22 Fevereiro 2019
"A soberania da Amazônia está ameaçada pelo desejo de implantação de bases militares estrangeiras na região, pelos saques feitos por grupos empresariais e pela ação de narcotraficantes; pelos grandes projetos que insistem em querer adequar a Amazônia aos seus interesses bilionários; pela decisão histórica de submeter a Amazônia à condição de subdesenvolvimento e de determinar institucionalmente o código de subgente aos povos amazônicos".
O alerta é de Ivânia Vieira, professora da Universidade Federal do Amazonas, doutora em comunicação, articulista do Jornal A Crítica - Manaus e co-fundadora do Movimento de Mulheres solidárias do Amazonas (Musas) e do Fórum de Mulheres Afroamerindias e Caribenhas.
Os encontros pré-sínodo para a Amazônia são a parte mais rica do sínodo de outubro, em Roma. Tornaram-se laboratórios espetaculares de experiências de vida, percepções de realidades e de ensaios criativos das existências amazônicas.
São neles que os povos pan-amazônicos se fazem representados e acionam leituras inovadoras das amazônias que habitam, dos dilemas e dos encantamentos nos quais estão mergulhados. No movimento pré-sínodo, o coro de vozes dessa pan-amazônia profunda percorre distâncias, atravessa rios gigantes e sobe mais alto que a copa da samaumeira; e, tal qual a flor desta árvore, se espalha em bailado firme, diverso, cheio de esperança, diverge, harmoniza, propõe.
Até agora, a pergunta a rondar nossas cabeças era sobre o tamanho da disposição das autoridades eclesiais em acolher os tesouros produzidos nesses encontros. Se a Igreja vier a dizer sim estaria sinalizando para mudanças significativas. Assumiria aquilo a que se propôs neste desafio sinodal – ter um rosto amazônico. Há resistências no Brasil e em Roma na aceitação do chamado e, na correlação de forças, o colégio de cardeais abriga os votos que irão decidir os rumos da ação evangelizadora da Igreja Católica para além da vontade pessoal do Papa Francisco.
O governo brasileiro ao se pronunciar, por meio do ministro-chefe do gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, demonstra mais uma vez o que parece vir se constituindo no gosto ministerial pela espetacularização. Os sucessivos pronunciamentos e frases nessa direção, por parte de uma parcela crescente do primeiro escalão governamental, começam a soar como estratégia para desviar a atenção das questões centrais que deveriam mobilizar as energias e o tempo dos ministros. O general Heleno acaba de entrar para o time de produtores de atritos e tensões pelo viés mais descabido.
A soberania da Amazônia está ameaçada pelo desejo de implantação de bases militares estrangeiras na região, pelos saques feitos por grupos empresariais e pela ação de narcotraficantes; pelos grandes projetos que insistem em querer adequar a Amazônia aos seus interesses bilionários; pela decisão histórica de submeter a Amazônia à condição de subdesenvolvimento e de determinar institucionalmente o código de subgente aos povos amazônicos; por negar o direito das juventudes e das crianças amazônicas, das mulheres.
O encontro formal de Roma aprovará documentos na direção de outra evangelização considerando os resultados da medição de forças dentro da própria Igreja, uma igreja com seu corpo de autoridades, parte dele conservador e românico, e outra que se faz no exercício do laicato mais progressista. A Amazônia necessita de uma Igreja que a assuma o seu eito de ser em diversidade, cosmologias, desafios, complexidade e cuidados. Isto foi dito em 1972, em Santarém, no Pará, e reafirmado em outros documentos. A série de encontros na Amazônia brasileira e na Pan-Amazônia até à realização da grande assembleia proporciona a elaboração de novas propostas que aguardarão ser ouvidas, sentidas e encarnadas pela Igreja Viva.
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