06 Agosto 2020
“Passaram-se sete anos, e as reformas estruturais da Igreja nunca chegaram”, escreve Consuelo Vélez, teóloga colombiana, em artigo publicado por Religión Digital, 05-08-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Com a chegada do papa Francisco ao pontificado em 2013, novos ventos chegaram à igreja. Começou a se respirar um ar mais descomplicado nas formas externas e se viu um Papa mais próximo do povo. Sua linguagem simples e sem pretender dizer a última palavra, abriu muitas portas de aceitação porque convidava a escutar e a se enriquecer com a visão dos outros. Sua proximidade aos pobres – tão em consonância com o essencial do evangelho – reivindicou o discurso teológico latino-americano e a porção da Igreja que sempre esteve mais comprometida com eles. Não se voltou a escutar condenações contra teólogos e teólogas, mas, pelo contrário, os recebeu no Vaticano.
É verdade que para um setor da Igreja mais “oficial” essa figura do Papa foi chocante e estes preferem não falar muito sobre ele – somente o necessário porque não podem demonstrar sua não adesão ao Papa. Também os grupos mais conservadores que surgiram nas últimas décadas sentem-se incomodados com este Papa porque não centra o seu discurso no que eles tanto cuidam: o culto, a moral, a norma, etc. Os que estão bem impressionados são os afastados da Igreja ou os não crentes, os quais não se interessavam por nenhum pontífice anterior e, no entanto, Francisco despertou esse interesse e o viram como alguém mais capaz de compreender o mundo atual.
Porém, passaram-se sete anos e as reformas estruturais da Igreja nunca chegaram. O Conselho de Cardeais que nomeou o Papa ao início de seu pontificado para responder às necessidades de reforma dentro da igreja, começando por revisar a constituição apostólica Pastor Bonus (texto legislativo publicado por João Paulo II em 1988, que regula a composição e competência dos distintos departamentos e organismos da Cúria Romana), não parece terminar seus trabalhos.
Os sínodos sobre a família, os jovens e sobretudo o da Amazônia despertaram muitas expectativas porque se deu em um processo de consultas muito valioso que permitiu apresentar aos padres sinodais temas da atualidade. Porém, as exortações pós-sinodais de Francisco depois destes acontecimentos, ainda que com aspectos muito valiosos, não modificaram a práxis eclesial. A exortação Querida Amazônia (2020) foi a mais recente e os comentários sobre ela ainda ressoam, muito mais pela situação de pandemia que vivemos atualmente e que não pode deixar de se relacionar com o cuidado com a “casa comum”. Porém, o documento ficou “sem sabor” no “quarto sonho” – o eclesial – no qual se esperavam alguns passos em relação aos padres casados ou o diaconato das mulheres. Porém, não foram dados, mais que isso, aparecem retrocessos.
O diaconato feminino parece ser um tema que está cada vez mais atolado, apagando aquele momento tão significativo em que as Superioras Gerais, reunidas em sua assembleia plenária em 2016, disseram a Francisco: “Santo Padre, na Igreja existe o ofício do diaconato permanente, porém está aberto somente aos homens, casados ou solteiros. O que impede a Igreja de incluir mulheres entre os diáconos permanentes, assim como ocorria na Igreja primitiva? Por que não criar uma comissão oficial que possa estudar o tema?”. E o Papa respondeu que formaria uma comissão oficial porque seria bom para a Igreja esclarecer esse ponto. É incrível que seja tão difícil esclarecer um ponto sobre o qual já existem tantos documentos, com tão bons e sólidos fundamentos, para se dar um passo adiante.
E a recente publicação da instrução “A conversão pastoral da comunidade paroquial ao serviço da missão evangelizadora da Igreja” (julho de 2020) da Congregação para o Clero, e aprovada por Francisco, começa abrindo caminhos de esperança para uma renovação paroquial e, porém, passados os primeiros parágrafos, o documento está centrado no que diz o Direito Canônico sobre vários aspectos relacionados com as paróquias, porém, especialmente, chama a atenção o interesse por deixar claro que o pároco tem que ser presbítero e isso sem nenhuma exceção (n.66). Tudo que foi dito pelo Papa sobre a sinodalidade na igreja está ausente, a palavra nem sequer aparece.
Poderiam ser apontadas muitas outras coisas, porém o objetivo não é fazer uma avaliação do feito pelo Papa, mas sim aprofundar na pergunta: chegará a tão esperada reforma eclesial? Pessoalmente, creio que não. Porém, desejo, sinceramente, equivocar-me. A nós, restará a boa experiência de poder atender a seu magistério e a alguns de seus discursos nos quais chama as coisas pelo nome – clericalismo, economia que mata, lugar para a mulher na Igreja, povo de Deus, igreja em saída, etc. – e a recordar muitas de suas atitudes – que foram muito especiais e evangélicas –, porém me parece que teremos de seguir aguentando por muito mais tempo a estrutura eclesial tão rígida e tão cheia de temos, que não se arrisca a ser uma igreja em saída, uma igreja missionária, uma igreja povo de Deus, onde clérigos, laicato, vida consagrada vivem a corresponsabilidade da missão evangelizadora e nela apostam tudo, por se parecer cada vez mais com a Igreja que Jesus queria.
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Não parece haver avanços na ‘urgente’ reforma da Igreja. Artigo de Consuelo Vélez - Instituto Humanitas Unisinos - IHU