24 Mai 2019
Humildade, comunhão, renúncia, para libertar-se das tentações do eficientismo, do mundanismo e do culto a si mesmo. E daquela péssima tendência de preocupar-se mais com os programas do que com as pessoas. O Papa Francisco celebra a missa na Basílica de São Pedro na abertura da 21ª Assembleia Geral da Caritas Internacionalis sobre o tema: "Uma família humana, uma casa comum". O evento, inspirado na Laudato si', será realizado em Roma até o próximo dia 28 de maio.
A reportagem foi publicada por Vatican Insider, 23-05-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na missa com os participantes, liderados pelo cardeal presidente Louis Antonio Tagle, o Papa pede discernimento: "Não diante do computador, mas diante da realidade das pessoas". "Pessoas antes dos programas, com o olhar humilde de quem sabe buscar nos outros a presença de Deus, que não habita na grandeza daquilo que fazemos, mas na pequenez dos pobres que encontramos", diz o Pontífice. "Se não olharmos diretamente para eles, acabamos sempre olhando para nós mesmos; e para torná-los instrumentos de nossa afirmação”.
Bergoglio alerta contra a "tentação do eficientismo", isto é, "pensar que a Igreja vai bem se tiver tudo sob controle, se viver sem solavancos, com a agenda sempre em ordem, tudo regulado ...". O Senhor, porém, não procede assim: “Jesus não quer que a Igreja seja um modelo perfeito, que fique se comprazendo por sua própria organização e seja capaz de defender o seu bom nome. Pobres daquelas Igrejas particulares que se afobam tanto na organização, nos planos, tentando ter tudo claro, tudo distribuído. Isso me faz sofrer”, acrescenta, de improviso, o pontífice. "As questões não se enfrentam com a receita pronta" e "a fé não é uma tabela de horários, mas um ‘caminho’ a ser percorrido juntos, sempre juntos, com espírito de confiança".
Além disso, precisamos da "coragem da renúncia", prossegue o papa. Os primeiros cristãos abandonaram tradições e preceitos religiosos importantes: "A identidade religiosa estava em jogo". No entanto, “escolheram que o anúncio do Senhor vem em primeiro lugar e vale mais do que tudo. Para o bem da missão, para anunciar a todos, de forma transparente e credível, que Deus é amor, mesmo aquelas convicções e tradições humanas que são mais um obstáculo que uma ajuda, podem e devem ser abandonadas”.
Nós também precisamos redescobrir juntos essa "beleza da renúncia", "acima de tudo de nós mesmos", diz o papa. "Deus purifica, Deus simplifica, muitas vezes faz crescer tirando, não acrescentando, como nós faríamos. A fé verdadeira purifica dos apegos. Para seguir o Senhor é preciso andar rápido e para andar rápido é preciso aliviar-se do peso, mesmo que isso custe”.
Atenção então ao hábito de "bancar a onça", ou seja, "fingir mudar algo quando na realidade nada é mudado". Isso, explica Francisco, acontece "quando, para tentar acompanhar os tempos, maquia-se um pouco a superfície das coisas, mas é apenas maquiagem para parecer jovem. O Senhor não quer ajustes cosméticos, quer a conversão do coração, que passa pela renúncia. Sair de si mesmo é a reforma fundamental”.
O papa fala depois de humildade: "Quando cresce o interesse pelos outros, aumenta o desinteresse por si mesmo", ressalta. “A humildade nasce quando, em vez de falar, se escuta; quando se deixa de estar no centro. Depois cresce através das humilhações”.
Em particular, o Papa Bergoglio pede para ficar de “ouvido atento para os pequenos": "É sempre importante ouvir a voz de todos, especialmente dos pequenos e dos últimos. No mundo, aqueles que têm mais meios falam mais, mas entre nós não pode ser assim, porque Deus ama se revelar através dos pequenos e dos últimos", afirma o Papa." Ele pede a todos que não olhem para ninguém de cima para baixo. É lícito olhar para uma pessoa de cima para baixo apenas para ajudá-la a se levantar; só nesta situação, senão não se pode”.
Finalmente, o Papa Francisco conclui com um apelo à unidade, contra "as vozes do diabo e do mundo que levam à divisão". "Na discussão da primeira Igreja, a unidade sempre prevalece sobre as diferenças. Para cada um, em primeiro lugar, não estão as próprias preferências e estratégias, mas sim ser e sentir-se como a Igreja de Jesus, reunida em torno de Pedro, na caridade que não cria uniformidade, mas comunhão”.
E no Evangelho Jesus pergunta: "Fique no meu amor". Como se faz isso? "Devemos ficar perto dele", explica o Papa. "Ajuda-nos ficar diante do tabernáculo e diante de tantos tabernáculos vivos que são os pobres. A Eucaristia e os pobres, tabernáculo fixo e tabernáculos móveis: ali se permanece no amor e se absorve a mentalidade do Pão partido".
"Pedimos ao Senhor - é a oração final do Bispo de Roma - que nos liberte do eficientismo, do mundanismo, da sutil tentação de render culto a nós mesmos e à nossa bondade, da obsessiva organização. Pedimos a graça de acolher o caminho indicado pela Palavra de Deus: humildade, comunhão, renúncia".
Apresentando na manhã desta quinta-feira na Sala de Imprensa do Vaticano a Assembleia Geral, o cardeal Tagle - que, no final do seu primeiro mandato quadrienal, será renovado como presidente da entidade durante os cinco dias em Roma - explicou que o objetivo principal é "destacar a responsabilidade de todos como seres humanos, como irmãos e irmãs", como a única "família humana" que compartilha a "casa comum".
O Papa Francisco na Laudato si’ insistiu nisso: ecologia integral, ecologia humana e também ecologia ambiental, não uma contra a outra, mas juntas. Esta é a experiência da Cáritas", declarou o arcebispo de Manila. E sobre as mulheres acrescentou: "Não há discurso adequado sobre a humanidade sem a dignidade humana das mulheres". Não por acaso, são três as mulheres candidatas ao cargo de secretário geral da Caritas Internationalis, na sucessão de Michel Roy, que deixa, após oito anos, o cargo.
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Francisco: é injusto que no mundo quem tem mais recursos fale mais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU