24 Abril 2019
"Uma página muito triste para o meu país e para a comunidade cristã que aí vive. Meus pensamentos são para os mortos e suas famílias. Eu, no entanto, prestaria muita atenção antes de falar sobre conflito religioso. Os massacres ainda não possuem uma matriz clara. Hoje, o terrorismo internacional é globalizado e muitas vezes o objetivo daqueles que cometem esses massacres não é outro senão provocar justamente um conflito religioso. Não devemos cair nessa armadilha”.
Cingalês, do clero de Badulla, uma cidade não muito distante de Colombo, atualmente na Cúria Romana como subsecretário do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, D. Indunil Janakaratne Kodithuwakku coordena, especialmente após a morte do Cardeal Jean-Louis Tauran, as relações com o mundo budista em nome de Francisco.
Com o jornal Repubblica comenta sobre as explosões ocorridas no Sri Lanka, "eventos que cortam aquela esperança que havíamos recuperado após o fim da guerra civil em 2009".
A entrevista é de Paolo Rodariin, publicada por la Repubblica, 23-04-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Causa-lhes preocupação que no dia da festa de Páscoa centenas de cristãos tenham sido massacrados?
Claro. E assim, infelizmente, acontece silenciosamente em diferentes partes do mundo, com algumas classes de governo que arbitrariamente não falam sobre as vítimas cristãs. Mas é necessário entender bem o que está por trás do que aconteceu. Não houve ataques aos cristãos durante a guerra civil. Esta é a primeira vez que isso aconteceu. Por quê? A resposta deve ser procurada com calma.
Barack Obama escreveu que as vítimas são "Easter worshippers", essencialmente "aqueles que santificam a Páscoa", e não fala de cristãos. Você considera esta visão das coisas correta?
Não podemos negar que as vítimas sejam pessoas cristãs. Mas, ao mesmo tempo, devemos evitar generalizações e não culpar uma religião se um pequeno grupo étnico ou religioso realiza atos similares.
O que está acontecendo ultimamente?
Certamente alguém quer desestabilizar um país que com muita dificuldade está reencontrando um caminho para a coexistência e paz. A economia do Sri Lanka está se recuperando; depois destes dias tudo será mais difícil também nesse sentido.
Que país é o Sri Lanka?
É um país multiétnico. Há budistas, hindus, muçulmanos e cristãos. Infelizmente, é fácil incitar um grupo contra o outro se você quiser minar a harmonia. É por isso que é necessário insistir ainda mais no diálogo inter-religioso. São as religiões que podem mover as consciências e servir de contenção contra aqueles que fazer provocações com tamanho descaramento.
A suposição islâmica foi a primeira a surgir entre as hipóteses tanto pelos métodos adotados em outros ataques atribuídos a grupos extremistas sunitas, quanto pelo precedente atentado de 3 de agosto de 1990, quando um comando atacou a mesquita Kattankudy, no distrito tâmil de Batticaloa matando 147 fiéis. O que pensa a respeito?
É difícil responder. O ministro da Defesa, Ruwan Wijewardene, descreveu os ataques como "um incidente terrorista", deixando a suposição islâmica aberta. Eu me manteria a essas palavras por agora. Não podemos dizer se tudo seja por causa de um conflito interno, também porque as próprias religiões presentes têm adeptos de diferentes grupos étnicos. A população tâmil, por exemplo, é predominantemente de religião hindu, mas também é composta de significativas minorias cristãs e muçulmanas. Eu realmente convidaria à prudência, esta é também a posição da Santa Sé no momento.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Sri Lanka. "Meu país martirizado. Tem gente querendo desencadear uma guerra de religião" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU