25 Setembro 2017
Nos últimos dias, houve episódios na Igreja Católica que surpreenderam a opinião pública, que foram mostrados artisticamente como se tivessem sido desejados pelo papa. Um modo para criar confusão e minar a sua popularidade.
A reportagem é de Carlo Di Cicco, publicado por Tiscali, 23-09-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Na história de proclamar o Papa João XXIII como padroeiro junto de Deus do Exército italiano, pegando de surpresa, de forma desagradável, os fiéis e a opinião pública, os promotores da operação deram a entender que o Papa Francisco também sabia disso, assim como sabia o falecido cardeal Capovilla, secretário e familiar de Roncalli.
Na realidade, Francisco ficou sabendo com admiração dessa notícia que foi concluída sem o seu conhecimento. Assim como, aliás, a Conferência Episcopal Italiana não desempenhou nenhum papel, embora tendo canonicamente o direito para isso.
Parecia um episódio, mas a sutil tentativa de fazer com que se acredite que o papa está atrás de algumas decisões de saber político e de pastoral conservadora também foi vista em outros episódios de matérias importantes, como os imigrantes e a pedofilia do clero.
Talvez não se devesse pense em um desígnio pré-ordenado e voltado a resistir ao vento de mudança trazido pelo Papa Bergoglio que investiu contra a Igreja com força semelhante à do Papa João XXIII. Mas é preciso se perguntar se os autores de certas iniciativas têm pleno conhecimento do dano de imagem que essas iniciativas podem produzir, em primeiro lugar, ao papa.
Também seria interessante encontrar a confirmação de que esse é precisamente o objetivo: prejudicar a imagem do papa e a sua credibilidade na sociedade da imagem. A consequente queda no consenso viria por conta própria.
O episódio mais recente foi o afastamento dos sem-teto da Praça de São Pedro e dos arredores imediatos do Vaticano durante todo o dia, por motivo de segurança. Nos jornais, foi dito que o papa foi informado sobre a iniciativa de ordem pública, executada pela Gendarmeria pontifícia e pelo comissariado policial da área, com o parecer favorável do esmoleiro do papa, que ficou famoso justamente pela sua sensibilidade em relação aos desabrigados.
Essas pessoas pobres, durante a noite, em vez disso, podem voltar a dormir debaixo da colunata e das áreas adjacentes. Com os seus sacos, sacolas, pacotes, papelões, eles podem – na opinião dos responsáveis pela segurança – criar problemas e facilitar a infiltração de terroristas mal intencionados.
Mas é preciso se perguntar se o mesmo problema não existe durante a noite, mesmo que falte o ininterrupto fluxo de pessoas, fiéis e turistas que visitam São Pedro.
As dinâmicas da decisão não foram publicadas oficialmente, mas a hipótese é de que a iniciativa partiu dos responsáveis pela segurança e foi mediada pelas autoridades vaticanas. Muitas pessoas se perguntaram e se perguntam como pode ser possível que o próprio papa, que fez tanto para dar dignidade aos sem-teto, decidindo pelos seus banheiros, chuveiros, barbeiros, sacos de dormir, convite a concertos, decida, depois, afastá-los por motivos de decoro.
Mas, pensando bem, uma operação desse tipo prejudica a imagem de quem? A polícia faz o seu trabalho, assim como a Gendarmeria. A decisão final teve o consentimento das autoridades vaticanas. Mas de que autoridade estamos falando, exatamente? Se o papa sabia e quisesse – pensa a maioria –, ele poderia parar a iniciativa. Ele não fez isso, portanto, é o maior responsável. Na falta de clareza com a opinião pública, podem-se provocar sérios danos, sem ter a culpa disso.
O terceiro episódio foi sobre a questão dos imigrantes, na qual se fez com que se acreditasse, em certo ponto, que a posição do governo italiano colidia com a do papa. Na realidade, o papa incentivou cada passo positivo e tudo o que de bom é feito em favor dos imigrantes, mas a sua visão é ampla, nova e aberta sobre a imigração, e nenhum país até agora pode se reconhecer totalmente nessa visão.
No máximo, pode-se compartilhar como utopia, mas não como projeto de políticas governamentais, nem mesmo nos países de maioria católica. As perspectivas humanitárias de Francisco sobre os imigrantes colocam a política a dura prova, porque exigem uma mudança da própria política e do modo de fazê-la: não uma política para si mesma e para os interesses de minorias poderosas e ricas, mas pelo bem comum, em primeiro lugar em favor dos mais pobres e excluídos da dignidade de seres humanos.
Nem sempre os impulsos de resistência curial são contra a pessoa de Bergoglio, que é até considerada simpática, mas contra atos de governo que, em particular pelos empregados, são percebidos como ações que pioram as suas condições de trabalho e os seus salários.
Alguns empregados leigos não fazem nenhum esforço para dizer que Francisco agrada fora, mas não dentro dos muros leoninos, porque, com ele, não se teve nenhum benefício econômico adicional. A resistência doutrinal e pastoral dos eclesiásticos é menos evidente, mas é mais dura.
Aqueles que sentem falta ou se reconhecem em uma tradição fixa da fé cristã veem na pastoral de Francisco um verdadeiro perigo. Mas o papa não recua. Até mesmo sobre a questão da pedofilia, ele foi capaz de autocrítica e pensa se deve ir rápido, deixando para trás toda uma série de medidas prudentes, mas ineficazes para testemunhar o evangelho.
E o que ele pede, acima de tudo, acima de qualquer questão importante? Uma mudança de mentalidade para tornar eficaz o testemunho que a Igreja é chamada a dar às sociedades e às pessoas de hoje. Mudar de mentalidade não é fácil, e é totalmente previsível que haja resistência.
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Existe uma estratégia para atacar o Papa Francisco e a sua renovação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU