20 Março 2017
O famoso filósofo italiano Gianni Vattimo, ícone da ala progressista radical e pai do “pensamento fraco”, segue se mostrando entusiasmado com o Papa Francisco e assegura que o criticam “porque está no caminho certo”. Ele está convencido de que Bergoglio representa “uma grande oportunidade de renovação para a Igreja”, assim como “uma ameaça para o tradicionalismo”.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 19-03-2017. A tradução é de André Langer.
Em entrevista à agência de notícias mexicana Notimex, o estudioso do existencialista alemão Friedrich Nietzsche e ex-parlamentar europeu, destacou que Jorge Mario Bergoglio “é alguém que corta, que purifica um pouco, que faz coisas não necessariamente prazerosas”.
“Francisco é uma grande oportunidade para a Igreja. Existem papas que representam uma oportunidade para a renovação e a transformação. Às vezes exagero, compreendo que o papa é sempre o papa; devo recordar-me muitas vezes que um papa não pode fazer tudo, apenas algumas coisas”, disse.
“Mas estou convencido de que ele (o Papa Francisco) tem uma boa intenção e, paradoxalmente, têm razão aqueles que o veem como uma ameaça para a Igreja, porque é uma ameaça para a Igreja tradicionalista, é alguém que – no fundo – enfrenta os problemas”, acrescentou.
Ao mesmo tempo, como “um fiel periférico”, mostrou-se preocupado. Espera que o pontífice possa ser tão equilibrado a ponto de desfazer-se de muitas coisas obsoletas da Igreja sem “arruinar’ a experiência de fé dos fiéis.
“O Papa, em seu esforço de renovação e atualização, de colocar a Igreja ao nível dos pobres, enfrenta um problema de equilíbrio: ele deve agir corretamente e o que faz não deveria escandalizar. É um delicadíssimo momento de transformação na Igreja”, considerou.
Em outros tempos, Vattimo teria dito que era “ateu, graças a Deus”, mas agora parece ter mudado de opinião. Embora não o tenha admitido abertamente e confessado, vive “um cristianismo de uma velhinha”, que inclui recitar as orações tradicionais.
Mais adiante, explicou que seu ateísmo deriva da sua recusa em acreditar no “Deus dos filósofos”, no “Deus moral”, supremo garante da ordem do mundo capitalista. “Para que nos interessa esse Deus capitalista?”, questionou.
“A Igreja, durante muitos séculos, especialmente na Europa, foi uma espécie de instrumento de conservação, mas agindo assim acabou conservando seus próprios privilégios. Isto é algo que o Papa está deixando para trás”, disse.
Vattimo assegurou que, neste momento, a tarefa dos cristãos deveria ser a de abandonar ‘as quantidades’ da Igreja, por exemplo, seu excessivo patrimônio. Mas ele esclareceu que isso não significa que se devem vender os Museus Vaticanos. “Talvez, ter alguma coisa a menos não faria nenhum mal”, continuou.
Embora tenha insistido em seu convencimento de que a Igreja vai diminuir em alguns lugares, jamais postulou seu desaparecimento. Reconheceu que, sem o catolicismo, ele jamais teria tomado contato com o Evangelho.
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Gianni Vattimo: “Francisco é uma grande oportunidade para a renovação e a transformação da Igreja” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU