04 Julho 2018
O Miller Center for Social Entrepreneurship (Centro Miller para o Empreendedorismo Social, em português) da Universidade de Santa Clara, universidade localizada no Vale do Silício e confiada à Companhia de Jesus, direciona seu foco às crescentes necessidades globais.
A reportagem é de Heather Adams, publicada por National Catholic Reporter, 03-07-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Acima de uma delegacia de polícia na Índia, uma menina de 14 anos foi mantida atrás de grades de ferro. Ela não foi presa. Ela fazia parte de uma indústria de quase 150 bilhões de dólares: o tráfico de seres humanos.
"Eu pensei: nós temos que fazer alguma coisa sobre isso", disse Noel Thomas, CEO da Zero Trafficking (Tráfico Zero, em português), quando viu a jovem menina presa ao fazer uma viagem para o país.
Mas o tráfico de seres humanos não acontece só no exterior.
Em 2017, mais de 2.700 casos de tráfico de seres humanos foram relatados na Califórnia, Texas e Flórida de acordo com The National Human Trafficking Hotline [disque-denúncia americano de tráfico humano, nde]. O Departamento de Justiça estima que pelo menos 200.000 crianças são traficadas por ano para a indústria do sexo nos Estados Unidos, de acordo com a National Public Radio.
Quando Thomas voltou para casa, viu que os militantes contra o tráfico humano tinham que procurar manualmente sites como Backpage.com e Craigslist para encontrar postagens que apontam para sinais de tráfico.
"Então o empreendedor em mim pensou, ‘tem que haver uma maneira de usar a tecnologia para acelerar esse processo’", disse ele.
Thomas e sua equipe na Zero Trafficking agora estão tentando combater o tráfico de seres humanos através de um software de inteligência artificial chamado Cyber Trak.
Embora o software esteja em fase beta, Thomas disse que sua equipe foi capaz de encontrar e resgatar uma garota de 17 anos na Flórida usando a tecnologia.
Mas a Zero Trafficking precisa de ajuda para alcançar seu objetivo de se tornar global. A organização se aplicou para o programa de incubação Social Entrepreneurship at the Margins (SEM) do Miller Center na Universidade de Santa Clara, uma universidade jesuíta no norte da Califórnia.
O programa gratuito é inovador no modo em que está configurado, focando em ajudar empresas sociais ao redor do mundo que prestam serviços a migrantes, refugiados e sobreviventes de tráfico humano.
"Por um bom tempo eu pensei que alguns dos maiores problemas da pobreza no planeta estavam fora do alcance de abordagens do empreendedorismo social. A questão dos refugiados e a dos trabalhadores migrantes estava entre esses problemas", disse Thane Kreiner, diretor-executivo do Miller Center.
Globalmente existem 68 milhões de pessoas que foram deslocadas à força de suas casas, incluindo 25,4 milhões de refugiados, de acordo com o Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados .
Desde 2003, o Miller Center trabalhou com cerca de 900 empresas sociais em 65 países através dos programas de incubação, disse Kreiner, mas não especificamente orientado para os refugiados e o tráfico de seres humanos. Na verdade, disse Kreiner, o Miller Center não sabia se ainda haveria organizações suficientes para hospedar este tipo de programa.
Kreiner ficou agradavelmente surpreendido.
O programa recebeu mais de 100 inscrições. Dessas, 21 empresas foram selecionadas com base em atributos. A empresa deveria ter passado da fase de ideias para o de execução, e também seu modelo de negócio deveria estar bem dimensionado.
Entre as organizações estão a Zero Trafficking, a Re:Coded, que promove capacitação em programação de computadores para jovens afetados por conflitos, e a Five One Labs, que fornece treinamento intensivo e orientação para ajudar refugiados no Iraque a lançarem e desenvolverem negócios.
"Esses problemas não vão ficar menores", disse Kreiner. "Eles provavelmente vão ficar maior, e precisamos de maneiras para solucioná-los que restaurem a dignidade dos indivíduos."
A cada organização são atribuídos dois mentores executivos do Vale do Silício e dado um conjunto estruturado de aulas para ajudar a criar um forte modelo de negócio, com objetivo de se tornar pronta para investidores, disse Kreiner.
No final do programa, as organizações serão capazes de mostrar esse modelo de negócio para investidores a fim de demonstrar o impacto de sua organização. Em outubro, empresas sociais apresentarão aos investidores e a outros participantes em um evento promovido pela SEM.
O sucesso é medido pelos investimentos recebidos pelos participantes. Os 900 empreendimentos sociais com os quais o Miller Center já trabalhou, receberam mais de 580 milhões de dólares para chegarem a mais de 259 milhões de pessoas, de acordo com o site do Miller Center.
Para Zero Trafficking, o Departamento de Estado dos EUA faz um relatório anual do tráfico e uma tabela dos países. Seu objetivo é quantificar os resultados e levá-los para países que estão em conflito. A partir daí, os países podem traçar objetivos específicos e têm as ferramentas necessárias para sair dessa lista e extinguir o tráfico de seres humanos.
É um grande objetivo, mas Thomas está confiante de que com a ajuda do Miller Center sua organização ficará pronta.
"Acho que é de grande valor para uma start up ganhar esses recursos educacionais, os mentores e ter acesso aos recursos que podem a ajudar entrar no mercado", disse Thomas.
Mentores da Zero Trafficking já foram úteis revendo as metas da organização, criando uma rede de contatos, ajudando a esclarecer a missão e ajudando Thomas e sua equipe a pensarem que tipo de pessoal será necessário para dar conta das vendas e do produto.
Mesmo os programas que não são escolhidos estavam agradecidos pela oportunidade, disse Kreiner.
"De certa forma o que estamos fazendo é muito, muito jesuíta", disse Kreiner. "Quase respondendo ao chamado do Papa Francisco para tomar medidas sobre algumas destas questões problemáticas."
Mas ele disse que as organizações não precisam ser católicas, ou mesmo religiosas.
"Eu acho que o Papa Francisco é muito claro na Encíclica [Laudato Si'], ele está chamando todos os homens e mulheres de boa vontade para resolverem esses problemas", disse Kreiner.
A Zero Trafficking não tem uma inclinação religiosa, disse Thomas, mas o aspecto jesuíta foi importante.
"Nós estamos nos programando para levar a empresa ao circuito global, e sabemos que a denominação Católica como um todo tem feito do tráfico humano uma das suas iniciativas de justiça", disse Thomas. "Quando começamos a pensar no longo prazo e sobre as ferramentas e a escala global, achamos que este vai ser um grande recurso."
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Programa de incubação de universidade jesuíta seleciona empresas sociais que ajudam refugiados e combatem o tráfico de pessoas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU