14 Fevereiro 2020
"'Sertão', ser tão ingênuo é o indivíduo que está achando que a obra do Canal do Sertão Baiano trará disponibilidade hídrica para a região Norte da Bahia (Senhor do Bonfim e região), principalmente para o pequeno agricultor", escreve Almacks Luiz Silva, agente da CPT Ampliada, Tecnólogo de Gestão Ambiental e especialista de Residência Agrária em Processos e Inovações Tecnológicas no Semiárido, em artigo publicado por EcoDebate, 12-02-2020.
"Sertão", ser tão ingênuo é o indivíduo que está achando que a obra do Canal do Sertão Baiano trará disponibilidade hídrica para a região Norte da Bahia (Senhor do Bonfim e região), principalmente para o pequeno agricultor.
Ambas as versões são pensadas com águas do Velho Chico e esqueceram de consultar “Pedro”. E como São Pedro não atende daqui para lá, nem mesmo por WhatsApp. Se assim fosse, nos informaria se vai liberar muita água (chuva) e aumentar a capacidade da Barragem de Sobradinho, que em tese, armazenaria essa água em quantidade para suprir a demanda necessária da capital do Estado (Salvador) e a maior cidade do interior da Bahia (Feira de Santana), além de diversas outras cidade que compõem o Sistema Pedra do Cavalo.
Pedro, para quem conhece a Bíblia, não é tão bom para quem age com propostas indecorosas entre esse lado e o lado de lá. Principalmente, quando envolve a mãe natureza, como bem explica o Papa Francisco em sua Laudato Si', maio de 2015, sobre o cuidado da casa comum. Na Bíblia, em João 18.10, sabe-se que “Nesse momento, Simão Pedro, que portava uma espada, puxou-a da bainha e feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha direita”.
Não vamos de maneira nenhuma radicalizar como Simão Pedro fez naquele momento e naquela circunstância, porém precisamos tomar atitudes firmes. Mesmo aprovado, esse projeto do Canal do Sertão Baiano em 2015, com supostas audiências públicas, sem convidar principalmente os pequenos agricultores, proprietários ou posseiros que serão desalojados para a passagem do canal.
Traçado? O traçado está pronto desde o ano de 2015 segundo o estudo. Você, pequeno agricultor, sabe por onde vai passar mesmo esse traçado? Já lhe consultaram? Já lhe fizeram a suposta proposta de indenização? Já lhe disseram que vão dividir a sua propriedade no meio, prática conhecida tecnicamente como fracionamento de área? Já lhe disseram que para construir um canal tipo trapezoidal, que é citado no projeto, bloqueiam uma área de mais ou menos 100 metros de largura para que após a obra as áreas laterais fiquem como área de servidão para manutenção da obra? E como esse canal é cercado e vigiado você não terá como se comunicar com um lado e outro do que restar de sua pequena propriedade. Enfim, já disseram que você não terá direito ao uso dessa água diretamente em sua pequena propriedade?
Então, vamos falar um pouco do que seria o projeto inicial Eixo Sul da Transposição e do estupro que fizeram com o projeto original transformando-o em Canal do Sertão Baiano, com a clareza e evidência de que esqueceram o déficit hídrico do Norte da Bahia e irão usar a região Norte da Bahia apenas para levar as águas do Velho Chicoo para Salvador, Feira de Santana e várias outras cidades da Região Metropolitana de Salvador – RMS e do entorno, por onde passa a transposição da Bacia Hidrográfica do Rio Paraguaçu para a Bacia Hidrográfica do Recôncavo Norte Inhambupe.
O Eixo Sul foi inserido na Transposição do Rio São Francisco (capacidade prevista de 57 m3/s) para definitivamente abastecer algumas Bacias tributárias intermitentes da margem direita do Rio São Francisco, como Curaçá, Macururé e principalmente as Bacias Hidrográficas do Rio Salitre, Rio Vaza Barris, Itapecuru e parte da Bacia do Paraguaçu [1], via Rio Jacuípe e também para barrar, na época, a resistência dos movimentos populares (contra a transposição) e para fazer frente aos Canais Alagoanos, Canal do Xingó, Platô de Neópolis e adutora, que leva água para Aracajú, inserção de canais em Pernambuco pelos dos Eixos, além do Projeto de Irrigação Nilo Coelho que tem sua captação no lago de Sobradinho e enfim a explotação (retirada) de água da Bacia para os estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
O Projeto consistia em construir uma captação na margem esquerda do Lago de Sobradinho, com dois túneis e quatro Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCH, dando autonomia e sustentabilidade ao Projeto. Com a crise, alteraram o Projeto e como já existe uma captação para o Projeto de Irrigação do Salitre, irão fazer um “puxadinho” no canal que vem da Estação de Bombeamento – EB1 até a EB3 e daí sairá um canal trapezoidal diretamente para a Barragem de Ponto Novo. De Ponto Novo outro canal direto para a Barragem de Pedras Altas e por fim, as águas do Velho Chico chegariam à Barragem de São José do Jacuípe e essa passaria o seu vertimento e, consequentemente, essas águas chegariam à Barragem de Pedra do Cavalo no rio Paraguaçu, onde já existe uma transposição para a capital do estado e a cidade de Feira de Santana. Tenho minhas dúvidas se essa perna de canal será construída da Barragem de Pedras Altas, no município de Capim Grosso, para a Barragem de São José do Jacuípe.
Já existe um Sistema Integrado, conhecido como Sistema Adutor do Sisal, construído no governo de João Durval Carneiro para levar as águas de São José do Jacuípe para a região do sisal, que falhou na gestão de armazenamento dessa Barragem e atualmente tem um problema seríssimo de salinização. Para resolver o problema, construíram um Sistema levando as águas da Bacia Hidrográfica do Itapicuru a partir da Barragem de Pedras Altas até o Sistema Adutor do Sisal e, recentemente, em 2018, foi feito outro Sistema interligando as Barragens de Ponto Novo a Pedras Altas.
No projeto desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE e ACQUATOOL Consultoria, levava-se em conta a missão de solucionar a seca no Norte da Bahia, uma das regiões mais secas do Brasil. É claro, se tivesse água no Rio São Francisco ou se tivessem consultado Pedro. Não o Pedro Molinas, hidrólogo da ACQUATOOL, e sim o São Pedro.
O Projeto previa 417,1 km de canais e aquedutos; 5,3 km de túneis; além das 04 PCHs citadas; 128 açudes e barragens, dessas 79 existentes; 14 projetadas e 35 identificadas, a exemplo: Barroca do Faleiro, Espanta Gado, Gaspar, Lagedo, Abreus, Cocorobó, Bela Vista, Passagem, Jacurici, Tabua e etc.
Assim, a região Norte da Bahia teria coeficiente hídrico e cumpriria a profecia do Beato Conselheiro “O sertão vai virar mar”. E o São Francisco seria como o de Assis, que dá e recebe, pois caso venha a morrer, não terá direito a Vida Eterna.
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Eixo Sul da Transposição do Rio São Francisco x Canal do Sertão Baiano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU