11 Mai 2018
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 16, 15-20, que corresponde a Festa da Ascensão do Senhor, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Os evangelistas descrevem com diferentes linguagens a missão que Jesus confia aos Seus seguidores. Segundo Mateus eles devem «fazer discípulos» que aprendam a viver como Ele lhes ensinou. Segundo Lucas, hão de ser «testemunhas» do que viveram junto Dele. Marcos resume tudo dizendo que hão de «proclamar o Evangelho a toda a criação».
Quem se aproxima hoje de uma comunidade cristã não se encontra diretamente com o Evangelho. O que se apercebe é do funcionamento de uma religião envelhecida, com graves sinais de crise. Não podem identificar com clareza no interior dessa religião a Boa Nova proveniente do impacto provocado por Jesus há vinte séculos.
Por outro lado, muitos cristãos não conhecem diretamente o Evangelho. Tudo o que sabem de Jesus e da Sua mensagem é o que podem reconstruir de forma parcial e fragmentada, recordando o que escutaram de catequistas e predicadores. Vivem a sua religião privados do contato pessoal com o Evangelho.
Como o poderão proclamar se não o conhecem nas suas próprias comunidades? O Concílio Vaticano II recordou algo demasiado esquecido nestes momentos: «O Evangelho é, em todos os tempos, o princípio de toda a sua vida para a Igreja». Chegou o momento de entender e configurar a comunidade cristã como um lugar onde o primeiro é acolher o Evangelho de Jesus.
Nada pode regenerar o tecido em crise das nossas comunidades como a força do Evangelho. Só a experiência direta e imediata do Evangelho pode revitalizar a Igreja. Dentro de uns anos, quando a crise nos obrigue a centrar-nos só no essencial, veremos com clareza que nada é mais importante hoje para os cristãos que nos reunirmos a ler, escutar e partilhar juntos os relatos evangélicos.
O primeiro é acreditar na força regeneradora do Evangelho. Os relatos evangélicos ensinam a viver a fé não por obrigação, mas por atração. Fazem viver a vida cristã não como dever, mas como irradiação e contágio. É possível introduzir nas paróquias uma dinâmica nova. Reunidos em pequenos grupos, em contato com o Evangelho, iremos recuperando a nossa verdadeira identidade de seguidores de Jesus.
Havemos de voltar ao Evangelho como novo começo. Já não serve qualquer programa ou estratégia pastoral. Dentro de uns anos, escutar juntos o Evangelho de Jesus não será uma atividade mais entre outras, mas a matriz de onde começará a regeneração da fé cristã nas pequenas comunidades dispersas no meio de uma sociedade secularizada.
Tem razão o papa Francisco quando nos diz que o princípio e motor da renovação da Igreja nestes tempos temos de encontrá-lo em «voltar à fonte e recuperar a frescura original do Evangelho».
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