07 Junho 2019
“Não tenho nada contra o fato de que, no futuro, a Igreja possa repensar uma modificação da disciplina sobre a obrigatoriedade do celibato para aqueles que aspiram ao ministério presbiteral. Obviamente é o papa quem vai decidir os tempos e as modalidades. A pressa e os fechamentos mentais não ajudam nesse sentido.”
A reportagem é de Giovanni Panettiere, publicada por Quotidiano.net, 03-06-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
São cada vez mais numerosos os bispos que, in camera caritatis, são favoráveis a se ter padres casados e também celibatários no Ocidente. O arcebispo Giovanni Richiudi, 70 anos, ordinário de Altamura-Gravina-Acquaviva delle Fonti e presidente de Pax Christi, rompe as delongas e pede o início de uma reflexão a esse respeito.
A ocasião para essa declaração do ex-reitor do Pontifício Seminário Regional da Puglia “Pio XI” foi a carta ao papa escrita pela Vocatio, a associação dos sacerdotes casados.
Visa-se à readmissão ao ministério daqueles presbíteros, casados, que querem voltar a presidir a missa. Qual é a sua opinião?
Acredito que, assim como após o duplo sínodo sobre a família, a Igreja iniciou um processo de discernimento sobre o acesso à comunhão dos divorciados em segunda união, seria bom se se fizesse o mesmo com esses padres. Sou da opinião de que é preciso avaliar caso a caso.
Já lhe aconteceu de um sacerdote casado lhe pedir para voltar ao trabalho?
Sim, lembro-me de pelo menos dois casos. Mas eu lhes respondi que, como bispo, não podia acolher positivamente esse desejo. A um deles, eu aconselhei que escrevesse ao papa. Não sei se ele fez isso depois.
Antigamente, esses sacerdotes eram considerados uma espécie de traidores, porque haviam falhado no seu compromisso no momento da ordenação.
Eu conheço muitos presbíteros casados. E sempre me pergunto: quem sou eu para julgá-los?
Não seria mais simples admitir, assim como ocorre nas Igrejas Católicas orientais, a presença de um clero celibatário ou uxorado?
Nas reuniões internas entre nós, bispos, somos muitos aqueles que defendem essa conclusão. O tema do celibato facultativo também foi levantado no Concílio Vaticano II, mas Paulo VI advogou para si a questão, e não se fez nada.
O Papa Francisco também declarou recentemente que não se sente apto a modificar uma regra já milenar.
Eu fiz um voto de obediência ao pontífice. Então, se ele pretende adiar, eu me atenho às suas indicações.
Mas, no seu coração, o senhor gostaria de uma solução diferente?
Acredito que o modelo da Igreja Ortodoxa, que permite o matrimônio a um candidato ao diaconato e depois ao sacerdócio antes de receber a ordem sagrada, pode ser um caminho viável.
Em outubro, o Sínodo especial sobre a Amazônia poderia dar luz verde à ordenação dos chamados viri probati, homens casados de fé certa e comprovada.
Sou favorável a essa solução, que eu aplicaria de forma generalizada. Ao lado de um clero celibatário dedicado completamente à vida religiosa, haveria presbíteros de tempo parcial que poderiam fazer a sua contribuição em uma situação de grave carência de sacerdotes.
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''O celibato não pode ser um dogma'', afirma arcebispo italiano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU