05 Abril 2018
A pergunta certa é: o que virá depois do Facebook? Em vez de aceitar o monopólio imperfeito do Facebook, o que mais precisamos agora é de uma nova geração de redes sociais.
O artigo é de Tim Wu, professor da Escola de Direito da Universidade de Columbia e autor de 'The Master Switch: a ascensão e queda dos impérios de informação', publicado por The New York Times e reproduzido por O Estado de S. Paulo, 05-04-2018.
Depois de anos coletando uma quantidade enorme de dados, o Facebook finalmente foi pego na simplificação de um desastre de privacidade. Quando Mark Zuckerberg, presidente executivo da empresa, testemunhar perante o Congresso dos EUA, os legisladores perguntarão como o Facebook poderá restabelecer a confiança do público e se ele pode aceitar regulamentação. Mas essas são as perguntas erradas a serem feitas.
A pergunta certa é: o que virá depois do Facebook? Em vez de aceitar o monopólio imperfeito do Facebook, o que mais precisamos agora é de uma nova geração de redes sociais. Salvo com uma revisão total de liderança e modelo de negócios, o Facebook jamais será essa plataforma.
Toda empresa tem seu DNA fundador. Uma real mudança corporativa é rara, especialmente quando os mesmos líderes permanecem no comando. No caso do Facebook, não estamos falando de passos em falso aqui e ali. Os problemas são centrais e estruturais, consequências do seu modelo de negócios. Desde o primeiro dia em que foi atrás de receita, o Facebook priorizou o crescimento sobre qualquer outro objetivo possível, maximizando a coleta de dados.
A rede social em si não está desaparecendo. Ela entrou em nossas vidas e veio ajudar a satisfazer a necessidade humana básica de se conectar. O concorrente ideal e sucessor do Facebook seria uma plataforma que realmente coloque a meta de aproximar as pessoas em primeiro lugar. Mas, se aprendemos alguma coisa na última década, é que os modelos de publicidade e captação de dados são incompatíveis com uma rede social confiável.
Um bom concorrente do Facebook, no entanto, tem o desafio é conquistar uma massa crítica de usuários. O Facebook, com seus 2,2 bilhões de usuários, não vai desaparecer, e tem um histórico de comprar ou menosprezar seus rivais. Mas agora é a hora de uma nova geração de concorrentes do Facebook desafiarem a nave-mãe.
Alternativas do Facebook podem ser criadas por empresas que têm credibilidade quanto à proteção da privacidade, pela qual os usuários pagariam uma assinatura. Em uma era de mídia social “gratuita”, pagar pode parecer improvável – mas deve-se ter em mente que o pagamento alinha melhor os incentivos da plataforma aos de seus usuários.
O pagamento e a rede social podem ser agrupados a outros produtos, tais como o iPhone ou os navegadores Mozilla ou Brave.
Outro “Facebook alternativo” poderia ser uma organização sem fins lucrativos que usa esse status para sinalizar sua dedicação a melhores práticas, como hospitais e universidades sem fins lucrativos. A Wikimedia, que administra a Wikipedia, é um exemplo disso e administra quase tanto tráfego quanto o Facebook, com um orçamento muito menor. Um “Facebook alternativo” também poderia ser iniciado por antigos funcionários do Facebook.
Quando uma empresa fracassa, como acontece com o Facebook, é natural que o governo imponha regulamentação. Mas se os escândalos de privacidade de hoje nos levarem apenas a estabelecer o Facebook como um monopólio regulado, isolado da concorrência, teremos fracassado completamente.
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