28 Agosto 2017
Os ataques que o atual governo brasileiro está realizando contra o patrimônio público transformaram-se em tônica geral. O último capítulo desta triste novela aconteceu na semana que passou, com a promulgação, na última quarta-feira, de um decreto que libera a exploração mineral em uma área de quase 47 mil quilômetros quadrados entre os Estados do Pará e Amapá, em plena floresta amazônica, com a alegação de que as atividades vão contribuir para a recuperação econômica cada vez mais distante.
A reportagem é de Luis Miguel Modino, publicada por Religión Digital, 27-08-2017. A tradução é de André Langer.
Amazônia (Foto: Periodista Digital)
Trata-se de uma reserva criada em 1984, e na qual existem grandes jazidas de ouro, ferro, manganês, tântalo e outros metais. A exploração mineral estará unida, sem dúvida alguma, à da madeira e, uma vez devastada a floresta, à pecuária.
Juntamente com a diversidade natural, rica em diversas espécies animais e vegetais, os grandes prejudicados serão os povos indígenas que habitam a região, que verão como eles perdem os direitos conquistados na Constituição de 1988, apesar das promessas do presidente Temer – em quem já ninguém mais acredita – que disse que serão respeitadas as normas de preservação ambiental, visão que foi contestada por especialistas brasileiros e de diversos países, quem preveem que os efeitos da atividade mineral serão sentidos de forma nefasta.
A Igreja católica também se manifestou contra esta medida do governo. A diocese de Macapá, em uma nota assumida pelo clero e por líderes leigos, com a que se busca “o melhor para o nosso povo, principalmente os mais fragilizados”, partindo das palavras da Laudato Si’, em seu número 189, defende que “a política não deve submeter-se à economia”. Por isso, não duvidam em afirmar que a liberação da atividade de mineração vai colocar em risco a preservação do bioma amazônico, dos povos da região e dos recursos hídricos, aumentando os conflitos pela terra.
A diocese de Macapá também critica “a falta de diálogo com a população local e os organismos de proteção” por parte do governo e convoca “todos os cristãos a se unirem na defesa da Casa Comum, como nos pede o Papa Francisco”.
Dom Flávio Giovenale, bispo de Santarém, diocese à qual, junto com Macapá, pertence o território em questão, disse, em uma entrevista à edição brasileira da Rádio Vaticano, que a decisão “nos pegou totalmente de surpresa”, pois, segundo o bispo, “ninguém suspeitava e ninguém esperava que uma das reservas mais antigas do Brasil pudesse ser aberta à exploração mineral e agrícola, de madeira”.
De acordo com dom Giovenale, ao interesse comercial junta-se o interesse político, “porque é uma resposta ao apoio que a bancada do agronegócio e do poder mineral deu na luta contra o pedido de impeachment do presidente Temer. Ele está agora pagando o apoio que recebeu para se manter no poder”. A consequência será “o aumento de doenças e um verdadeiro massacre cultural. O receio é que em poucos anos, aquelas populações percam a sua autonomia”.
Por isso, na opinião do bispo de Santarém, é necessário pressionar, “porque o ouro é importante para a economia de um país e para as empresas mineradoras, mas a vida é mais importante”.
Na mesma linha pronunciou-se o bispo de Marabá, diocese que também está encravada na região amazônica, dom Vital Corbellini, que não duvida em perguntar-se: “até quando vão acontecer os desmandos contra a natureza e a vida dos povos indígenas?” Por isso, afirma que, “como pessoas de Igreja e que acreditam em Jesus Cristo, não podemos aceitar esses desmandos que vão contra a vida do próprio ser humano”.
Em sua nota, dom Corbellini faz um alerta sobre as consequências da mudança climática, manifestadas na região em que vive na seca, nas altas temperaturas, na falta de chuvas e no baixo nível dos rios. Ao mesmo tempo, recorda que “o Papa Francisco fala de cultura ecológica, que não pode ser reduzida a uma série de respostas urgentes e parciais aos problemas que vão surgindo em consequência da degradação ambiental”, assim como aquilo que disse a Igreja do Brasil nas últimas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora, que assinala que “a exploração inescrupulosa e a consequente devastação da Amazônia exige da Igreja no Brasil maior responsabilidade por esta macrorregião”, o que deve levar a uma “presença profética, valorizando as culturas locais e estimulando uma evangelização inculturada”.
Sem dúvida, estamos diante de um grave risco de aniquilamento de uma das regiões melhor preservadas do Planeta, provocando consequências sem retorno. As reações da Igreja do Brasil, através das notas de quem vive sua fé nesta região, são um sinal de profecia e de que a conversão ecológica à qual somos chamados pelo Papa Francisco requer este tipo de atitude firme.
(Foto: Periodista Digital)
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Amazônia. A Igreja no Brasil contra “a exploração inescrupulosa” do governo Temer - Instituto Humanitas Unisinos - IHU