25 Outubro 2019
Após a morte de seu amigo Octavio Paz, Homero Aridjis, é o maior poeta mexicano, com uma vasta bibliografia, que inclui quarenta e nove livros entre poesia e romance. E, como Paz e Neruda, também foi diplomata, embaixador de seu país na Suíça, na Holanda e na Unesco. À sua atividade literária, sempre aliou aquela de tenaz ativista das luas pelo meio ambiente "contra a arrogância de uma sociedade votada a um lucro cego que não poupa nada e ninguém".
A entrevista é de Renato Minore, publicada por Il Messaggero, 23-10-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Foi e continua a ser o símbolo da salvaguarda da borboleta monarca, o tigre alado que corre o risco de se extinguir nas matas e colinas ao redor de Michoacan, no México central, onde antes que a região se tornasse famigerada pelos cartéis de drogas, por milênios milhões desses misteriosos e belos espécimes convergiam do Canadá e dos Estados Unidos. Arijdis está na Itália e no sábado, 26 de outubro, receberá o prêmio internacional L'Aquila-Bper, que anteriormente foi para Evtuscenko, Zach, Takano, Walcott, Yang Lian e Ben Jelloun.
E ele logo fala do compromisso ecológico, intimamente fundido com a palavra poética: "Os interesses políticos econômicos subjacentes à predação ambiental são enormes. Por causa de minhas lutas, recebi ameaças de morte, tive que enfrentar muitos obstáculos e fui censurado em muitas ocasiões como escritor por políticos, desde que fundei o Grupo dos Cem, a organização de intelectuais e artistas pelo nosso direito de respirar ar puro e beber água limpa".
Foi a sua poesia que o envolveu no problema ambiental ou o problema ambiental se insinuou e transformou seus versos?
Defender as causas ambientais como as da minha borboleta-monarca, as minhas tartarugas marinhas e as minhas baleias cinzentas continua sendo um impulso, um sonho, uma necessidade da minha existência. Como perseguir para sempre as criaturas dos nossos sonhos de criança. Yeats disse que nos sonhos começa a responsabilidade, e para mim não há nada mais forte e ainda mais convincente do que essa prioridade.
Você espera que outros seres humanos possam salvar a paisagem de nossa infância da depredação de nossos semelhantes?
A ecologia é como poesia, deve incluir e envolver todos. Não faço quase nenhuma distinção entre poesia e ecologia, fazem parte de um único louvor à criação, à natureza da vida. Indistinguíveis uma da outra.
O que você pensa do que Greta Thunberg diz e faz?
Greta foi muito importante porque difunde a causa ecológica inclusive entre as crianças e os jovens. Seu discurso tem caráter urgente, com o pedido para agir agora e imediatamente acusando os governantes e as corporações de roubá-la do futuro. A sua voz é a voz de uma geração, tempestiva e corajosa: por esta razão, começa a ser furiosamente contestada.
Donald Trump poderá estar interessado na proteger a borboleta monarca ou seu desprezo pelos migrantes também se estenderá às espécies migratórias?
Trump é um analfabeto ambiental, cultural, moral, deve ser educado. É contra tudo que migra, seres humanos e espécies. Sem estar ciente disso, é contra seus ancestrais, que vieram ao Novo Mundo em busca de oportunidades. Nos éons cósmicos, é uma bolha e como uma bolha desaparecerá.
Você argumentou que precisamos de uma Corte internacional ambiental para a denúncia dos ecocídios. Bolsonaro deve ser levado a juízo?
É urgente, necessário e fundamental a constituição de uma tribunal ambiental internacional para processar criminosos ambientais como Bolsonaro, Evo Morales e aqueles que produzem bombas nucleares, diretores de empresas que poluem terra e oceanos, lagos, rios e ar. Um grande fermento de humanidade readquirida e de consciência ecológica é sempre mais que necessário, os eventos recentes dizem que estamos nos encaminhando por essa trilha. Longa, difícil, incerta.
I Tempi dell’Apocalisse (Os tempos do Apocalipse, em tradução livre) é um romance de denúncia de atos atrozes, com um final imprevisível: "Tudo é como o sonho de outro". Essa é a sua convicção como poeta e como homem?
O Apocalipse já começou e é ambiental, durará séculos, talvez milênios. No meu livro, do qual Luis Buñuel quis extrair seu testamento cinematográfico, escrevi: O Apocalipse será obra do homem, não de Deus, e não será escrito no livro do Apocalipse. Vivemos ameaçados por milhares de bombas nucleares.
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"A ecologia é como a poesia: um louvor único à criação" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU