31 Mai 2019
O modelo econômico de crescimento constante deve mudar. Isso é defendido pelos cientistas do Instituto de Ciência e Tecnologia (ICTA-UAB) e da Universidade Goldsmiths de Londres (GUL, sigla em inglês), que acreditam que as políticas de crescimento verde não servem para enfrentar a emergência ecológica e que a redução das emissões só é compatível com um decrescimento econômico.
A reportagem é publicada por Público, 28-05-2019. A tradução é do Cepat.
Os professores Jason Hickel (GUL) e Giorgos Kallis (ICTA-UAB) produziram um estudo científico que examina as políticas de crescimento verde, tal como se articulam nos principais relatórios do Banco Mundial, da OCDE e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
O estudo, intitulado Is Green Growth Possible? (O crescimento verde é possível?) foi publicado pela revista New Political Economy e põem em prova essa corrente política em relação às evidências empíricas existentes, e os modelos da relação entre o PIB e a pegada material e as emissões de CO2.
O relatório considera inviável que possa haver uma "dissociação absoluta do PIB do uso de recursos" e indica que, embora alguns modelos mostrem que ele poderia ser alcançado em países com altos rendimentos sob condições altamente otimistas, "mas não realistas", isso não pode se sustentar a longo prazo.
Estes resultados partem dos níveis de crescimento existentes, cerca de 2-3% ao ano, e indicam que seria possível alcançar reduções absolutas no uso de recursos com um crescimento do PIB inferior a 1% ao ano. "No entanto, para obter reduções rápidas o suficiente para atingir limiares seguros, seriam necessárias estratégias decrescentes", concluem os pesquisadores.
Em referência às emissões de CO2, os autores duvidam que seja possível reduzir as emissões com rapidez suficiente para manter um "orçamento" de carbono que permita um aumento na temperatura do planeta abaixo de 1,5º C ou 2º C, segundo o Acordo de Paris.
Pesquisadores indicam que as reduções de emissões em consonância com os 2°C "só são viáveis se o crescimento do PIB mundial for reduzido para menos de 0,5%" e afirmam que as reduções para 1,5ºC "só são viáveis em um cenário de decrescimento".
"Em outras palavras, embora precisemos de todas as intervenções políticas do governo e toda a inovação tecnológica que possamos alcançar, qualquer tentativa bem-sucedida de alcançar reduções de emissões adequadas exigirá uma redução proporcional na demanda global de energia", concluiu Kallis.
A conclusão dos pesquisadores é que "as políticas de crescimento verde carecem de apoio empírico" e questionam "a legitimidade" dos esforços do Banco Mundial e da OCDE em promover o crescimento verde como uma saída de emergência ecológica.
"Qualquer programa de políticas baseado em pressupostos de crescimento verde, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, necessita ser revisto com urgência", alerta o estudo.
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Cientistas defendem um “decrescimento" econômico para enfrentar a crise climática - Instituto Humanitas Unisinos - IHU