28 Setembro 2017
O STF decidiu permitir que professores de ensino religioso em escolas públicas possam promover suas crenças em sala de aula. Uma decisão desse tipo expressa tudo aquilo que o movimento Escola sem Partido vem rejeitando, esperneando e denunciando nos últimos anos; ou seja, a livre expressão do professor de suas crenças e ideias em sala de aula. Agora experimente dar uma olhada na página oficial do movimento. Advinha? Nem uma palavra sobre a decisão do STF. Isso mesmo, silêncio sepulcral. Onde está Miguel Nagib e seu secto de denunciadores da doutrinação? Aparentemente a acusação de "doutrinação" só serve para o outro.
Tal como o MBL era apartidário, o ESP é contra é doutrinação, menos quando são seus próprios partidos ou sua própria pregação.
Estou aguardando o "Escola sem partido" incendiar o país a partir de amanhã depois da decisão do STF de permitir o ensino religioso confessional nas escolas públicas. Minha religião é a ingenuidade.
STF mais sem noção que já tivemos! Como podem definir que o Ensino Religioso seja confessional na escola pública?
Transformar escola em igreja: PODE.
Ensinar filosofia e história: NÃO PODE.
Bem-vindo ao séc. XV.
A justiça sempre foi o Poder com menor visibilidade. Então não se discutia a corrupção e o evidente corte de classe do judiciário brasileiro.
Isso mudou um pouco nos últimos anos. A tal ponto que acho difícil encontrar alguém que discorde do fato de que o STF é uma tragédia na vida política brasileira.
Mas nada disso me preparou para ver o STF autorizar o ensino religioso CONFESSIONAL em escolas públicas. Isso é a completa negação do Estado laico e entrará para nossa história como um importante ponto de inflexão.
O argumento de que pode haver proselitismo religioso na escola pública porque a presença nas aulas não é obrigatória é um grande equívoco. Os efeitos vão ser sentidos por muitos anos: não apenas, com impacto imediato, vamos ter doutrinação religiosa Brasil afora, inclusive desprezando o caráter optativo das aulas, como, de maneira mais difusa, os religiosos vão se sentir mais livres para interferir no conteúdo escolar por meio de campanhas como a "Escola sem partido" ou contra a "ideologia de gênero". Grande desserviço do Supremo.
Eu sou contra o ensino religioso confessional. A escola deve educar para a tolerância e para o conhecimento do evento religioso (das religiões) enquanto fenômeno social e cultural. Na história, as religiões ofereceram muitas contribuições à humanidade e às ciências, e isso pode ser evidenciado dentro de um estudo/ensino, também na articulação com outras áreas do saber. Ainda: algumas das questões globais que temos hoje (guerras, migrações, pobreza, direitos, política, ciência), e também locais (intolerância, proselitismo, política, massacre de povos indígenas e invisibilidade de religiões africanas) estão de certa forma relacionadas com as religiões, ou na visão e compreensão delas, do que se envolve com elas. Sou favorável ao ensino "não" confessional. Não se deve confundir este ensino (parte constitutiva do saber) como iniciação religiosa. Num mundo pluralista e multicultural como o nosso, a educação deve servir, abrir, construir.
Estamos caminhando para trás, em vários pontos. Infelizmente!
Palocci, Lula, o Voto Crítico ... vistos a partir de junho de 2013 e da dissociação política do Palocci diante do esquema do PT (bom momento para introduzir esse termo "italiano") (entrevista na IHU On-Line)
A Carta do Paloccci confirma que ele está abrindo uma outra fase política da relação do PT com a questão da corrupção, algo que me fez logo pensar ao que aconteceu na Itália, quando as colaborações judiciárias (na esquerda armada) viraram também arrependimentos políticos. As cartas de " dissociação" que muito intelectuais italianos assinaram desde as prisões são parte disso e foram ainda mais eficazes no desmonte - para o bem e para o mal - da esquerda radical daquela época. Palocci, pelo visto, decidiu fazer as duas coisas e mostrou que tem "bambus", não apenas porque pode revelar os bastidores da escolha que Lula e o PT fizeram de usar a vitória política e eleitoral diante do escândalo do mensalão não para enfraquecer a política patrimonialista e predatória contra a qual o PT nasceu, mas para generaliza-la: não re-industrilizaram o país, mas a corrupção. Usaram o apoio que muita gente lhe deu em 2005 (eu em particular, com um manifesto pela radicalização democrática) se lixando totalmente do que dizíamos do ponto de vista da democracia e do programa: a incompetência e o autoritarismo da Dilma foram a cara do "Lula realmente existente". O apoio que muitos amigos e amigas que assinaram o manifesto que eu escrevi em 2005 (quando eu escrevia com Negri na Folha de São Paulo: "Lula é muitos" ) continuaram a dar ao Lula e ao PT è, na melhor das hipóteses, naïf e transformou o que era uma erro de análise política errada (dizer que Lula era muitos foi errado, pois Lula trabalhava pelos poucos, os Eikes, os Temer, os Odebrecht e irmãos Batista) em cumplicidade política com a falência da esquerda (com consequências potencialmente nefastas, entre as quais a emergência eleitoral do fascismo).
Os prognósticos se multiplicam sobre uma onda conservadora, uma ascensão das novas direitas, um recrudescimento dos fascismos. Pessoas até próximas se juntam a essa gramática com ares de dialética negativa, de que estaríamos num momento de largo refluxo no Brasil e no mundo. Tempos sombrios se anunciam de ameaça a direitos, democracias e conquistas. Não há dúvida que o desdobramento do último período de crises e protestos se resolveu numa restauração generalizada e que isto significa uma pior condição para travar o embate com os poderes que nos espoliam a riqueza social e magoam a vida comum. Restaria, porém, aos defensores dessa posição da vaga reacionária explicar teoricamente como eles e seus grupos permaneceram imunes a essa avalanche. E isso de um ângulo materialista, bem entendido. Se a onda fascistizante se move como um tsunami, sem fissuras e contramovimentos, sem maiores ambiguidades ou ponderações, o que nos imunizaria de maneira que a pudéssemos enxergar como pura negatividade? A resposta a essa questão, desconfio, vai se orientar à presença de valores incutidos por certa educação - familiar, partidária, cultural, intelectual - que nos dotaria de uma blindagem racional e axiológica diante das paixões, ódios, ressentimentos e outros sentimentos menores que constituem essa onda. Em suma, seríamos pessoas de esquerda diante de um mundo, majoritariamente, de direita. O problema dessa resposta, no entanto, é que ela corresponde exatamente à ideologia do lulismo. Se pegarmos seu maior ideólogo, aquele que reconhecidamente melhor a enunciou, André Singer, vamos encontrar a explicação teórica que o lulismo foi um movimento de exceção dentro de uma sociedade marcada por um "conservadorismo de fundo". Sedimentos decantados por séculos de escravidão, exploração e discriminação que fazem do ser brasileiro um conservador por excelência: moralista, racista, homofóbico, punitivista, potencial linchador. Para Singer ("Os sentidos do lulismo", 2012), longe de qualquer utopia anticapitalista ou petismo de cartilha, o lulismo não teria sido senão um momento profundamente ambivalente, pactuado e particular da história do país, em que se teria aberto uma brecha nesse bloco do Brasil profundo para se realizarem alguns programas reformistas e transformadores. Neste país, portanto, a onda fascistizante tem uma explicação direta: não passa da retomada da iniciativa por esse Brasil profundo conservador, que tem na sua fisiologia o PMDB como representante eterno e nas direitas seu representante moral. Assanhadas pelo fracasso de um projeto que, especialmente na agonia final, vestiu a identidade de esquerda, tais profundezas históricas vieram à tona violentamente, de tochas na mão. Para Singer, o sucesso do lulismo é também o seu drama. Os mesmos valores progressistas incutidos por certa educação que blindam certos grupos de serem engolfados pelas pulsões majoritárias são ineptos ou impotentes para disputar o Brasil profundo de onde elas vertem como secreções passionais, viscerais, quase míticas. E é aí que está o componente mais ideológico do lulismo: apenas Lula, sua mística, sua ligação direta, ungida, com essa profundeza da formação nacional, é que poderia cimentar o progressismo num projeto político majoritário. O lulismo fecha assim o seu esquema. Por isso, me parece que tais análises um tanto *tempestivas* (porque diagnosticam um Espírito do Tempo) da onda fascistizante, conservadora ou reacionária padeçam de uma insuficiência teórica terrível. Que é nos deixar a mercê do que os pretensos estrategistas do povo já vêm chamando de "populismo de esquerda": ou seja, o recurso ao apoio crítico a figuras execráveis que se justificam aos olhos das belas almas de esquerda, simplesmente, por serem interlocutores menos piores com tal Brasil profundo inapelável.
"La esperanza no es una virtud para gente con el estómago lleno. Los pobres son los primeros portadores de la esperanza"
Dom Leonardo Ulrich Steiner, bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da CNBB, fala sobre a redução da maioridade penal.
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