24 Julho 2017
O arcebispo Luis Francisco Ladaria Ferrer, o novo prefeito jesuíta da Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano, disse que está “em uma sintonia espontânea e profunda” com o Papa Francisco. O arcebispo falou durante uma visita recente à pátria do papa, Argentina.
A reportagem é de Nicolas Mirabet, publicada no sítio Crux, 22-07-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A Faculdade de Teologia da Universidade Católica da Argentina organizou o primeiro Simpósio Internacional de Catequese, em Buenos Aires, nos dias 11 a 14 de julho.
Organizado pelo Instituto Superior de Catequese da Argentina, que pertence à Comissão de Catequese Bíblica e Cuidado Pastoral da Conferência Episcopal Argentina, o simpósio teve entre os seus participantes o arcebispo espanhol Luis Francisco Ladaria Ferrer, o prefeito jesuíta recém-nomeado da Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano.
Entre os palestrantes, também estavam o bispo colombiano José Octavio Ruiz Arenas; o cardeal Mario Aurelio Poli, arcebispo de Buenos Aires; o arcebispo Victor Manuel Fernández, reitor da universidade; e o padre teólogo Carlos María Galli.
Quando o simpósio foi anunciado pela primeira vez, em maio, Ladaria era o secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, mas, semanas antes de chegar à Argentina, o Papa Francisco o nomeou prefeito de uma das congregações mais complexas do Vaticano.
“Quando o papa me ofereceu este lugar que eu ocupo hoje, eu lhe disse: ‘Santo Padre, se o senhor me diz isso, não há mais nada a se falar’”, disse Ladaria.
Durante a sua estada em Buenos Aires, ele falou com a revista Vida Nueva, dizendo que estava convencido de que “a Igreja não serve se se fecha em si mesma, porque estaria faltando em algo essencial, que é o anúncio”.
Em uma das suas falas neste simpósio, o senhor falou sobre o valor da imagem.
Na Idade Média, o tempo das grandes catedrais, as pessoas não sabiam ler, apenas alguns clérigos sabiam ler. As verdades da fé vinham pelas imagens: nas catedrais, os vitrais, as pinturas, os afrescos. A fé vinha pelos olhos. Eles não sabiam ler, mas sabiam quem era Jesus, que ele era o cordeiro pascal, e que aquele era o sacrifício de Isaac.
Vivemos em uma sociedade que sabe ler, mas que é fortemente mediada pela imagem e pela informação. Como o senhor vê essa realidade a partir da teologia?
É uma realidade que existe e que não é fácil de abordar. Nós, incluindo a mim, temos sido professores de teologia e nos dedicamos aos livros. No entanto, essa preocupação catequética existe, e aqui estamos, neste simpósio, precisamente para que essas verdades da fé possam ser transmitidas no contexto de hoje. E isso põe em jogo a criatividade de todos, não apenas dos teólogos, mas também dos catequistas, dos pastores da Igreja. A criatividade sempre é necessária para transmitir a proclamação e a necessidade de se mover em meio à realidade.
No mundo, há muitas situações de pobreza e de exclusão em que a Igreja se vê obrigada a atender primeiro questões imediatas, como a alimentação, antes de falar de fé. Que orientação o senhor pode dar a respeito?
Temos que ir ao encontro de tudo. A Igreja Católica sempre teve um princípio, que não é o princípio “ou, ou”, mas sim o princípio “e, e”, isto é, “et, et”. Jesus diz isso no Evangelho. É preciso ter uma visão integral da pessoa. Essa é a virtude da Igreja Católica: não é “amor a Deus ou amor ao próximo”, mas sim “amor a Deus e amor ao próximo”. “E, e” é católico.
Você já havia pensado que um jesuíta poderia ser papa?
Eu nunca teria pensado nisso, nem jamais imaginaria que eu estaria onde estou hoje, na Congregação para a Doutrina da Fé.
O que o senhor acha que Francisco assume do carisma jesuíta e põe em prática em seu pontificado?
Talvez essa resposta teria que ser dada por alguém que o vê de fora. Posso dizer que eu me encontro em uma sintonia profunda e espontânea com o papa. Quando falamos, temos as mesmas preocupações. De fato, quando o papa me ofereceu este lugar que eu ocupo hoje, eu lhe disse: “Santo Padre, se o senhor me diz isso, não há mais nada a se falar”. Acho que esta é uma coisa que Santo Inácio de Loyola tinha muito interiorizada: o que o papa dizia era o que se devia fazer.
Quando o papa o nomeou prefeito, o senhor já tinha a sua agenda organizada...
Eu planejei esta viagem para a Argentina desde muito antes dessa nomeação. Então, quando ele me nomeou, eu perguntei ao Papa Francisco expressamente se eu deveria cancelar esses compromissos. Ele me disse que eu tinha que viajar e cumprir com o que eu já havia concordado.
Já que os argentinos estão à espera de Francisco e muitos fazem especulações políticas sobre quando ele irá aparecer, o papa fez alguma sugestão para o senhor, antes de sair para a Argentina?
O Papa Francisco não me deu nenhuma indicação. Eu também não tenho nenhum conhecimento especial sobre o que acontece na Argentina... Eu tenho uma ideia geral sobre outros países, mas, particularmente sobre a Argentina, eu não tenho um conhecimento específico. O Papa Francisco apenas me disse: “Você tem que ir”.
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“Estou em uma sintonia espontânea e profunda com o papa.” Entrevista com Luis Ladaria - Instituto Humanitas Unisinos - IHU