04 Dezembro 2019
No final de sua assembleia geral anual, os bispos da América Central defenderam o Papa Francisco em meio ao que eles disseram ter sido ataques falsos e hostis após o Sínodo dos Bispos na Amazônia, em outubro.
A reportagem é de Elise Harris, publicada por Crux, 02-12-2019. A tradução é de Natália Froner dos Santos.
Eles também defenderam um melhor atendimento aos migrantes e refugiados, criticando as novas leis de imigração adotadas pelo governo mexicano, influenciadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que exigiu políticas anti-imigração severas.
Em sua declaração, assinada em 28 de novembro, os bispos agradeceram a Francisco pelo Sínodo da Amazônia, chamando-o de “um evento eclesial que colocou os olhos do mundo nesta vasta área, que exige um grande esforço evangelizador e força colossal para poder implementar as muitas necessidades de uma ecologia integral”.
Apontando para numerosas comunidades indígenas que vivem na Amazônia, os bispos insistiram que eles “têm o direito de receber o anúncio de Jesus Cristo e seu reino, seguindo novos caminhos”.
Por causa da atenção dedicada a essas comunidades e dos “novos caminhos” para sua evangelização, “não surpreende que o Santo Padre tenha sido objeto de ataques virulentos e insultuosos, atormentados por mentiras e calúnias”, disseram os bispos.
Feita no final da assembleia episcopal da América Central e do Panamá (SEDAC), em 25 e 29 de novembro, em Heredia, Costa Rica, a notável demonstração pública de solidariedade ao Papa ocorreu após as duras críticas que ele recebeu quando da realização do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, de 6 a 27 de outubro.
Durante a reunião, Francisco foi acusado por muitos católicos conservadores de promover a adoração de ídolos, especificamente da “Pachamama”.
Figura de fertilidade feminina que representa a Mãe Terra, a Pachamama é venerada pelas comunidades indígenas nos Andes e partes da Amazônia. Durante o sínodo, o termo foi usado em referência a pequenas figuras de uma mulher grávida nua que apareceram durante um serviço de orações indígenas, em 4 de outubro, nos jardins do Vaticano, em que Francisco compareceu, e que depois foram expostas na Igreja em Roma de Santa Maria in Traspontina perto do Vaticano.
Foto: NCR
Desde o início, católicos tradicionalistas e conservadores argumentaram que os símbolos representavam idolatria pagã, enquanto os entusiastas de Francisco insistiam que as estátuas representavam uma fé própria da cultura, usando símbolos locais para refletir as realidades do evangelho.
Em 21 de outubro, as estatuetas foram roubadas da Igreja de Traspontina e jogadas no rio Tibre. As figuras foram posteriormente recuperadas pela polícia italiana e o Papa pediu desculpas pelo roubo, no entanto, as polêmicas criadas pela situação estão longe de terminar.
Em sua declaração, publicada em 28 de novembro, os bispos enviaram ao Papa “uma calorosa expressão de nossa solidariedade e a promessa de nossa oração, para que o Espírito Santo ilumine e sustente você em seu ministério”.
Eles também sinalizaram várias preocupações urgentes com o catolicismo na América Central, como a proteção de menores e os vários conflitos que assolam o continente latino-americano.
“Acreditamos, com preocupação, que nosso continente está queimando. Vários países da América Latina estão passando por situações dolorosas repletas de violência e diferentes formas de intolerância”, disseram eles, e fizeram menção especial à deterioração da situação na Nicarágua, dizendo que estão “extremamente” preocupados com a violência em curso no país.
Eles também levantaram a questão da migração forçada como um grande desafio a ser enfrentado, observando que atualmente existem centenas de migrantes retidos na fronteira México-Guatemala que não conseguem entrar no México devido a um conjunto de novas e rigorosas leis de imigração.
“Lamentamos a atitude do governo mexicano, que transformou sua política de portas abertas em uma política anti-migrantes e anti-refugiados, como o atual governo norte-americano”, disseram os bispos, criticando o que chamaram de “Desrespeito ao princípio da não repulsão no caso de requerentes de asilo que fugiram de seus países de origem”.
Em grande parte, devido à pressão do governo dos EUA sobre a questão da imigração, o México ajustou sua política sobre o assunto, passando de uma abordagem promissora para ajudar os migrantes a uma ação militarizada ameaçadora contra os infratores.
Em maios, quando Trump ameaçou tarifas incapacitantes sobre todas as importações mexicanas, o governo do país intensificou os esforços para dissuadir os migrantes, muitas vezes fugindo da violência e da pobreza, ao cruzar sua fronteira. Uma nova Guarda Nacional foi implantada para supervisionar os postos de controle de rodovias em rotas comuns de migrantes, e as empresas de ônibus foram instruídas a não vender passagens para passageiros sem documentos.
Até agora, mais de 40.000 migrantes que procuram asilo nos EUA foram enviados de volta ao México para aguardar o processo avançar. Enquanto isso, a Associated Press informa que os escritórios estaduais da agência de imigração do México receberam cotas para o número de detenções de migrantes que eles precisam fazer.
A mudança nas políticas do México despertou medo de que algumas leis mais rígidas levem a um número crescente de migrantes presos em perigosas cidades de fronteira, o que significa que eles podem ser vítimas mais facilmente de criminosos e optar por pagar contrabandistas para atravessar a fronteira ilegalmente.
Diante dessa situação, “devemos enfaticamente reafirmar que migrantes e refugiados são nossos irmãos que merecem ajuda, porque têm o direito ao respeito, proteção aos cuidados e à segurança”, disseram os bispos, acrescentando que continuarão a defender, proteger e fornecer as necessidades básicas dos migrantes.
Eles instigaram todos os fiéis católicos “a vencer a tentação da indiferença, da discriminação e da xenofobia. Todo migrante é nosso irmão.”
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“Pachamama” e o Sínodo da Amazônia. Bispos da América Central defendem Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU