As religiões na cidade plural

Papa Francisco durante encontro inter-religioso em Bangladesh / Foto: Vatican News

Mais Lidos

  • "A ideologia da vergonha e o clero do Brasil": uma conversa com William Castilho Pereira

    LER MAIS
  • O “non expedit” de Francisco: a prisão do “mito” e a vingança da história. Artigo de Thiago Gama

    LER MAIS
  • A luta por território, principal bandeira dos povos indígenas na COP30, é a estratégia mais eficaz para a mitigação da crise ambiental, afirma o entrevistado

    COP30. Dois projetos em disputa: o da floresta que sustenta ou do capital que devora. Entrevista especial com Milton Felipe Pinheiro

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

26 Novembro 2019

Conhecimento, diálogo, respeito, junto com convivência comum e fraternidade: a relacionalidade é o elemento de convergência positiva que as tradições morais desenvolvidas por diferentes perspectivas religiosas podem oferecer à sociedade civil.

Sobre esses temas se apresentarão em Pádua representantes de cristianismo, judaísmo, islamismo, hinduísmo e budismo no ciclo de encontros Para onde vai a moral?, um percurso em quatro etapas, de novembro a fevereiro, fruto da já consolidada colaboração em temas éticos entre a Faculdade Teológica do Triveneto, a Fundação Lanza e o empenho sócio-político da diocese de Pádua.

A entrevista é de Paola Zampieri, publicada por Settimana News, 23-11-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

Viver juntos, na cidade plural. Éticas e religiões, para a convivência, é o título dessa nova edição, focada na presença plural das religiões e nos desafios que isso lança para o crescimento do ethos civil.

O primeiro encontro será realizado na quinta-feira, 28 de novembro, às 17, na Faculdade Teológica do Triveneto. Sobre o tema A face do outro: entre judaísmo e cristianismo, dialogarão Miriam Camerini (diretora de teatro e estudiosa do judaísmo) e Simone Morandini (Fundação Lanza e Instituto de Estudos Ecumênicos de San Bernardino di Venezia), que coordena o ciclo e que entrevistamos.

Eis a entrevista.

Professor Morandini, a presença plural das religiões está se tornando cada vez mais visível em nossas cidades. Como podemos valorizar a contribuição positiva que ela pode trazer para o crescimento do ethos civil?

Essencial, em primeiro lugar, é reconhecer a riqueza dessa pluralidade cultural e religiosa para a convivência civil. O modelo da cidade monolítica, homogênea em todos os aspectos, está repleto de uma intolerância, que felizmente me parece estar sendo superada. Pelo contrário, entendemos sempre melhor a importância do conhecimento mútuo, para além dos estereótipos e dos preconceitos fáceis: a face do outro, quando nos dirigimos a ele com serenidade, revela-se plena de positividade para a vida comum.

Como a pluralidade pode se tornar um recurso para a convivência?

Junto com o conhecimento, o diálogo é fundamental, no qual nos questionamos reciprocamente para entender melhor os elementos nos quais a diferença se mostra mais evidente. Pode ser um diálogo no plano intelectual (conhecimento das diferentes tradições), mas também prático, da vida cotidiana: quanta pluralidade positiva é cultivada em um belo jantar multiétnico! Sabedorias e sabores têm muito em comum, como Miriam Camerini nos ensinará na primeira etapa do curso.

Quais são os âmbitos em que os crentes de fé diferentes podem encontrar elementos comuns? E o que eles podem compartilhar?

Esse é um tema delicado: como observa Claudio Monge (responsável do Centro Cultural Dominicano Dosti, de Istambul), o diálogo inter-religioso não vale apenas quando chega a identificar elementos de convergência, mas também onde nos permite compreender em suas positividades elementos da vivência do outro que não posso compartilhar. Diferença e semelhança são muitas vezes entrelaçadas: o horizonte religioso da compaixão budista é diferente daquele da misericórdia cristã, mas ambos defendem atitudes empáticas e de atenção em relação ao sofrimento alheio.

O que as tradições morais desenvolvidas pelas diferentes perspectivas religiosas podem oferecer à convivência civil?

Nesse nível, há elementos comuns tão preciosos que devem ser valorizados: um estilo de respeito pelo outro, uma atitude positiva em relação à convivência inter-humana e das estruturas que a regulam, o respeito pelo mundo natural, o sentido do limite que reconhece o não se bastar a si mesmos. Poderíamos resumir tudo isso indicando - como o Papa Francisco faz na Laudato Si' - a relacionalidade como elemento de positiva convergência.

Que palavras e práticas podem ser compartilhadas para um diálogo construtivo e um discernimento moral?

Parece-me que indicações de grande importância provêm do documento assinado em 4 de fevereiro passado em Abu Dhabi pelo Papa Francisco com o grande imã de Al-Azhar Ahmad Al-Tayyeb, dedicado à convivência comuns e à fraternidade. Duas noções de extrema importância, que pedem para serem pensadas e praticadas, também como critério de discernimento para enfrentar aquelas situações problemáticas, que sem dúvida se apresentam em diferentes contextos.

Qual é a característica do curso deste ano?

O curso 2019-2020 pretende dialogar com diferentes tradições religiosas (judaísmo, islamismo, hinduísmo e budismo), a fim de explorar justamente as potencialidades morais em relação à convivência civil. Testemunhas e estudiosos de diferentes tradições religiosas ajudarão os participantes a explorar a riqueza de mundos diferentes, através do jogo das diferenças e das semelhanças.

Leia mais