09 Agosto 2018
As últimas etapas da existência de Edith Stein se sintetizam em três nomes e em três datas.
O comentário é de Cristiana Dobner, irmã carmelita descalça e teóloga italiana. Vive no mosteiro de Santa Maria del Monte Carmelo, em Barzio, na Itália. O texto foi publicado no jornal L’Osservatore Romano, 08-08-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Amersfoort, 2 de agosto de 1942: o motorista do veículo de guerra no qual Edith e Rosa (sua irmã) foram forçadas a subir, deportadas do mosteiro na represália que se seguiu à carta dos bispos holandeses contra o nazismo, errou o caminho e, assim, chegaram tarde da noite no campo de concentração.
Westerbork: para onde foram transportadas na noite de 3 a 4 de agosto e que foi assim descrito por Etty Hillesum: “No geral, há uma grande confusão em Westerbork, quase como ao redor do último destroço de um navio ao qual se agarram inúmeros náufragos prestes a se afogar. Às vezes, pensa-se que seria mais simples ser finalmente deportado do que ter que assistir ao medo e ao desespero daqueles milhares e milhares de homens, mulheres, crianças, inválidos, dementes, recém-nascidos, doentes, idosos, quem em uma procissão quase ininterrupta, desfilam ao longo das nossas mãos prontas para ajudar”.
Auschwitz: número 44.074. Com o lacônico e burocrático comunicado: “Em 9 de agosto de 1942, na Polônia, morreu Stein, Edith Teresia Hedwig, nascida em 12 de outubro de 1891 em Wroclaw, residente em Echt”.
O jardineiro do mosteiro de Echt, um jornalista amigo e um jovem ex-deportado, se aproximaram dela nesses últimos momentos. Assim, puderam se apresentar como testemunhas oculares dos processos que abriam o caminho para a beatificação e sondavam a vida e o testemunho diante da morte certa da fenomenóloga que se tornou carmelita.
Desse modo, Edith Stein pôde ser captada ao vivo. “Ela falava com humilde segurança, a ponto de comover quem a ouvia. Uma conversa com ela (...) era como uma viagem para outro mundo. Naqueles momentos, Westerbork não existia mais (...) Ela me disse: ‘Nunca teria acreditado que os homens pudessem ser assim e (...) que os meus irmãos tivessem que sofrer tanto!’. Quando não houve mais dúvida de que ela deveria ser transportada para outro lugar, perguntei-lhe se poderia ajudá-la e (tentar libertá-la); (...) de novo ela sorriu para mim, suplicando-me que não. Por que fazer uma exceção para ela e para o seu grupo? Não se faria justiça ao tirar vantagem do fato de ser batizada! Se não pudesse participar do destino dos outros, sua vida teria se arruinado: ‘Não, não, isso não!’”.
O jornalista Van Kempen encontrou-se diante de “uma mulher espiritualmente grande e forte”. Durante a conversa, fumou um cigarro e lhe perguntou “se ela também queria um”. Ela me respondeu que “tinha feito isso uma vez e que, antigamente, quando estudante, também tinha dançado”.
O jovem sobrevivente notou um aspecto peculiar. “Ela era muito corajosa: dava as suas respostas assim como ela mesma era. Quando a SS blasfemava, ela não reagia, mas continuava sendo ela mesma. Absolutamente não tinha medo.”
Wielek, funcionário holandês, relata um diálogo em que “com segurança e humildemente” Edith Stein disse: “O mundo é formado por contrastes (...) Mas o fim não será formado por esses contrastes. Permanecerá apenas o grande amor. Como poderia ser de outro modo?”.
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No fim, permanecerá apenas o grande amor. Em memória de Edith Stein - Instituto Humanitas Unisinos - IHU