04 Mai 2018
O diretor Andrew Hyatta falha no seu esforço para retratar a amplitude da vida de São Paulo, escreve a crítica de cinema Mélinée Le Priol em opinião publicada por La Croix International, 3-05-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Paulo, apóstolo de Cristo de Andrew Hyatt (EUA drama, 108 minutos)
Muitos filmes vêm contando as histórias de muitas figuras bíblicas além de Jesus, incluindo Noé, Moisés, Davi, Maria, Pedro e mais recentemente Maria Madalena.
Até agora, porém, Paulo de Tarso permanecera ausente da telona.
É preciso dizer que uma vida tão profícua como a de Paulo é mais do que suficiente para intimidar qualquer diretor de cinema.
Paulo era inicialmente um perseguidor dos primeiros cristãos. Mas depois de sua conversão na estrada para Damasco, ele se tornou um pregador incansável por toda a região do Mediterrâneo.
É dele a autoria de muitas cartas que o fizeram o pai de toda a teologia cristã.
Como poderia um único filme contar tal história num espaço de duas horas? O diretor norte-americano Andrew Hyatt, que já dirigiu vários thrillers, bem como um filme recente sobre a Virgem Maria (Cheia de Graça, 2015), aceitou o desafio.
Consciente da amplitude da vida de Paulo, Hyatt optou por se concentrar em seus últimos dias enquanto aguardava sua execução na prisão romana de Mamertine no sopé da colina do Capitólio em 67 d.C.
Paulo e a antiga comunidade cristã tinham sido responsabilizados pelo grande incêndio de Roma, o que se tornou pretexto para Nero persegui-los. Neste contexto sombrio, os cristãos de Roma reúnem-se na casa de seus protetores, Priscila e Áquila.
Eles estão muito cientes de que lá fora arriscam uma morte cruel. E o filme não poupa os espectadores da visão macabra e um tanto forçada de pessoas pegando fogo.
Enquanto isso, o já velho e visivelmente exausto Paulo, definha em sua cela até a chegada inesperada de um médico grego, também convertido ao cristianismo, que havia decidido gravar as últimas palavras de Paulo.
O visitante inesperado é Lucas, autor de um dos quatro Evangelhos, bem como dos Atos dos Apóstolos.
Lucas realmente visitou Paulo durante seu segundo cativeiro romano? Difícil dizer uma vez que a Bíblia é muito escassa em detalhes sobre o fim da vida de Paulo.
Em todo caso, o cenário do filme funciona e até mesmo recorda o audacioso épico bíblico de Emmanuel Carrère, Le Royaume (2014).
A premissa do filme é um único versículo da segunda carta a Timóteo, que Paulo teria escrito da prisão Mamertine. "Somente Lucas está aqui comigo", diz o texto.
No entanto, apesar de sua promessa, o filme logo desaponta. Ele perde o caminho com uma intriga envolvendo um prefeito romano devastado pela doença de sua filha que nem os médicos nem os deuses romanos são capazes de curar.
Quanto ao diálogo entre Paulo e Lucas durante as visitas clandestinas deste último, certamente nos fornece uma oportunidade para uma reflexão interessante sobre o papel do Apóstolo na Igreja primitiva.
Em que medida, porém, a testemunha de Paulo inspira a fé dos cristãos testados pela crueldade de Nero? Aqui, o tom do filme se transforma em um sermão bastante tedioso.
O diálogo cita muitas frases dos escritos de São Paulo, que, embora poderosos, são inseridos bastante desajeitadamente na história.
"Onde abundou o pecado, a graça superabundou."
"Se Cristo não ressuscitou, logo, é vã a nossa pregação."
"Eu me sinto muito feliz em me gabar de minhas fraquezas."
"O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja...”
No entanto, o filme não lança luz sobre a incompreensão dos romanos sobre o "sentimentalismo presunçoso" que parecia envolver o cristianismo precoce.
Ainda assim, não há nada no filme que não tenha sido ilustrado anteriormente, quer em escritos acadêmicos ou às vezes até mesmo em arte kitsch.
A produção hollywoodiana de Hyatt não economiza na música dramática ou na câmera lenta. Ele também muitas vezes recorda "Quo Vadis?" o blockbuster bíblico de 1951.
Filmado na ilha de Malta assim como A ressurreição de Cristo, Gladiador e Troia, o filme de Hyatt é bem servido por excelentes sets e um elenco talentoso.
O ator britânico James Faulkner tem um desempenho aceitável como Paulo velho, desgastado, mas ainda preenchido com o amor de Cristo.
No entanto, as últimas cenas do filme nos contam mais sobre a vida de Paulo do que as primeiras duas horas. Isto é, apesar de vários flashbacks, que incompreensivelmente deixa de fora suas viagens no Mediterrâneo.
O resultado final é a frustração para o espectador.
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Um apóstolo Paulo exausto na tela do cinema - Instituto Humanitas Unisinos - IHU