembrou o vice-presidente da CEAMA. Neste sentido, ele disse que "nem todas as prioridades que foram estabelecidas no Sínodo devem ser tornadas operacionais ou executadas diretamente pela CEAMA".
Sabendo que existem algumas prioridades que a CEAMA tem que assumir, Dom David propõe "priorizar por onde vamos começar, quais são os pontos que dizem respeito ou não à CEAMA e como ela vai articular tudo o resto com as outras redes, os outros organismos, com as jurisdições e as conferências nacionais". O próximo passo será a realização de uma assembleia plenária, cuja convocação foi aprovada por unanimidade. Esta assembleia acontecerá nos dias 26 e 27 de outubro, como um lembrete daquele evento muito importante que foi o Sínodo para a Amazônia e que encerrou naquelas datas em Roma.
De acordo com o vice-presidente da CEAMA, esta assembleia plenária "queremos que ela nos sirva de alguma forma para começar a nos organizarmos, para marcar um caminho para nós, um ano de trabalho por grupos, por comissões, pois vamos realizar estas prioridades". Espera-se reunir virtualmente 250 participantes, entre eles todos os bispos da Pan-Amazônia, representantes da Vida Religiosa, dos povos originários, do mundo urbano e camponês, da Cáritas, da REPAM, bem como alguns convidados.
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Conferência Eclesial da Amazônia - CEAMA. “Tornar visível que o Sínodo está vivo”, objetivo da Primeira Assembleia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU