05 Fevereiro 2020
O Trabalho da Igreja católica com os povos originários na Amazônia atinge, além da dimensão pastoral, tudo aquilo que ajuda ao desenvolvimento social das comunidades, especialmente dos jovens. Um exemplo disso tem sido as 4ª Olimpíadas Indígenas do Eware, que durante a última semana de janeiro reuniu 770 jovens na comunidade indígena de Belém do Solimões, município de Tabatinga, na Tríplice Fronteira entre o Brasil, a Colômbia e o Peru.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Jovens Indígenas, Ticuna, Cocama, Wuitoto, Cambeba, Caixana, de 40 comunidades, que fazem parte de 6 municípios do Brasil, junto com grupos chegados da Colômbia e o Peru, viveram e competiram ao longo de seis dias, mostrando o vigor da vida indígena e fraternidade entre povos, países e igrejas diferentes, segundo os organizadores do evento, os capuchinhos de Belém do Solimões. Os religiosos destacam que os objetivos do encontro foram conseguidos, destacando que o envolvimento de adolescentes e jovens no esporte como mecanismo de vida. Nesse sentido, cabe destacar entre os objetivos o fortalecimento nas tradições das diversas culturas indígenas através de modalidades específicas e apresentações culturais, e junto com isso, a consciência da pertença a terra sagrada e as tradições passadas pelas gerações.
(Fotos: Luis Miguel Modino)
O Documento Final do Sínodo para a Amazônia, no número 36, nos diz que “a comunidade eclesial deve estar presente nos espaços de participação de políticas públicas onde são articuladas ações para revitalizar a cultura, a convivência, o ócio e a celebração”. Dentro do chamado à conversão, o capítulo III fala sobre novos caminhos de conversão cultural, fazendo um chamado a “se fazer presentes, respeitar e reconhecer seus valores, viver e praticar a inculturação e a interculturalidade em nosso anúncio da Boa Nova” (nº 41). As Olimpíadas indígenas podem ser vistas como um momento em que tem se favorecido a cultura do encontro, um desafio colocado pelo Sínodo para a Amazônia, assim como uma aposta na defesa das culturas, pois “a Igreja faz opção pela defesa da vida, da terra e das culturas originárias amazônicas” (nº 78).
Segundo O bispo local, Dom Adolfo Zon, que se fez presente em alguns momentos ao longo das Olimpíadas, este evento, que acontece a cada dois anos, junto com o festival da canção dos povos indígenas, são “dois acontecimentos que visam envolver a juventude dos diferentes povos para, de uma maneira inculturada, poder oferecer espaços onde a juventude possa expressar a sua criatividade e, sobretudo, resgatando aqueles elementos dos seus povos tradicionais que podem ajuda-los a preservar toda a riqueza, toda a cultura destes povos”.
A paróquia de Belém do Solimões, uma paróquia criada para acompanhar o povo tikuna no ano 1972, nos últimos anos vem desenvolvendo um trabalho que tenta inculturar a fé nesta cultura tikuna. Nesse sentido, podemos dizer que nessa paróquia, como acontece em outros locais da Amazônia, são vivenciados elementos que tem estado presentes na reflexão do Sínodo para a Amazônia. É grande o esforço no cuidado da liturgia e catequese inculturada, com religiosos capuchinhos que falam a língua local e fazem um trabalho de inculturação do Evangelho.
Tudo isso é trabalhado, segundo o bispo local, “nos encontros de formação, que acontecem duas vezes por ano com todas as lideranças e agentes de pastoral”. Esses encontros também acontecem com os jovens, “com o propósito de poder se ajudar e enfrentar os desafios próprios da Tríplice Fronteira, especialmente o combate às drogas e um maior aprimoramento, que vise um desenvolvimento em nível intelectual, seja no ensino básico e superior, nas universidades presentes na Tríplice Fronteira”, insiste Dom Adolfo Zon. Segundo ele, “este evento vem dar possibilidades e criar as condições para que o povo tikuna seja também sujeito da sua história”.
Nesse sentido, os organizadores do evento, que contou com a apoio das paróquias e da diocese de Alto Solimões, além de diversas instituições da região, reconhecem que “mostrou como algo visível a unidade no mundo indígena e todos os valores desta cultura”. Segundo eles, “a competição promove a união, a vitória reafirma o compromisso com a vida, a derrota motiva para um aprimoramento para outros eventos”. Além dos resultados e premiações alcançadas, todos destacam que o sorriso e a alegria eram visíveis em todos, consequência da emoção pelo resultado conseguido, com momentos de emoção, visível nos olhos e nas lágrimas. A organização não duvida em agradecer profundamente o empenho de todos os jovens atletas vitoriosos pela forma como se empenharam e estiveram durante as Olimpíadas, enfatizando que “a vida indígena em seu vigor através do esporte saiu com grande vitória!”.
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Olimpíadas Indígenas no Alto Solimões, um compromisso da Igreja no cuidado dos povos originários - Instituto Humanitas Unisinos - IHU