15 Julho 2017
Giovanni Franzoni, padre em 1955, ex-abade beneditino de São Paulo Fora dos Muros e Padre conciliar na última fase do Vaticano II, fundador, iniciador e guia da sua Comunidade de São Paulo, novamente leigo nos anos 1970 e esposo desde os anos 1990: morreu nessa quinta-feira, aos 89 anos.
A reportagem é de Gianni Gennari, publicada no jornal Avvenire, 14-07-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Nascido na Bulgária, onde o seu pai trabalhava, mas crescido na Florença de Giorgio La Pira, do Pe. Lorenzo Milani e de muitos outros cristãos “singulares” e significativos para muitos, até mesmo para além dos muros da Igreja. Ele também significativo: escritor, polemista, guia para muitos, amado e rejeitado, sempre discutido, capaz de abrir no caso da Igreja Católica italiana ecos que foram muito além das fronteiras eclesiais.
Como jovem frade, lecionou filosofia e história em Farfa, mas a sua eleição a abade de São Paulo o transformou no mais jovem “Padre” do Concílio nas duas últimas sessões.
Abade muito amado pelos seus coirmãos, por exemplo, capaz de assistência especial, delicada e fraterna especialmente aos monges idosos, muitas vezes (e só na época) muito esquecidos...
Um “pai” e “irmão” também como abade. Na base, o Concílio Vaticano II, a luz do Evangelho e os problemas sociais do momento, especialmente na época de 1968, que, a partir do maio francês, chegou também à comunidade católica movida pela renovação conciliar.
Era o tempo em que a visão social de um marxismo sonhado “a partir do rosto humano” fascinou muitos também na sociedade italiana. Homem capaz de guiar com autoridade, sensível à problemática social em relação à cidade do homem e da mulher, mas, na Igreja, capaz de levantar interrogações que se conectavam com a grande tradição patrística, muitas vezes revista também à luz das elaborações sociológicas da cultura de esquerda: bastará lembrar um dos seus primeiros escritos, “A Terra é de Deus”, que retomava temas antigos à luz da realidade do tempo vivido na Igreja e na sociedade.
Se a terra é de Deus, quem se apossa dela trai a paternidade de Deus, por entregá-la ao poder iníquo – isto é, que produz injustiça – do homem, então está fora do caminho... Sabe-se que algumas passagens da constituição conciliar Gaudium et spes também se deveram às suas sugestões. Paulo VI gostava dele, mas, quando os fatos da sociedade italiana viram Franzoni e os seus em posições políticas e doutrinais não entendidas e muito menos aprovadas pela pastoral católica, chegaram dolorosas e duras dilacerações que só o tempo posterior levaria todos a compreender melhor e com um maior sentido de equilíbrio.
No entanto, ele foi um dos primeiros a ver o risco das riquezas administradas em nome da Igreja e a pensar de forma polêmica sobre a função das instituições da Igreja (o IOR, por exemplo, e já em 1973).
Chegou 1974, ano decisivo, e trouxe consequências pesadas, com a forte oposição do ex-“abade vermelho” ao referendo de revogação da lei sobre o divórcio, desejado pela Democracia Cristã de Fanfani e que, de alguma forma – apesar das hesitações e dúvidas do próprio Paulo VI –, “forçou” a Igreja como tal a apoiar a revogação da nova disciplina: foi uma derrota que marcou não só aquele tempo.
A sua comunidade tinha sido parte ativa no chamado “Congresso sobre os males de Roma” de 1974. As eleições políticas e municipais de 1975 e 1976, palco dos sucessos do Partido Comunista Italiano de Berlinguer, foram determinantes para uma fratura “política” a mais de Franzoni e os seus.
E, em 1975, depois da suspensão a divinis do ano anterior, chegou também a demissão do estado clerical. Na realidade daqueles anos, ele viu e sinalizou também a transformação anti-ideológica e pluralista dos partidos da esquerda italiana, especialmente do PCI berlingueriano: seguiu-se a acusação de marxismo e subversão social.
Em 1991, Franzoni tinha se casado com uma jornalista japonesa e, até o fim, idoso e doente, continuou escrevendo, falando, sempre atento também às posições diferente, mas honestamente capaz de julgamento até mesmo surpreendente e sempre ajudando a maturação da consciência de quem se encontrava com ele.
A sua comunidade continuou ao longo dos anos a celebração dominical e a ação social em um local da Via Ostiense, recebido pela Abadia de São Paulo. Depois de 40 anos, em 2014, ele resumiu a sua aventura, repleta de mundo e, apesar de tudo, também de Igreja, na “Autobiografia de um católico marginal” (Ed. Rubbettino), importante para entender a fundo a sua sempre renovada vida social e, apesar de tudo, eclesial. Chega agora a hora da paz: fecham-se os olhos, morrendo, mas para ver tudo, e plenamente.
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Faleceu Giovanni Franzoni, “católico da dissidência” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU