06 de janeiro de 2024: Epifania do Senhor (Mt 2,1-12)
"Onde os Magos encontram Cristo? Encontram-no no difícil momento de deixar as suas casas e a sua terra para partir em direção a um lugar desconhecido. Os Magos conhecem aquela obediência interior que está na origem de cada partida, de cada desapego e de cada separação: 'Pela fé Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia' (Hb 11.8)", escreve Goffredo Boselli, liturgista italiano, monge da Comunidade de Bose, na Itália, e colaborador da Comissão Episcopal para a Liturgia da Conferência Episcopal Italiana, em comentário sobre o evangelho do Domingo da Solenidade da Epifania do Senhor, ciclo B do Ano Litúrgico, que corresponde ao texto bíblico de Mateus 2,1-12.
O comentário é publicado por Enzo Bianchi, monge cristão italiano, no seu blog, 04-01-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Depois que Jesus nasceu em Belém da Judéia, nos dias do rei Herodes, magos vindos do Oriente chegaram a Jerusalém e perguntaram: "Onde está o recém-nascido rei dos judeus? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo". Quando o rei Herodes ouviu isso, ficou perturbado, e com ele toda a Jerusalém. Tendo reunido todos os chefes dos sacerdotes do povo e os mestres da lei, perguntou-lhes onde deveria nascer o Cristo. E eles responderam: "Em Belém da Judeia; pois assim escreveu o profeta: ‘Mas tu, Belém, da terra de Judá, de forma alguma és a menor entre as principais cidades de Judá; pois de ti virá o líder que, como pastor, conduzirá Israel, o meu povo’". Então Herodes chamou os magos secretamente e informou-se com eles a respeito do tempo exato em que a estrela tinha aparecido. Enviou-os a Belém e disse: "Vão informar-se com exatidão sobre o menino. Logo que o encontrarem, avisem-me, para que eu também vá adorá-lo". Depois de ouvirem o rei, eles seguiram o seu caminho, e a estrela que tinham visto no Oriente foi adiante deles, até que finalmente parou sobre o lugar onde estava o menino. Quando tornaram a ver a estrela, encheram-se de júbilo. Ao entrarem na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram. Então abriram os seus tesouros e lhe deram presentes: ouro, incenso e mirra. E, tendo sido advertidos em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram a sua terra por outro caminho." - Mt 2,1-12.
A primeira palavra que os Magos pronunciam é uma pergunta: “Onde está o recém-nascido?” Os chefes dos sacerdotes e escribas de Israel identificam nas Sagradas Escrituras o lugar físico onde Cristo deveria nascer, em Belém da Judeia. Na realidade, a resposta não atinge o sentido profundo da pergunta posta pelos Magos: “Onde está o recém-nascido?”. Só o sentido da sua longa viagem e a qualidade do seu itinerário interno poderão responder à pergunta que carregam dentro de si.
“Onde está o recém-nascido?” é a pergunta que pôs em caminho esses estrangeiros vindos das terras do Oriente. Da Caldeia, da Pérsia, das terras onde Israel esteve em exílio. “O recém-nascido” foi o que fez nascer nos Magos o desejo de se pôr em caminho. Quando é o desejo que nos põe em viagem, o lugar de partida já contém em si o lugar de chegada. O nascimento da criança e o nascimento do desejo de adorá-lo são um único nascimento. Eles vieram de longe para adorar aquele que já carregavam no coração.
“Onde está o recém-nascido?” é a pergunta que esses sábios carregam no coração ao longo de toda a viagem para Jerusalém, desde que, perscrutando o céu, viram surgir uma nova estrela - eles a chamarão "a sua estrela" -, uma estrela que, segundo uma sabedoria transmitida para eles, marcava um grande evento, o nascimento de um rei salvador.
Onde os Magos encontram Cristo? Encontram-no no difícil momento de deixar as suas casas e a sua terra para partir em direção a um lugar desconhecido. Os Magos conhecem aquela obediência interior que está na origem de cada partida, de cada desapego e de cada separação: “Pela fé Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia" (Hb 11.8). Os Magos participam na fé de Abraão com o seu germinal ato de fé em Cristo que, através da “sua estrela”, os coloca em caminho: “Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios por Jesus Cristo” (cf. Gl 3,14). Cristo está na origem dos nossos caminhos de fé, encontra-se na fé n’Aquele que nos chama ao seguimento do seu Evangelho.
Onde os Magos encontram Cristo? Encontram-no no seu caminhar juntos, no compartilharem o único desejo que impulsiona a sua busca. Juntos veem despontar a estrela, juntos se colocam em caminho e chegam a Jerusalém, juntos adoram o menino e juntos regressam ao seu país. Cristo encontra-se no desejo partilhado com os irmãos e as irmãs que nos impele à busca comum, a seguir juntos a “sua estrela” que sempre precede, guia e orienta.
Onde os Magos encontram Cristo? Encontram-no onde a estrela se posiciona em cima de um lugar específico. Analisando bem, o Evangelho não fala de Belém, mas do “lugar onde está a criança”: a meta do longo caminho é a criança. O lugar não é uma localidade, mas uma pessoa. Se para Abraão a meta foi a terra prometida, para os Magos a meta é o menino prometido.
Onde os Magos encontram Cristo? Entram numa casa e “veem o menino com Maria, sua mãe”. Encontram-no na simplicidade e na rotina doméstica em que o recém-nascido se encontra: nos braços da mãe. Eis o lugar definitivo onde encontram o recém-nascido. Nem um pouco surpresos ao ver “o Rei dos Judeus” naquela humilde condição, eles se ajoelharam e o adoraram. Deus vive e se revela na carne de uma criança, na mais humana das condições. Somente na fé pode ser reconhecido e adorado.
Mesmo sabendo que Jesus nasceu em Belém da Judeia, reconhecemos que percorremos sempre o itinerário dos Magos, guardando no coração a pergunta “Onde está o recém-nascido?”.