06 Junho 2020
A crise sanitária alterou o status quo do mundo e o debate nos países ocidentais gira sobre o mesmo ponto. Reabrir muito lentamente as quarentenas e frear a economia por um tempo maior que o necessário. Reabrir muito rapidamente e correr o risco de uma nova onda de contágios que exija quarentenas ainda mais rigorosas.
A reportagem é de Federico Kucher, publicada por Página/12, 31-05-2020. A tradução é do Cepat.
Os governos devem tomar uma decisão que não é simples: são milhões de pessoas atravessadas por essa interrogação. Mas a intuição - e até mesmo algumas contas econômicas - sugere que é melhor ser moderado e ir devagar do que errar no timming reabrindo imprudentemente as atividades não essenciais.
O paper “O distanciamento social é importante?”, da Universidade de Chicago, fornece algumas pistas. O objetivo é medir em termos monetários o impacto da quarentena. A conclusão dos pesquisadores é que a perda no PIB devido à interrupção de atividades não essenciais é compensada com o benefício econômico de ter salvado vidas graças ao isolamento.
A lógica desses estudos é semelhante à usada nas avaliações de custo-benefício para recomendar ou não a implementação de um projeto de investimento. Nesse caso, os benefícios são equivalentes aos custos evitados de cada morte causados pela pandemia.
Colocado em outras palavras, o que a sociedade poupa por salvar vidas supera em termos monetários o que se perde ao fechar indústrias não prioritárias. A ideia de colocar um preço na vida humana é chocante. Mas é uma maneira de combater os argumentos econômicos dos analistas com pressa em abrir a quarentena.
Em sua última coluna no The New York Times, Paul Krugman analisa esses modelos e até cita outros estudos de caso para justificar as medidas de isolamento. Não se limita a essas pesquisas, mas propõe em palavras simples algo que nenhum modelo econômico pôde expressar com tanta clareza: “Para que serve aumentar o PIB, se te mata?”.
Na semana passada, houve outros economistas de prestígio mundial que também tiveram ideias interessantes para tentar pensar nas questões da pandemia, com destaque para a coluna dos estudiosos Abhijit Banerjee e Esther Duflo, no semanário The Economist.
O primeiro é um pesquisador nascido na Índia e a segunda é uma pesquisadora da França. No ano passado, receberam o Prêmio Nobel por seu trabalho sobre a pobreza. O objetivo do artigo é poderoso: argumentam que a prioridade deve ser a saúde e mostram antecedentes para garantir que a economia, uma vez terminada a crise de saúde, se recuperará antes do que se pensa.
“Uma pandemia é algo semelhante aos bombardeios durante uma guerra: o impacto na economia é causado principalmente por forças externas. Então, podemos esperar que ocorra algo similar”, mencionaram. Acrescentaram que “a velocidade com a qual a Alemanha, o Japão, a Grã-Bretanha e a França se recuperaram, após a Segunda Guerra Mundial, permite observar a tendência das economias de mercado em retornar ao seu desempenho anterior”.
Os pesquisadores mencionaram que a lógica se aplica a todos os países. “Essa recuperação não é apenas uma característica das economias avançadas. Durante a Guerra do Vietnã, o país foi submetido a mais intensa campanha de bombardeio da história, a um custo humano e econômico massivo. E mais uma vez, no ano 2000, não havia diferença na pobreza, infraestrutura e capital físico e humano entre as áreas que foram bombardeadas e as que não”.
Os economistas esclareceram que existe certo consenso sobre as medidas fundamentais que devem ser tomadas até o surgimento da vacina ou de um retroviral:
1. Evitar o colapso do sistema de saúde, durante o pico da epidemia.
2. Apoiar financeiramente cidadãos vulneráveis por meio de transferências monetárias incondicionais e quase universais, para que a quarentena seja suportável (e factível).
3. Avaliar o vírus de maneira sistêmica, em um número suficiente de pessoas, para determinar quando e onde a reabertura é possível.
Em seguida, argumentam que a recuperação, principalmente nos países subdesenvolvidos, deve ser aprimorada com a reedição de um novo Plano Marshall pós-Covid-19. Este último parece fundamental na América Latina. Os países da região - independentemente de terem aplicado um isolamento mais ou menos rigoroso - registrarão um colapso de suas economias este ano.
O último relatório do Instituto de Finanças Internacionais recalculou suas projeções do Produto Interno Bruto para a região. Em abril, afirmavam que o Brasil cairia 4,1%, em 2020. Agora, estimam que retrocederá em 6,9%. Na Colômbia, a recessão esperada passou de 2,5% para 5,4%, no Chile, de 3,8% para 4,4%, e no México, de 5,8% para 8,7%. “Esperamos uma contração extraordinariamente profunda na região”.
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“Para que serve aumentar o PIB, se te mata?” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU