22 Setembro 2017
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 20,1-16, que corresponde ao 25° Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
O evangelho pode ser ouvido clicando no botão abaixo.
Ao longo de sua trajetória profética, Jesus insistiu várias vezes em comunicar sua experiência de Deus como “um mistério de bondade insondável” que quebra todos os nossos cálculos. A Sua mensagem é tão revolucionária que, depois de vinte séculos, ainda há cristãos que não se animam a levá-la a sério.
Para transmitir a todos a sua experiência desse Deus bom, Jesus compara sua atuação com a conduta surpreendente do dono de um vinhedo. Até cinco vezes o próprio dono sai para contratar trabalhadores para seu vinhedo. Não parece estar muito preocupado com o seu rendimento no trabalho. O que não quer é que nenhum trabalhador fique um dia mais sem trabalho.
Por isso mesmo, no final da jornada, não lhes paga de acordo com o trabalho realizado por cada grupo. Não obstante seu trabalho tenha sido muito desigual, a todos lhes dá “um denário”: simplesmente, o que uma família camponesa da Galileia necessitava cada dia para viver.
Quando o porta-voz do primeiro grupo protesta porque os últimos foram tratados igual a eles, que trabalharam mais que ninguém, o senhor do vinhedo respondeu-lhes com estas palavras admiráveis: “Vão ter inveja porque eu sou bom? Vai impedir-me com seus cálculos mesquinhos de ser bom com quem necessita de pão para comer?”
Que está sugerindo Jesus? Deus não atua com os critérios de justiça e igualdade que nós manejamos? Será verdade que Deus, mais que medir os méritos das pessoas, como faríamos nós, procura sempre responder a partir da Sua bondade insondável à nossa necessidade radical de salvação?
Confesso que sinto uma pena imensa quando me encontro com pessoas boas que imaginam Deus dedicado a tomar nota cuidadosamente dos pecados e dos méritos dos humanos, para, um dia, retribuir a cada um de acordo com o merecido. É possível imaginar um ser mais inumano que alguém entregue a este trabalho por toda a eternidade?
Acreditar num Deus Amigo incondicional pode ser a experiência mais libertadora que se pode imaginar, a força mais vigorosa para viver e para morrer. Pelo contrário, viver ante um Deus justiceiro e ameaçador pode converter-se na neurose mais perigosa e destruidora da pessoa.
Temos de aprender a não confundir Deus com os nossos esquemas limitados e mesquinhos. Não devemos desvirtuar sua bondade insondável misturando os traços autênticos que proveem de Jesus com os traços de um Deus justiceiro colhidos daqui e dali. Diante do Deus Bom revelado em Jesus, o único que cabe é a confiança.
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Não desvirtuar a bondade de Deus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU