17 Novembro 2020
25 candidaturas trans foram eleitas neste ano, com 224 mil votos (incluindo mandatos coletivos) — em 2016, elegeram-se 8, somando 9 mil votos. Nas capitais Belo Horizonte e Aracaju, candidatas trans lideraram a votação.
A reportagem é de Caê Vasconcelos, publicada por Ponte, 16-11-2020.
2020 prometia ser um ano importante para as candidaturas trans nas eleições municipais, que bateram o recorde de 294 pessoas trans inscritas. E a promessa se cumpriu. Neste domingo, 25 pessoas trans foram eleitas para as Câmaras municipais em diversas cidades do país, segundo levantamento feito pela Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais): um salto em relação a 2016, quando o país elegeu 8 pessoas trans.
Da esquerda para direita: Duda Salabert, Benny Briolly, Carolina Iara (acima), Linda Brasil,
Erika Hilton e Tammy Gretchen (abaixo). (Fotos: Reprodução/Instagram)
São 22 candidaturas de mulheres trans e travestis e uma de homem trans. Geograficamente, são dezesseis candidaturas na região Sudeste, duas no Nordeste, uma na região Norte e quatro no Sul. Além das 23 pessoas eleitas individualmente, 2 foram eleitas dentro de “mandatos coletivos“, grupos informais que dividem um mandato (é importante frisar que a justiça eleitoral não reconhece juridicamente os mandatos coletivos).
Não só eleitas, mas muito bem votadas. A professora Duda Salabert (PSOL) foi a candidatura mais votada em Belo Horizonte (MG) com 37.613 votos. Linda Brasil (PSOL) também foi a mais votada em Aracaju (SE) com 5.773 votos. A cidade de Pontal (SP) também teve como mais votada uma candidata trans, Lorim de Valéria, do PDT. Benny Briolly foi a primeira pessoa trans eleita de Niterói (RJ) com 4.367 votos, a mais votada entre as mulheres.
A cidade de São Paulo teve candidaturas trans com votos expressivos. Erika Hilton (PSOL) foi a sexta vereadora mais votada da maior cidade do país, ficando em primeiro lugar no recorte de gênero entre as mulheres, com 50.508 votos, se tornando a primeira travesti negra a chegar à Câmara Municipal de São Paulo.
Pelo PL, Thammy Miranda se tornou o primeiro homem trans eleito vereador na cidade, com 43.321 votos. Na capital paulista outras duas pessoas trans foram eleitas dentro de candidaturas coletivas: Carolina Iara (PSOL) foi eleita covereadora pela Bancada Feminista com 46.267 votos, se tornando a primeira pessoa intersexo eleita, mesmo que informalmente, no país, enquanto Samara Santana (PSOL) participa da candidatura coletiva do Quilombo Periférico, eleita com 22.742 votos.
Paulette Blue (PSDB) foi eleita com 352 votos em Bom Repouso (MG), a mais votada da cidade, assim como Tieta Melo (MDB), eleita com 1.945 votos, mais votada de São Joaquim da Barra (SP). Anabella Pavão (PSOL) foi eleita com 606 votos em Batatais (SP), como terceira mais votada da cidade. Titia Chiba (PSB) foi a candidata mais votada em Pompeu (MG) com 1.220 votos, assim como Dandara (MDB), com 369 votos em Patrocínio Paulista (SP), foi a mais votada da cidade.
Também foram eleitas vereadoras: Kará (PDT) com 312 votos em Natividade (RJ), Thabatta Pimenta (PROS) com 267 votos em Carnaúba dos Dantas (RN), Filipa Brunelli (PT) com 1.119 votos em Araraquara (SP), Lins Roballo (PT) com 678 votos em São Borja (RS), Isabelly Carvalho (PT) com 1.349 votos em Limeira (SP), Maria Regina (PT) com 930 votos em Rio Grande (RS), Regininha Lourenço (Avante) com 861 votos em Araçatuba (SP), Gilvan Masferre (Democracia Cristã) com 1.347 votos em Uberlândia (MG), Paulinha da Saúde (MDB) com 438 votos em Eldorado dos Carajás (PA), Rebecca Barbosa (PDT) com 332 votos em Salesópolis (SP), Brenda Ferrari (PV) com 1.164 em Lapa (PR) e Yasmin Prestes (MDB) com 260 votos eleita em Entre-Ijuis (RS).
Em entrevista à Ponte, Bruna Benevides, pesquisadora da Antra, comemora as candidaturas eleitas. “É um marco histórico no Brasil termos tantas pessoas trans eleitas, essa representatividade é importantíssima. Estamos muito felizes, principalmente pela possibilidade de garantir que as novas gerações cresçam sabendo que esta luta tem trazido frutos e que essas pessoas estão transformando a nossa realidade, não apenas nos seus municípios, mas o impacto que a entrada dessas pessoas, em seu lugar de representação, também nos deixa esse legado”.
“Essa eleição só demonstra que estamos caminhando para um espaço em que realmente a democracia se faz presente”, diz Lis Roballo (PT), vereadora trans eleita em São Borja (RS), terra de Getúlio Vargas. “Quando a gente acredita em um projeto, consegue alcançar as pessoas, consegue falar com elas sobre política e a importância do voto delas. Podemos sim mudar as estruturas da política e fazer com que a gente tenha representatividade dentro do espaço legislativo, entendendo que é nesse lugar que os nossos direitos são pautados. Se não estamos lá, nossos direitos são cerceados, invisibilizados e emudecidos”.
Bruna explica que a Antra seguirá com um canal aberto com essas candidaturas para fortalecê-las e já pensando em candidaturas nas Eleições de 2022. “Nos colocamos à disposição para promover um diálogo fraterno, progressista e que acolha essas pessoas que estão se colocando nas Câmaras principalmente em um momento que também vemos a eleição de diversas pessoas que são contra as pautas progressistas e dos direitos das pessoas trans”.
“O recado que eu tenho dito e repetido é que lutar vale a pena. A nossa luta é constante. Temos conseguido diversos avanços, mas, como diz Angela Davis, a democracia é uma luta constante. Seguiremos aí na resistência”, finaliza.
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Com votação histórica, vereadores e vereadoras trans triplicam no país que mais mata sua população trans - Instituto Humanitas Unisinos - IHU