29 Abril 2020
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 14,1-12 que corresponde ao Quinto Domingo da Páscoa, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
No final da última ceia, Jesus começa a despedir-se dos seus: já não estará muito tempo com eles. Os discípulos ficam confusos e oprimidos. Embora não lhes fale claramente, todos intuem que em breve a morte o arrebatará do seu lado. O que será deles sem Ele?
Jesus vê-os abatidos. É o momento de os reafirmar na fé, ensinando-os a crer em Deus de forma diferente: «Que não trema o vosso coração. Acreditai em Deus e acreditai também em mim». Devem continuar a confiar em Deus, mas a partir de agora também devem acreditar Nele, pois é o melhor caminho para acreditar em Deus.
Jesus então mostra-lhes um horizonte novo. A sua morte não deve fazer naufragar a sua fé. Na realidade, deixa-os para encaminhar-se para o mistério do Pai. Mas não os esquecerá. Continuará a pensar neles. Preparará para eles um lugar na casa do Pai e um dia voltará para levá-los com Ele. Por fim estarão de novo juntos para sempre!
Os discípulos têm dificuldade em acreditar em algo tão grandioso. Nos seus corações desperta-se todo o tipo de dúvidas e interrogações. Também a nós nos sucede algo semelhante: tudo isso não será um belo sonho? Não será uma ilusão enganosa? Quem nos pode garantir semelhante destino? Tomás, com o seu sentido realista de sempre, apenas lhe faz uma pergunta: como podemos saber o caminho que leva ao mistério de Deus?
A resposta de Jesus é um desafio inesperado: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida». Não se conhece na história das religiões uma afirmação tão audaz. Jesus oferece-se como o caminho a que podemos recorrer para entrar no mistério de um Deus Pai. Ele pode-nos descobrir o segredo último da existência. Ele pode-nos comunicar a vida plena que deseja o coração humano.
Hoje existem muitos homens e mulheres que ficaram sem caminhos para Deus. Não são ateus. Nunca rejeitaram conscientemente Deus. Nem eles mesmo sabem se acreditam ou não. Talvez tenham deixado a Igreja porque não encontraram nela um caminho atraente para procurar com alegria o mistério final da vida que os crentes chamam de «Deus».
Ao abandonar a Igreja, alguns abandonaram ao mesmo tempo Jesus. A partir destas modestas linhas, quero-vos dizer algo que muitos já intuíram, Jesus é maior que a igreja. Não confundais Cristo com os cristãos. Não confundais o seu evangelho com os nossos sermões. Mesmo que não deixeis tudo, não fiqueis sem Jesus. Nele encontrareis o caminho, a verdade e a vida que nós não fomos capazes mostrar. Jesus pode-vos surpreender.
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Não fiqueis sem Jesus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU