Por: Lara Ely | 23 Setembro 2017
O Caribe mal se recuperava dos estragos provocados pelo furacão Irma, que deixou 60 mortos, quando vieram os ventos de 260 km/h do furacão Maria. A sequência de tragédias causou impactos principalmente em Porto Rico e Saint Croix, distrito das Ilhas Virgens Americanas, Antes disso, o furacão Harvey havido passado pelos Estados Unidos provocando estragos no Texas, Houston e Louisiana, deixando 47 mortos. Agora, um terremoto de magnitude 7,1 atingiu o México – Morelos, Guerrero, Altiplano, Oaxaca, Chiapas e Cidade do México – deixando cerca de 230 mortos.
A sequência de catástrofes naturais é apontada por cientistas como efeito do aquecimento global. Um estudo chamado Relatório Especial Ciência e Clima, do Programa de Investigação da Mudança Global dos Estados Unidos - CSSR, que reúne cientistas da Nasa e de mais 11 agências federais do país, afirma que a atividade humana contribui para o aumento da temperatura do planeta e incidência de furacões. Vivemos na era do Antropoceno.
O estudo aponta que “é muito provável que mais da metade do aumento das temperaturas, ao longo das últimas quatro décadas, foram causadas pela atividade humana”. A pesquisa afirma ainda que a quantidade, a frequência e a intensidade das tempestades extremas deverá continuar aumentando. “Ondas de calor se tornarão ainda mais quentes e as de frio menos intensas”, aponta a pesquisa.
Quanto a terremotos – como o ocorrido no México na última semana – os números do estudo não confirmam aumento ao longo dos anos, já que a intensidade está dentro da média histórica. De acordo com o British Geological Survey, o centro britânico de geociências, todo ano ocorrem, em média, 15 terremotos com magnitude maior que 7.
Ouça a pesquisadora Flávia Moraes.
A pesquisadora Flávia Moraes, doutoranda em Geografia pela Universidade de Geórgia, nos Estados Unidos, explica que, embora oceano e atmosfera mais quentes sejam combustíveis para esse tipo de evento, terremotos não são efeito direto com mudanças do clima. Segundo ela, diferente do que se imagina, eles costumam ocorrer com muita frequência. “Tem muitos terremotos diários que a gente nem sente, só sentimos os mais fortes, que também são mais raros”, afirma ela. A animação abaixo mostra todos terremotos ocorridos a partir de 1º de janeiro de 2001 até 31 de dezembro de 2015.
Os furacões são grandes e turbulentas tempestades, que produzem ventos de 119 km/h ou mais e que podem danificar edifícios e árvores. Eles se formam sobre águas oceânicas quentes, e às vezes chegam à terra, em escalas que variam de 1 a 5, como se pode ver neste link. Neste outro link é possível ver apenas os furacões que ocorreram de ontem para hoje.
“A análise climática de longo prazo permite dizer que a superfície dos oceanos está aquecida acima da média. Com isso teremos mais combustíveis para formar os furacões, somado à temperatura do ar mais quente (o que ajuda a ter mais evaporação e mais nuvens de tempestades). Mas ainda não se pode associar isso às mudanças climáticas, pois faltam pesquisas para que essa afirmação seja feita”, explica a pesquisadora.
Histórico e impactos
Mesmo com o alerta dos cientistas sobre a possibilidade de piorarem os efeitos das catástrofes, autoridades governamentais como o presidente dos Estados Unidos Donald Trump negam-se a aceitar essa verdade inconveniente.
Ao sair do Acordo Climático de Paris, no começo deste ano, Trump subscreveu a esdrúxula teoria da conspiração, segundo a qual, como ele colocou em 2012, “o conceito de aquecimento global foi inventado por e para os chineses com o objetivo de destruir a competitividade do setor industrial americano”. Mas esta não foi a razão pela qual Trump investiu para tirar os EUA do Acordo de Paris. O pacto, segundo ele, é ruim para os EUA e implicitamente injusto.
Com a proposta de reduzir as emissões atmosféricas e substituir o Protocolo de Kyoto em 2020, o Acordo de Paris é o primeiro pacto universal para tentar combater a mudança climática. Reunindo a assinatura de 195 países, ele tem como objetivo manter o aumento da temperatura média mundial "muito abaixo de 2°C", mas "reúne esforços para limitar o aumento de temperatura a 1,5°C".
No país de Trump, recentemente, o impacto do furacão Harvey foi bastante sentido pelas indústrias petrolíferas da costa do Texas. O abastecimento ficou comprometido, deixando mais altos os preços da gasolina. Foi preciso que o governo do estado garantisse abastecimento nas estradas para a população que tentava deixar as áreas atingidas e que não conseguia abastecer os carros nos postos das rodovias.
No México, as cifras do terremoto contabilizam 230 pessoas mortas, 100 delas falecidas na Cidade do México, o lugar com mais vítimas fatais. O terremoto de escala 7,1 ocorreu 32 anos após o devastador terremoto que deixou 12 mil mortos no México e 53 mil casas e prédios danificados.
Em Guadalajara, voluntários arrecadam donativos para atingidos pelo terremoto em Cidade do México e outras regiões/Foto: Thiago Ely
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Madre Tierra em fúria. Furacões castigam América Central e Caribe e espalham onda de morte - Instituto Humanitas Unisinos - IHU