04 Agosto 2017
O Oriente Médio e a difícil questão de Jerusalém e dos Lugares Santos estão no coração da Santa Sé: “O compromisso é por uma paz permanente”. No contexto do 800º aniversário do Perdão de Assis, o secretário de Estado, Pietro Parolin, fala ao jornal Avvenire sobre os conflitos em curso que dilaceram a realidade e sobre a via mestra para uma possível solução.
A reportagem é de Stefania Falasca, publicada no jornal Avvenire, 03-08-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Da Síria à Venezuela, parece que se fala outra linguagem em relação à da reconciliação... Que apelo pode ser dirigido a partir de Assis em particular aos governantes e àqueles que podem fazer escolhas decisivas?
Acima de tudo, eu diria para se levar em conta o grito das pessoas, dos pobres. Muitas vezes, somos surdos diante do grito que sobe da base, das populações que pedem em voz alta a paz. Não em palavras. Basta ver as dilacerações que tantas populações são obrigadas a viver: esse é um grito pela paz. Os responsáveis devem se abrir a esse grito e não jogar sobre a pele deles. Não se trata de se limitar aos jogos de política internacional. Aqui, trata-se de dar respostas concretas, positivas às exigências das pessoas. Se estivéssemos abertos a essa voz, acho que realmente buscaríamos encontrar um caminho para resolver os tantos problemas que dilaceram a realidade de hoje.
Entre os conflitos atuais, qual é o que mais o preocupa?
São muitos e, dentre eles, certamente, está o Oriente Médio, que continua sempre muito vivo na sensibilidade da Santa Sé. Hoje, a situação está novamente tensa e desperta grande preocupação. Também para os conflitos na região médio-oriental, o ponto crucial é o mesmo: é preciso realmente se comprometer para chegar a uma paz permanente.
Os recentes confrontos em Jerusalém, no entanto, mostram mais uma vez como o conflito israelense-palestino é paradigmático de todos os conflitos que dilaceram não só aquela região...
A Santa Sé considera Jerusalém única e sagrada para os judeus, os cristãos e os muçulmanos, e há muito tempo deu os seus critérios e indicou as condições. Ou seja, que Jerusalém seja reconhecida como lugar de cidadania para todos os crentes, seja “cidade aberta” no sentido de reconhecer a liberdade religiosa e os direitos de todos, e que estes sejam respeitados.
Na sua opinião, existem agora as premissas para se ir nessa direção?
As premissas são as indicadas. Se aumentar a tensão, torna-se necessário evitar a escalada do conflito. O problema é sempre um, no fundo: é preciso vontade política. No campo internacional, podemos falar de tantas soluções possíveis e viáveis, elas existem, existe a possibilidade de responder com propostas concretas que possam ser realmente resolutivas, mas, infelizmente, parece faltar a vontade de cada um a deixar de lado algo próprio, na fórmula do compromisso.
A proposta da Santa Sé de um estatuto internacionalmente garantido para salvaguardar o caráter histórico e religioso de Jerusalém e o livre acesso para todos aos Lugares Santos ainda é válida ou foi superada pelos fatos?
Essa perspectiva ainda é válida hoje, sem dúvida. Não me parece que, em relação a ela, tenham sido indicadas alternativas capazes de resolver os problemas e as tensões sobre Jerusalém. As manifestações de violência que vimos dizem que o problema deve ser resolvido em nível internacional.
O senhor está muito envolvido com a crise da Venezuela, intervindo para facilitar as negociações. Considerado o estado atual dos fatos, o empenho da Santa Sé deve ser considerado como um fracasso?
Não, não há nenhum fracasso. A diplomacia da Santa Sé é uma diplomacia de paz. Não tem interesses de poder nem político, nem econômico, nem ideológicos. O papa lembrou que, quando nos encontramos diante de uma situação de crise, é preciso sempre considerar como a Santa Sé age: é por uma diplomacia proativa e não apenas reativa. Então, tentamos levar sempre a nossa contribuição. Se às vezes isso não tem êxito, o importante é fazer. Então, eu não falaria de fracasso. No caso da Venezuela, pode haver opiniões diferentes, mas o importante é tentar dar respostas viáveis com base na situação, especialmente ao levar em conta as condições reais da população e do bem comum que deve vir acima de tudo.
Atualmente, a situação na Colômbia é diferente, já que parece que ela entrou em uma nova fase histórica, embora com muitas incógnitas e incertezas. Preveem-se mais desenvolvimentos positivos às vésperas da visita papal?
A Colômbia é uma esperança, e esperamos que essa tendência positiva, embora com todas as fraquezas e dificuldades que existem, possa ser fortalecida com a visita do Papa Francisco. O papa quer ir à Colômbia certamente por um motivo principal: promover a reconciliação. Acredito que, além das fórmulas técnicas do acordo de paz, o país precisa de uma reconciliação profunda em seu interior, de modo a tomar sobre bases sólidas o caminho da paz. Existem divisões políticas, portanto, também politicamente, esta viagem é um sinal forte.
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Oriente Médio: “A solução existe, mas ninguém a quer”. Entrevista com Pietro Parolin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU