19 Dezembro 2019
Para viabilizar a usina, que teria investimentos de R$ 5 bilhões, seria necessário cobrir uma área de 96,3 km² de floresta em uma região que é marcada por unidades de conservação.
A reportagem é de André Borges, publicada por O Estado de S. Paulo, 19-12-2019.
A estatal Eletronorte apresentou um novo estudo de impacto ambiental ao Ibama, na tentativa de avançar com o projeto da hidrelétrica Tabajara, prevista para ser erguida na Amazônia, barrando as águas do rio Ji-Paraná, na região de Machadinho do D’Oeste, em Rondônia. A usina é estudada desde a década de 1980 e já foi alvo de várias tentativas de licenciamento, mas nunca conseguir avançar, por causa de sua alta complexidade ambiental.
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(Fonte: O Estado de S. Paulo)
Prevista para ter capacidade de 400 Megawatts (MW) de geração, o que daria para abastecer uma cidade de 1,4 milhão de habitantes, como Porto Alegre (RS), a hidrelétrica Tabajara foi um dos dois empreendimentos energéticos anunciados em agosto pelo presidente Jair Bolsonaro.
Os estudos da hidrelétrica foram entregues no fim do mês passado. Duas semanas atrás, o Ibama acatou o pedido da estatal controlada pelo Grupo Eletrobrás e já declarou que o material está em condições de ser analisado pela área técnica. O Ibama pediu ainda que a empresa apresente os locais onde pretende realizar audiências públicas sobre o projeto, para que possa publicar o edital, abrindo prazo que os encontros possam ocorrer.
Para viabilizar a usina, que teria investimentos da ordem de R$ 5 bilhões, seria necessário cobrir uma área de 96,3 km² de floresta amazônica, em uma região que é marcada por unidades de conservação ambiental. “Começaram a fazer um projeto sem ouvir uma única vez a população local, os povos indígenas da região, que não têm a menor ideia do que vai acontecer”, diz Artur Moret, professor da Universidade Federal de Rondônia, que acompanha de perto o projeto.
Moret chama a atenção ainda para o fato de que os novos estudos deixaram de abordar os impactos sobre os povos indígenas Arara-Gavião e Parintintins, além de grupos isolados que vivem na região.
A construção de novas hidrelétricas na Amazônia está parada há seis anos, depois de uma série de empreendimentos erguidos na floresta durante os governos do PT. O cenário deve-se não apenas às dificuldades de licenciamento ambiental, mas às crises econômicas, crescimento moderado de consumo de energia e investimentos em outras fontes, como as eólicas. Os últimos leilões do governo para construção de grandes hidrelétricas na região ocorreram em 2013, quando o governo licenciou, por exemplo, a construção da hidrelétrica de São Manoel, no rio Teles Pires, divisa entre o Mato Grosso e do Pará.
A região de Machadinho d’Oeste é uma das áreas da Amazônia que mais sofrem com o desmatamento irregular e ocupações ilegais de terra. O projeto, que já chegou a figurar na lista de empreendimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), está há anos no papel, mas não avança por conta de dificuldades de licenciamento ambiental.
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Projeto da área alagada da usina (Fonte: www.ppi.gov.br/uhe-tabajara-ro)
Além da hidrelétrica Tabajara, o governo também se movimenta para licenciar a hidrelétricas Bem Querer, em Roraima, onde também há diversos impedimentos ligados a unidades de conservação e terras indígenas. Nos últimos meses, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao Ministério de Minas e Energia, também retomou os estudos da usina. Bem Querer, que teria potência de 650 megawatts (MW), inundaria uma área de 519 km², formando um lago maior que o de Belo Monte, no Pará.
A íntegra da reportagem pode ser lida aqui.
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Eletronorte insiste em usina na Amazônia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU