29 Março 2019
Todos os cobradores de impostos e pecadores se aproximavam de Jesus para escutá-lo. Mas os fariseus e os doutores da Lei criticavam Jesus,
dizendo: “Esse homem acolhe pecadores, e come com eles!”.
Então Jesus contou-lhes esta parábola: “Um homem tinha dois filhos. O filho mais novo disse ao pai: ‘Pai, me dá a parte da herança que me cabe’. E o
pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu, e partiu para um lugar distante. E aí esbanjou tudo numa vida
desenfreada. Quando tinha gasto tudo o que possuía, houve uma grande fome nessa região, e ele começou a passar necessidade. Então foi pedir
trabalho a um homem do lugar, que o mandou para a roça, cuidar dos porcos. O rapaz queria matar a fome com a lavagem que os porcos comiam, mas
nem isso lhe davam.
Então, caindo em si, disse: ‘Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome... Vou me levantar, e vou encontrar meu pai, e dizer a ele: - Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço que me chamem teu filho. Trata-me como um dos teus empregados’. Então se levantou, e foi ao encontro do pai.
Quando ainda estava longe, o pai o avistou, e teve compaixão. Saiu correndo, o abraçou, e o cobriu de beijos. Então o filho disse: ‘Pai, pequei contra
Deus e contra ti; já não mereço que me chamem teu filho’. Mas o pai disse aos empregados: ‘Depressa, tragam a melhor túnica para vestir meu filho. E
coloquem um anel no seu dedo e sandálias nos pés. Peguem o novilho gordo e o matem. Vamos fazer um banquete. Porque este meu filho estava morto, e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado’. E começaram a festa. O filho mais velho estava na roça. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. Então chamou um dos criados, e perguntou o que estava acontecendo. O criado respondeu: ‘É seu irmão que voltou. E seu pai, porque o recuperou são e salvo, matou o novilho gordo’. Então, o irmão ficou com raiva, e não queria entrar.
O pai, saindo, insistia com ele. Mas ele respondeu ao pai: ‘Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua; e nunca me
deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. Quando chegou esse teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, matas para ele o novilho
gordo’. Então o pai lhe disse: ‘Filho, você está sempre comigo, e tudo o que é meu é seu. Mas, era preciso festejar e nos alegrar, porque esse seu
irmão estava morto, e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado’”.
Leitura do Evangelho de Lucas 15,1-3.11-32. (Correspondente ao 4º Domingo de Quaresma, ciclo C Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Neste Domingo da Quaresma a Igreja nos sugere ler um texto muito bonito do evangelho de Lucas. Nele há uma parábola de Jesus, possivelmente a
mais conhecida e sem dúvida uma das mais bonitas e desafiantes.
Jesus continua sua viagem a Jerusalém, acompanhado por diversos grupos de pessoas, como disse o texto: “Todos os cobradores de impostos e
pecadores se aproximavam de Jesus para escutá-lo”. É um grupo variado de pessoas, mas pode-se dizer que há uma característica comum: são as
pessoas marginalizadas pela sociedade, os que são desprezados porque eram “pecadores”.
Jesus aparece sempre rodeado destas pessoas, visita-os na sua casa, compartilha com eles seu ensino, partilha as refeições. Mas é uma proximidade
que não é bem vista pelas autoridades religiosas dessa época: "Mas os fariseus e os doutores da Lei criticavam Jesus, dizendo: 'Esse homem acolhe
pecadores, e come com eles!”.
Continuamente Jesus tenta apresentar um rosto diferente de Deus daquele que foi imposto geralmente por um legalismo religioso, que em muitas
circunstâncias reduz Deus ao cumprimento de uma norma, lei ou um costume.
Neste contexto o evangelho oferece-nos uma parábola, conhecida geralmente como a parábola do filho pródigo ou também do Pai Misericordioso. A
novidade desta parábola não é somente que o Deus-Pai não castiga seu filho, como já tinha acontecido de diferentes formas nas profecias de Oseias ou Jeremias, mas há uma novidade fundamental que é a atitude do Pai diante do filho que retorna depois de ter malgastado todos seus bens. Não
simplesmente recebe-o e procura dignificar seu filho, mas celebra uma festa com ele e todas as pessoas que estão ao seu lado. O Pai é generoso,
aceita a pessoa além do passado vivido.
Vamos deter-nos na atitude do Pai e na novidade que nos traz esta parábola.
O texto não disse nada sobre os sentimentos do Pai quando seu filho pede sua parte da herança e sai de casa com esse dinheiro que dilapidou
totalmente. Ele está passando fome e o relato apresenta-nos o filho pedindo trabalho e desejando comer alguma coisa, mas ninguém tinha consideração
por ele.
O rapaz queria matar a fome com a lavagem que os porcos comiam, mas nem isso lhe davam. Nessa fria situação, ele começa a pensar no seu Pai, na
compreensão que tinha seu Pai com as pessoas que trabalhavam junto dele, sua compaixão, as recompensas que geralmente lhes oferecia, sua
bondade! Ele decide assim voltar à casa do Pai: “Vou me levantar, e vou encontrar meu pai, e dizer a ele: - Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não
mereço que me chamem teu filho”.
Quatro verbos descrevem sua decisão: ele se levanta, vai ao encontro do Pai, pede-lhe perdão e diz-lhe o que acha que merece. Considera que perdeu a filiação: “já não mereço que me chamem teu filho”.
Mas há uma novidade de amor que surpreende: o Pai o avista de longe. Como é possível? É a manifestação de um grande amor do Pai que aguarda
todos os dias seu retorno. O Pai espera o regresso, a volta do filho querido! Esse amor é que leva o filho a voltar a sua casa, mas é um amor que ainda
não percebe a sua grandiosidade! Um amor que o atrai quando “cai em si”, mas um amor que nesta parábola conhecera na sua plenitude.
Possivelmente no meio da miséria que estava vivendo, esse amor é o “ímã” que o coloca no caminho para a casa paterna.
O evangelista emprega cinco verbos para descrever o movimento do coração do Pai em direção ao seu filho. O primeiro é o verbo “avistar”, ver o filho
quando ainda estava longe, porque seu coração de Pai lhe dizia que um dia ele voltaria!
O segundo verbo é “teve” compaixão, seguindo uma tradução mais literal, “a compaixão invadiu suas entranhas”. Quando o pai vê de longe seu filho,
sente a dor e a alegria que sente uma mãe quando dá à luz seu filho.
São estas entranhas de compaixão, de ternura e misericórdia que fazem o Pai correr ao encontro de seu filho. E aqui estamos num tema central do
evangelho de Lucas, a misericórdia; o Deus de Jesus é o Deus da misericórdia!
Contemplemos agora o que o Pai faz sem pronunciar nenhuma palavra, seus gestos e seu silêncio pleno de amor dizem tudo! O evangelista diz que o
“abraçou e o cobriu de beijos”.
Detenhamo-nos na cena do pai e do filho unidos num só abraço. Segundo Álvaro Barreiro no seu livro A Parábola do Pai misericordioso, é o encontro
de dois pobres, de dois mendigos do amor e da comunhão.
Para a cultura oriental, os beijos são sinais tanto de afeto como do perdão paternos. O beijo no rosto era sinal de igualdade, de comunhão e de
reconciliação. Por isso, era dado aos que tinham a mesma dignidade, aos filhos e não aos escravos.
Tendo isso em conta, descobrimos que o amor do Pai se antecipa às palavras arrependidas, estes gestos “mudos” do Pai sussurram docemente ao filho quanto Ele o ama!
Neste encontro, o Pai que Jesus nos apresenta na sua parábola tem atitudes, comportamentos que nos revelam seus rasgos maternos e paternos.
Depois do abraço, o Pai compelido pelo amor continua agindo: “Tragam a melhor túnica. Coloquem um anel, peguem o novilho...”, tudo é pouco para
esta grande festa que celebra a nova vida do filho: “Porque este meu filho estava morto, e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado”.
Façamos uma parada em nosso caminho quaresmal. Onde cada um de nós se encontra? Temos desejo de um abraço de Deus?
Todas as pessoas são convidadas para este banquete. Olhemos novamente para o Pai da parábola, quando se dá conta de que seu outro filho mais
velho não está na festa: “sai” a seu encontro, como saiu ao encontro do filho mais novo. Os dois são preciosos aos seus olhos.
Pensemos no sofrimento deste irmão mais velho quando escuta o pedido do seu irmão e seu pai sem pronunciar palavra entrega-lhe sua parte da herança. Quais terão sido seus sentimentos? Além de considera-lo um agravio e até uma ofensa, ele deve ter sofrido a partida da sua casa do seu companheiro e possivelmente amigo! Por isso não deixemos que os preconceitos, rancores ou ambições sejam um impedimento para desfrutar da festa que o Pai continuamente está oferecendo a cada um e cada uma de seus filhos/as
Não resistamos a esse convite tão generoso! Que não sejam prioridade as oostumes, pensamentos ou atitudes que excluem outras pessoas. Movidos pelo amor de Deus, empenhemos nossa vida para que mulheres e homens de diferentes línguas, raças e religiões participemos do banquete, já nesta terra do Deus da vida.
Não importa se eu sou um filho, se você me chamar de escravo;
não importa se eu sou servo se posso morar na sua casa,
meu caminho de volta, doloroso se tornou
para ver todas as pousadas, onde minha alma
foi saqueada.
Com andar consternado,
Eu estava me aproximando da sua casa
com mil argumentos que minha mente preparou.
Ainda não te vi, mas você me olhou de longe;
você reconheceu na sombra o filho que amava,
e você foi correndo e meu caminho foi encurtado;
Eu chorei de vergonha, você de felicidade chorou.
Naquela tarde meus olhos falavam:
Perdoe-me, não, não diga nada.
E um profundo abraço apertado
entre seus braços minha alma;
limpando minhas lágrimas e tristezas
enquanto em seu ouvido você sussurrou para mim: Não chore, é uma festa.
Você é meu filho e esta é a sua casa!!
(Autor indígena desconhecido)
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“O Pai o avistou, e teve compaixão” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU