26 Mai 2020
“O cuidado da natureza faz parte de um estilo de vida que implica capacidade de viver juntos e de comunhão. Jesus lembrou-nos que temos Deus como nosso Pai comum e que isto nos torna irmãos”. Relançando a hashtag #LaudatoSi5 com um tuíte na conta @Pontifex no sábado, 23 de maio, o papa praticamente sancionou a sua adesão ao “Ano Especial” dedicado à encíclica “sobre o cuidado da casa comum”, que começou nesse domingo, 24, no quinto aniversário da assinatura do documento.
A reportagem é publicada por L’Osservatore Romano, 23-05-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Organizado pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, o evento jubilar terminará no mesmo dia em 2021, com uma cerimônia de premiação para diferentes categorias de pessoas engajadas em projetos de ação individual e comunitária, voltados a promover boas práticas nesse âmbito.
Introduzido pela “Semana Laudato Si’”, celebrada de 16 a 24 de maio – durante a qual Francisco tuitou todos os dias um pensamento para a reflexão sobre o tema – o Ano Especial é concebido como um momento de graça, uma experiência de kairós, um tempo de Jubileu para a Terra, para a humanidade e para todas as criaturas de Deus.
E, na densa agenda de iniciativas marcadas para recordar a urgência da “conversão ecológica”, a primeira foi o dia de “Oração Comum” pelo planeta e pela humanidade, no domingo, 24, festa da Bem-Aventurada Virgem Maria Auxiliadora.
Afinal, explica o Dicastério em um comunicado de imprensa, a urgência da situação exige respostas imediatas, holísticas e unificadas em todos os níveis: local, regional, nacional e internacional, especialmente através de um “movimento popular” de baixo, uma aliança entre todas as pessoas de boa vontade que – como o próprio Papa Francisco recorda no n. 14 da encíclica – colaboram “como instrumentos de Deus, no cuidado da criação, cada um a partir da sua cultura, experiência, iniciativas e capacidades”.
Até porque esse quinto aniversário ocorre no auge de um momento decisivo, marcado pela pandemia do coronavírus que revelou como a humanidade está profundamente interconectada e interdependente. Por isso, a mensagem da Laudato si’ pode realmente fornecer – de acordo com o Dicastério ao qual também foi confiada a liderança da Comissão Vaticana Covid-19 – a bússola moral e espiritual na viagem rumo à recriação de um mundo mais atento, fraterno, pacífico e sustentável; uma oportunidade única para transformar o atual lamento e trabalho de parto em um novo modo de viver juntos pelos homens e mulheres, unidos no amor, na compaixão e na solidariedade, e em uma relação mais harmoniosa com a natureza.
Ao chamar a atenção para o estado cada vez mais precário do ambiente, o documento assinado pelo Papa Bergoglio em 2015 revelou-se profético. Até porque, nestes cinco anos, múltiplas “brechas do planeta em que habitamos” – nas palavras da Laudato si’ (n. 163) – foram se ampliando: das calotas polares que derretem no Ártico, aos furiosos incêndios que devastam a Amazônia, mas também a Austrália; das condições climáticas extremas em todas as latitudes até níveis sem precedentes de perda de biodiversidade. Todos sinais de dano evidentes demais para serem ignorados.
Pelo contrário, é necessária uma resposta concreta às interrogações levantadas pelo Papa Francisco sobre que tipo de mundo deixar para as gerações futuras (LS 160). É um imperativo moral, especialmente para as populações mais pobres, primeiras vítimas da atual degradação, a cujo grito desesperado não é mais possível permanecer indiferente.
E, como concebido pelo Setor de Ecologia dentro do Dicastério, o Ano Especial, nesse sentido, visa a propor um compromisso público comum com a “sustentabilidade total”, a ser realizado por um período mais longo – sete anos – envolvendo famílias, dioceses, escolas, universidades, hospitais e estruturas de saúde, mundo dos negócios e rural, ordens religiosas.
O Dicastério espera, em particular, uma maior utilização de energia renovável limpa e uma redução dos combustíveis fósseis; um maior acesso à água limpa para quem não a tem; a defesa de todas as formas de vida na Terra; a atenção a grupos vulneráveis como as comunidades indígenas, os migrantes, as crianças em risco de escravidão; a produção sustentável; o comércio justo e solidário; consumos e investimentos éticos. E, em um nível mais individual, recomenda-se a adoção de estilos de vida simples: sobriedade no uso dos recursos e da energia, evitar o plástico descartável, adotar uma dieta mais vegetal e reduzir o consumo de carne, uma maior utilização do transporte público do que os poluentes.
Por fim, o Dicastério também fornece indicações no campo educacional e formativo, sugerindo diretrizes para uma espiritualidade ecológica que parta da recuperação de uma visão religiosa da criação de Deus, passando pelo incentivo ao contato com o mundo natural em uma atitude de admiração, louvor, alegria e gratidão, a serem expressados com celebrações litúrgicas e desenvolvendo catequeses, orações e retiros sobre o tema da proteção ambiental.
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Um Jubileu para a Terra - Instituto Humanitas Unisinos - IHU