30 Mai 2016
“Por um pedaço de pão e por um pouco de vinho
Eu já vi mais de um irmão se desviar do caminho
Por um pedaço de pão e por um pouco de vinho
Eu também vi muita gente encontrar novamente o caminho do céu
Eu também vi muita gente voltar novamente ao convívio de Deus”
(José Fernandes de Oliveira)
O Filho, feito gente, na pessoa de Jesus de Nazaré, assumiu a história humana com suas possibilidades e limites. Nele a transcendência permeia a imanência para dela fazer transparência numa vida plena de sentido, uma “vida boa” na superação de medos e na entrega livre ao outro no amor.
Não hesitou em comunicar uma Boa-Notícia: o Reino de Deus como evento de Deus na vida da humanidade. Nele existe espaço para todos. Nele Deus se faz próximo já aqui, começando pelos mais vulneráveis. Nele os valores fundamentais são Justiça, Direito, Paz, Verdade, etc. Nele não existe a necessidade de súditos, mas de amigos/as que compartilham a vida humana na/com a vida de Deus.
Por causa do Reino, Jesus foi condenado e executado. O projeto de um espaço aberto em Deus para todos não agradou os “representantes” da religião do seu tempo. Não era uma abertura num além-distante, mas num “aqui” e “agora” com estrutura humanas e religiosas justas, que soubessem no seu interior conceder espaço para todos na mesma medida que Deus concedia em si espaço para todos.
Deus Pai, na ação do Espírito, ressuscita Jesus dentre os mortos. Foi numa madrugada. Deus não precisa de plateia. Deus não se vinga da humanidade: “vence sem vencidos” (Luiz Carlos Susin). O injustiçado ressurge glorificado, assumindo uma “nova forma” de ser que o conhecimento humano não é capaz de explicar na sua totalidade. Através Dele, Deus permanece no seu anseio mais radical: um espaço vital e aberto para todos.
Na eucaristia, as comunidades cristãs vivem o memorial dessa presença radical e desafiadora. Ao longo do tempo, elas descobriram formas de manter viva essa memória através de ritos e de símbolos, respeitando cada momento histórico e cada contexto cultural/social.
Os ritos e os símbolos ajudam no processo pedagógico de perceber a manifestação da transcendência na imanência, para que fazer ressurgir na transparência uma experiência autêntica, considerando os dramas e as esperanças de cada tempo. Sem isso a eucaristia torna-se esvaziada de sentido.
Deus em si não precisa de rito e de símbolo. Ele extrapola qualquer formulação humana. Mas, os seres humanos na sua busca por Ele precisam desse processo pedagógico: na linguagem humana limitada desvela-se a presença do ilimitado.
Na eucaristia, não reside à lógica da meritocracia e da deontologia, mas a lógica da gratuidade no amor. “Não é um prêmio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos” (EG 47). Ele quis permanecer conosco, como remédio e alimento, através de uma comunidade de fé. É um permanecer que enche de sentido a existência humana dos cristãos, encorajando para uma existência com esperança e que falha a pena.
Na eucaristia, aprende-se a doação e o compromisso com os outros. O verdadeiro culto é vivido na prática da justiça e do direito. Não é suficiente comungar. Não é piquenique. Precisa-se de uma atitude frente às estruturas injustas. Por isso, comungar é sinônimo de incomodar. É uma presença que faz diferença na sociedade. Jesus incomodou as estruturas de seu tempo. Ele pagou um alto preço. Hoje, somos convidados a correr esse risco na aventura da justiça, da misericórdia e do direito para todos existirem numa vida digna.
“Ele nos deu olhos para ver, orelhas para ouvir, mãos para trabalhar.
Os nossos olhos devem ser aqueles com os quais Deus vê a necessidade,
as nossas orelhas aquelas com que Deus escuta os lamentos,
as nossas mãos aquelas de que Deus se serve para vir em socorro,
o nosso braço aquele com o qual Deus oferece seu apoio a quem cansa de caminhar sozinho”
(Cesare Giraudo)
O Instituto Humanitas Unisinos - IHU, no Cadernos Teologia Pública, edições 50 e 52, apresenta através de dois artigos uma contribuição significativa sobre a vivência da eucaristia. O primeiro aborda-a numa dimensão ética, onde o verdadeiro culto perpassa uma responsabilidade ética com o outro. Não é possível celebrar a eucaristia sem considerar e comprometer-se com/pelos vulneráveis (Cesare Giraudo). O segundo aborda-a numa dimensão ecológica, onde toda a criação está entrelaçada quando se reúne para celebrar a eucaristia. Não é uma vivência desconectada com outras formas de vida. Todos são alcançados (Denis Edwards).
Para acessar o texto: clique aqui
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Por Jéferson Ferreira Rodrigues
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A Eucaristia é sinal de uma presença: Memorial, Dom e Compromisso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU