03 Outubro 2018
Pesquisa da Fiocruz traça pela primeira vez o perfil da saúde do idoso, o uso dos serviços de saúde, as limitações funcionais, as causas de hospitalizações, entre outras condições sociais que vão permitir aprimorar as políticas públicas.
A reportagem é de Alexandre Penido, publicada por Agência Saúde/AFN, 02-10-2018.
No Dia Nacional e Internacional do Idoso, celebrado na segunda-feira (1º/10), o Ministério da Saúde divulgou estudo com dados inéditos sobre o perfil de envelhecimento desta população no Brasil. O Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (Elsi-Brasil) faz parte de uma rede internacional de grandes estudos longitudinais sobre o envelhecimento e traz informações sobre como a população está envelhecendo e os principais determinantes sociais e de saúde. A ideia é que esse estudo traga subsídios para a construção e adequação de novas políticas públicas para fortalecer a saúde do idoso.
O Elsi- Brasil apontou que 75,3% dos idosos brasileiros dependem exclusivamente dos serviços prestados no Sistema Único de Saúde, sendo que 83,1% realizaram pelo menos uma consulta médica nos últimos 12 meses. Nesse período, foi identificado ainda 10,2% dos idosos foram hospitalizados uma ou mais vezes. Quase 40% dos idosos possuem uma doença crônica e 29,8% possuem duas ou mais como diabetes, hipertensão ou artrite. Ou seja, ao todo, cerca de 70% dos idosos possuem alguma doença crônica.
“Nós temos que cuidar da saúde dos brasileiros desde a infância para que eles tenham uma vida cada vez mais saudável. Isso significa voltar nossas ações para uma alimentação saudável, para a promoção de atividades físicas, inibir o consumo do álcool e do tabaco, e ainda para as pessoas com idade acima de 60 anos, oportunizar o diagnóstico de doenças de forma cada vez mais precoce. É dessa maneira que podemos oferecer à nossa população um envelhecimento saudável”, afirmou o ministro da Saúde, Giberto Occhi.
O estudo apontou também que 85% da população com 50 anos ou mais vivem em área urbanas. E entre os relatos sobre os hábitos de comportamento, 43% dos idosos acompanhados pelo estudo disseram ter medo de cair na rua.
“Mais de 80% da população se diz satisfeita com a atenção que ela recebe. Então ter um sistema público de saúde universal é extremamente importante. O SUS possui bons indicadores de resolutividade, então é necessário que se preserve o sistema que é modelo para o mundo. Se você melhora a condição de saúde da população você também aumenta a longevidade no trabalho”, ressaltou a pesquisadora Maria Fernanda Lima-Costa, da Fiocruz Minas, que coordenou o estudo.
Para a realização do Elsi-Brasil foram investidos R$ 7,3 milhões. Deste total, R$ 4,2 milhões são do Ministério da Saúde e R$ 3,1 milhões do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Na primeira etapa participaram da pesquisa pessoas com 50 anos ou mais entre os anos 2015 e 2016 em 70 municípios nas cinco regiões do país. A idade de 50 anos foi utilizada devido ao interesse em analisar o período de transição do momento produtivo para o início da aposentadoria dos idosos (60 anos ou mais).
Atualmente, os idosos representam 14,3% dos brasileiros, ou seja, 29,3 milhões de pessoas. E, em 2030, o número de idosos deve superar o de crianças e adolescentes de zero a quatorze anos. Em sete décadas, a média de vida do brasileiro aumentou 30 anos saindo de 45,4 anos, em 1940, para 75,4 anos, em 2015. O envelhecimento da população tem impactos importantes na saúde, apontando para a importância de organização da rede de atenção à saúde para a oferta de cuidados longitudinais.
As doenças crônicas não transmissíveis atualmente afetam boa parte da população idosa. De acordo com pesquisas anteriores promovidas pelo Ministério da Saúde, 25,1% dos idosos tem diabetes, 18,7% são obesos, 57,1% tem hipertensão e 66,8% tem excesso de peso. Também são responsáveis por mais de 70% das mortes do país.
O Ministério da Saúde lançou pela primeira vez documento para orientar a implementação de linha de cuidado integral às pessoas idosas no SUS. O documento colocado em consulta pública em 2017 e finalizado em 2018 contribui para a garantia do bem-estar desta população. O objetivo é que o profissional de saúde deixe de olhar somente para o cuidado da doença e invista na necessidade dos idosos, a partir do diagnóstico de vulnerabilidades sociais, nível de independência e autonomia e estilo de vida, considerando alimentação, prática de exercícios e prevenção de quedas, hábitos de saúde e histórico clínico.
“Para melhorar a saúde do idoso temos focado muito na qualificação da atenção primária com a capacitação e atualização dos profissionais. Principalmente para que eles tenham um olhar diferenciado voltado às necessidades da população idosa, uma vez que o processo de envelhecimento é rápido e ainda temos desafios a serem superados. Estamos preparando o sistema público de saúde para as causas que geram maior vulnerabilidade dessa população”, ressaltou a coordenadora da Saúde do Idoso do Ministério da Saúde, Cristina Hoffmann.
Com esse novo olhar mais humanizado o Ministério da Saúde elaborou este documento com orientações técnicas para que os gestores municipais e estaduais possam construir e implementar essa linha de cuidado da pessoa idosa. Essa iniciativa deve organizar a Rede de Atenção à Saúde, o que significa qualificar o acolhimento, evitar internações desnecessárias e preservar a capacidade funcional do paciente. Além disso, a linha de cuidado vai possibilitar que o profissional de saúde identifique precocemente e monitore os casos de doenças crônicas como hipertensão, diabetes e melhore também o controle e o rastreio de doenças e agravos como depressão, demência e quedas.
O Ministério da Saúde também oferta gratuitamente a nova Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa, que após passar por atualização permite conhecer as necessidades de saúde dessa população atendida na Atenção Básica. As informações contidas nesse documento passarão a ser inseridas no Prontuário Eletrônico. Pela Caderneta é possível identificar o comprometimento da capacidade funcional, condições de saúde, hábitos de vida, vulnerabilidades, além de apresentar orientações para o autocuidado como alimentação saudável, atividade física, prevenção de quedas, sexualidade e armazenamento de medicamentos. Em 2017 foram distribuídos 3,9 milhões de exemplares aos municípios, com um investimento de R$ 2,9 milhões. Em 2018, mais 3 milhões de unidades devem ser entregues.
Também é ofertado gratuitamente no Google Play, pelo Ministério da Saúde, um aplicativo desenvolvido em parceria com a Fiocruz Brasília chamado Saúde da Pessoa Idosa. Este aplicativo reúne três ferramentas para ajudar na avaliação dos idosos identificando os mais vulneráveis.
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Pesquisa da Fiocruz aponta que 75% dos idosos usam apenas o SUS - Instituto Humanitas Unisinos - IHU