A alegria do Pai

Fonte: Mausoleum of Galla - Ravenna

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09 Agosto 2019

Jesus falou aos seus discípulos:

- “Não tenha medo, pequeno rebanho, porque o Pai de vocês tem prazer em dar-lhes o Reino. Vendam os seus bens e deem o dinheiro em esmola. Façam bolsas que não envelhecem, um tesouro que não perde o seu valor no céu: lá o ladrão não chega, nem a traça rói. De fato, onde está o seu tesouro, aí estará também o seu coração”.

- “Estejam com os rins cingidos e com as lâmpadas acesas. Sejam como homens que estão esperando o seu senhor voltar da festa de casamento: tão logo ele chega e bate, eles imediatamente vão abrir a porta."

"Felizes dos empregados que o Senhor encontra acordados quando chega. Eu garanto a vocês: ele mesmo se cingirá, os fará sentar à mesa, e, passando, os servirá. E caso ele chegue à meia-noite ou às três da madrugada, felizes serão se assim os encontra! Mas, fiquem certos: se o dono da casa soubesse a hora em que o ladrão iria chegar, não deixaria que lhe arrombasse a casa. Vocês também estejam preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que vocês menos esperarem.”

Então Pedro disse a Jesus:

- “Senhor, estás contando essa parábola só para nós, ou para todos?”

E o Senhor respondeu:

- “Quem é o administrador fiel e prudente, que o senhor coloca à frente do pessoal de sua casa, para dar a comida a todos na hora certa? Feliz o empregado que o senhor, ao chegar, encontra fazendo isso! Em verdade, eu digo a vocês: o senhor lhe confiará a administração de todos os seus bens. Mas, se esse empregado pensar: "Meu patrão está demorando’, e se puser a surrar os criados e criadas, a comer, beber, e embriagar-se, o Senhor desse empregado chegará num dia inesperado e numa hora imprevista. O Senhor o expulsará de casa, e o fará tomar parte do destino dos infiéis. Todavia aquele empregado que, mesmo conhecendo a vontade do seu senhor, não ficou preparado, nem agiu conforme a vontade dele, será chicoteado muitas vezes. Mas, o empregado que não sabia, e fez coisas que merecem castigo, será chicoteado poucas vezes. A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido”

Leitura do Evangelho de Lucas capítulo 12,32-48. (Correspondente ao 19º Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico).

O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.

Ouça a Leitura do Evangelho

A alegria do Pai

Na leitura do Evangelho deste domingo, Jesus continua sua catequese dirigida aos seguidores e seguidoras sobre as atitudes que devem ter diante dos bens deste mundo. Qual é o melhor comportamento e proceder para construir o Reino? Na semana anterior Jesus ensinava a necessidade de procurar sempre os bens que não perecem. Através da parábola do homem que constrói grandes celeiros e acumula grãos porque considera que na possessão das riquezas está garantida a felicidade, Jesus ensinava que é necessário procurar a verdadeira felicidade naquilo que não é perecível. Instrui assim a construir a própria vida, pensando também nos outros, sem acumular bens que são passageiros e colocando neles a segurança do futuro.

No começo do texto de hoje Jesus dirige-se aos seus e chama-os de “pequeno rebanho”. É uma forma carinhosa de referir-se a eles. Sem dúvida é um grupo pequeno, mas muito querido por Deus. Devemos lembrar também que Lucas escreve para uma comunidade pequena e ainda desconsiderada pela sociedade, mas muito amada por Jesus que é seu Pastor. Em seguida o texto continua, “O Pai de vocês tem prazer em dar-lhes o Reino”. Expõe os sentimentos do Pai diante deles. Não somente é um pequeno rebanho que lhe pertence, mas acrescenta que o Pai sente alegria e felicidade por eles. A expressão ”tem prazer em dar-lhes o Reino” nos faz lembrar um presente que é sempre dado com felicidade. É uma entrega generosa e uma dádiva que se doa com generosidade e amor.

Desde este sentir do Pai podemos adentrar nas recomendações que Jesus expõe depois para viver e comunicar aos outros as riquezas do Reino. “Vendam os seus bens e deem o dinheiro em esmola. Façam bolsas que não envelhecem, um tesouro que não perde o seu valor no céu”. E ele conclui dizendo: “De fato, onde está o seu tesouro, aí estará também o seu coração”.

Num primeiro momento, lemos que ele nos ensina a necessidade de vender os bens e por isso é preciso perguntar-se: quais os bens que possuímos? O Reino pede uma convivência em que não tenha espaço uma acumulação sem partilha. Por isso Jesus continua ensinando sobre a necessidade de dar o dinheiro aos que mais necessitam para favorecer a partilha e a convivência fraterna. Jesus ensina que é fundamental ter uma generosidade aberta, preocupando-se com toda pessoa que está ao nosso lado, sem classificar nem rejeitar ninguém. No seu ensino Jesus explica que o Reino baseia-se num princípio de comunidades deportas abertas”.

Os limites para sua integração são a generosidade, a bondade, a partilha, a procura incessante da justiça o do bem-estar de todas as pessoas que vivem neste mundo. Como disse o papa Francisco na catequese do dia 8 de agosto: “A Igreja, que vê os que estão em dificuldades, não fecha os olhos, sabe olhar a humanidade na cara para criar relações significativas, pontes de amizade e solidariedade em vez de barreiras", disse o Papa, ressaltando que esta é a Igreja "sem fronteiras", que "se sente a mãe de todos", que "sabe segurar pela mão e acompanhar para ajudar a levantar.” Texto completo: “A igreja deve ser sem fronteiras e de portas abertas”, afirma o Papa Francisco

Neste primeiro parágrafo Jesus disse: “onde está o seu tesouro, aí estará também o seu coração”. Entende-se por coração a totalidade da pessoa e não somente os sentimentos passageiros e menos ainda uma realidade unicamente corporal. O coração envolve o ser da pessoa na sua integridade, ou seja, em todas as suas dimensões. Da mesma forma que a generosidade vai além do simples fato de uma entrega, senão que deve ser um ponto crucial da nossa convivência. Assim como Deus entrega-se a si mesmo sem limitação nem restrição nenhuma, Deus confia em nós para que façamos o mesmo entre nós.

Neste domingo somos convidados a trabalhar tudo o que seja necessário para reconhecer os dons recebidos e assim partilhá-los numa vida em comum em harmonia e igualdade. Assim é o verdadeiro discípulo e discípula, que é aquele que está sempre preparado para acolher o que Deus deseja lhe dar, responder a seu chamado e empenhar-se na construção do Reino para que esteja sempre seguindo os ensinamentos de Jesus e não nossa mesquinha e mal chamada caridade.

No texto do evangelho, Jesus continua ensinando aquilo que é necessário realizar para que o “Reino” seja sempre uma realidade presente na vida da comunidade e para que nela os “tesouros” deste mundo não tenham prioridade. Para isso é indispensável estar sempre vigilante, numa atitude de constante busca. Uma autêntica comunidade cristã não pode dar por acabada sua missão na terra e ficar satisfeita: trata-se de estar sempre vigilante, à espera da vinda do Senhor. Na narrativa evangélica que é proclamada hoje, Jesus ensina-nos a importância da vigilância no sentido de estar sempre atento não somente ao além senão principalmente ao que sucede no quotidiano da vida.

Neste domingo somos convidados junto com toda a Igreja a viver uma vida pobre e construir comunidades pobres. Não sejamos comunidades ou centros religiosos que sejam lugar de “trocas econômicas e financeiras”, mas recolhamos o apelo do papa Francisco: “Por favor: Igreja pobre! Peçamos isso ao Senhor".

Escutemos assim o chamado de Jesus para sermos comunidades atentas às necessidades de nossos irmãos e irmãs. Nas nossas comunidades pensemos: o que é que nos distrai, que é aquilo que nos prende e nos impede de acolher a contínua presença do Senhor na nossa vida e na vida de nossos irmãos?

Oração

Perguntas de Deus

Onde estás?
diz o Criador.

Onde está teu irmão?
diz o Pai.

Onde estão teus acusadores?
diz o Pastor

Por que me persegues?
diz o Irmão

Por que temes?
diz o Amigo

Perguntas de Deus
em nossa terra,
como a chuva
que desce do céu
e ao céu sobe,
perguntas sem final,
perguntas eternas
na vida
que nos trazem,
na morte
que levam consigo.
Acolhidas
como a chuva,
já nos vão fazendo
eternidade agora.

Benjamin Gonzalez Buelta


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