08 Julho 2017
Um longo aplauso acolheu o anúncio do nome do 144º arcebispo de Milão, uma das maiores e mais importantes dioceses do mundo. É o atual vigário-geral, Mario Delpini, 66 anos no fim deste mês. Ele foi anunciado, na capela da Cúria ambrosiana, pelo cardeal Angelo Scola, que falou de “uma notícia de grandíssima importante para a nossa Igreja e para toda a cidade”.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 07-07-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A partir dessa sexta-feira, 7, o cardeal cessante torna-se administrador apostólico da diocese. O ingresso do sucessor está previsto para o dia 24 de setembro. Desde as primeiras palavras proferidas de improviso, Delpini revelou algo de si mesmo: disse-se inadequado, pediu a ajuda de todos, disse que quer muito ouvir e possibilitar que todos falem.
Depois do anúncio, o cardeal Scola traçou um breve perfil do seu sucessor, lembrando: “Ele se ocupou de questões de gestão e também de questões delicadas, cuja importância muitas vezes escapa da maioria. Dom Delpini é um homem de oração, que vive de um modo muito ascético e em grande pobreza. E enfatiza o essencial da fé. Conhece os sacerdotes muito bem. É incansável ao visitar as paróquias – continuou o cardeal – e é capaz de diálogo. Enfrentou as situações mais diversas, incluindo as de pobreza e exclusão”.
O arcebispo cessante acrescentou: “Sempre tomamos as decisões juntos depois de um franco debate. Estou convencido de que o papa, com esta nomeação, deu um grande presente para a Igreja de Milão, para todos os homens e mulheres que habitam estas terras”.
O cardeal Scola também quis reiterar publicamente o seu agradecimento ao papa: “O Santo Padre me disse que não tinha pressa, mas eu pedi para nomear o meu sucessor, para evitar o risco de inércia em uma diocese tão complexa e articulada. O papa acolhe esse meu pedido, e eu sou grato a ele”.
Depois, o novo arcebispo Delpini tomou a palavra: “Apesar do elogio que Sua Eminência acaba de fazer, a minha atenção se concentra agora na minha inadequação para a tarefa. Agradeço ao Santo Padre, agradeço ao cardeal Scola, que, pelo que eu sei, encorajou e aprovou esta escolha. Mas sinto, sobretudo, a minha inadequação. Já se vê pelo nome: depois de nomes como Angelo, Dionigi, Giovanni Battista, Carlo Maria... Agora vocês vão dizer: lá vem o Mario. Que nome é, já se entende... Foi o que a minha mãe e o meu pai me deram”.
“A minha inadequação – continuou Delpini – é uma avaliação muito compartilhada. Estive toda a minha vida aqui, não poderei ser uma surpresa. Quem me encontrou, acho que diz: ‘Sim, é um bom homem... Mas arcebispo de Milão, não sei se ele vai estar à altura!’. Eu participei e tomei tantas decisões que marcaram a vida das pessoas e das instituições. E, quando se tomam decisões, não tendo o dom da infalibilidade, algumas podem ter sido equivocadas e desagradáveis. Eu gostaria de pedir para não permanecerem apegados ao ressentimento, peço desculpas por decisões não suficientemente atentas às pessoas. Peço para recomeçar com benevolência, para mostrar uma Igreja unida, feliz, disponível ao debate e também aceitando que, no fim, alguém deve decidir.”
O novo arcebispo, depois, falou da Igreja ambrosiana e da cidade. “Para a Igreja de Milão, era preciso um arcebispo santo, enquanto eu entendo que sou medíocre, um bom homem, mas medíocre. Somos convidados a rezar pela Igreja e pelo arcebispo, a dar testemunho daquela santidade de povo e daquele esforço generoso que existe em Milão. Se, depois, penso nos desafios que a cidade, a metrópole, a região devem enfrentar, em quanto inovação, cultura, inteligência existem, seria preciso um bispo que fosse um gênio. Se eu considero a bibliografia dos meus antecessores – Scola, Tettamanzi, Martini –, realmente eu fico um pouco esmagado ao recolher a herança deles. Porque, nesses anos, eu escrevi algumas bobagens, historinhas para crianças... Precisarei do conselho, do debate com os teólogos e com os acadêmicos de Milão para interpretar o tempo em que vivemos e o futuro que nos espera.”
“Além disso – continuou – penso na complexidade da Igreja de Milão e da diocese, com todas as forças, as iniciativas, os grupos, as instituições. Acho que seria preciso um bispo carismático e que arrastasse, que soubesse indicar com impulso o caminho, enquanto eu, em vez disso, fui um empregado, especialmente nos últimos anos. Aqui, na Cúria, somos bons e fazemos muito trabalho, mas arrastar e dar um selo ao povo cristão e à sociedade civil, como herdeiros de Ambrósio, Carlos... Claramente, eu não sou esse personagem! Vou precisar de partilha, corresponsabilidade, sinodalidade que, talvez, compense a pobreza e a modéstia das minhas qualidades com um caminho de povo.”
Delpini, em seguida, recordou que conhece muitos padres de Milão: “Nunca escondi a minha estima e admiração por eles. Conheço os leigos, aprecio quanta inteligência, empreendedorismo e capacidade criativa existem no laicado de Milão. Peço ajuda para fazer um caminho juntos, porque, sozinho, não sei fazer nada e não estou à altura daquela liderança que seria desejável”.
Sobre os desafios que o esperam, ele disse: “Se eu considero os bolsões de pobreza e as muitas pessoas com tradições culturais tão diversificadas, parece-me que a cidade deve se interrogar sobre qual rosto terá o mundo em que somos chamados a viver. Sinto-me um pouco perdido diante disso. Por isso, é preciso que eu e todos aqueles que trazem isso no coração aprendam a ouvir os cidadãos do futuro. Somos chamados a imaginar uma sociedade nova que devemos construir. Milão tem esta vocação: ser capaz de imaginar uma população composta, mas capaz de viver unida, rica em tradições culturais, mas capaz de construir um pertencimento unitário. Pedirei ajuda a todos”.
O novo arcebispo de Milão, depois, respondeu a três perguntas dos jornalistas presentes no anúncio da nomeação. A primeira foi: “Que dom o senhor pede ao Espírito Santo. E, depois, virá morar neste palácio?”. “Eu pediria para esta diocese e para a sociedade civil – respondeu Delpini – o dom da alegria. Parece-me que é um dos ecos mais habituais do Evangelho: parece-me que o papa reiterou justamente essa mensagem, que ele considera central. Com o Evangelho, vem a alegria, Evangelii gaudium, porque nós, milaneses, somos bons, eficientes, mas às vezes há nervosismo, impaciência, lamento. Peço ao Espírito o dom da alegria. Quanto ao palácio, por enquanto, o cardeal mora nele. Eu não tenho nenhuma intenção de fazer mudanças. Depois, vou pensar nisso, porque o elogio que Scola teceu também incluía a expressão de que eu vivo em extrema pobreza. Mas também não é que eu viva debaixo de uma ponte. Portanto, não tenho a urgência de me alojar no palácio”.
A segunda pergunta foi: “Qual é a palavra que o senhor quer dizer aos fiéis milaneses?”. “Como o Papa Francisco escolheu o vigário-geral da diocese, ele quer recomendar uma continuidade com os antecessores e com o cardeal Scola. Eu acho que deveremos continuar no caminho traçado pelos bispos que serviram a esta Igreja. Eu não tenho nenhum projeto pastoral. Uma coisa sim: que todos possam falar comigo, que todos possam ter voz... Serei eu que deverei ouvi-los, aqueles que estão de acordo e aqueles que não estão de acordo, para não ser precipitado nas decisões. Depois, aprenderemos o ofício.”
Por fim, a última pergunta abordou os desafios a serem enfrentados, em particular o dos migrantes. “Eu gostaria de dizer que sou um padre. Portanto, a mensagem que eu posso dar à cidade é a de se recordar de Deus, buscar a Deus, viver a relação com Deus, porque estou persuadido de que uma cidade secularizada como a nossa, que vive a laicidade, sem a referência a Deus, não tem esperança. Parece-me que as primeiras palavras que o papa disse às Case Bianche foram: ‘Eu venho como um sacerdote’. Eu venho lhes falar de Deus e do Evangelho de Jesus. A primeira mensagem que eu gostaria de dar é essa, e eu a sinto irrenunciável, como servo do Senhor e ministro da Igreja. Gostaria que todos tivessem uma esperança de vida eterna e a certeza de que Deus nos ama e nos quer felizes. E, sobre isso, definir uma convivência fraterna que não contraponha as religiões como inimigas que se desafiam, mas como caminhos que ajudam a reencontrar as raízes do humanismo. Nenhum de nós vem ao mundo para morrer. Nós, para vivermos, precisamos de Deus.”
Uma pergunta também foi dirigida ao arcebispo cessante, o cardeal Scola, que destacou: “Da visita do papa em diante, ficou mais claro para mim que as raízes de um cristianismo de povo ainda estão vivas na nossa diocese, e absolutamente não devemos perdê-las. Devemos sacudir a terra ao nosso redor de modo que um cristianismo de povo floresça novamente para a plenitude e a liberdade de todos”. Scola recordou o zelo do padre ambrosiano, que “foi artífice também da vida civil”, e citou o exemplo das periferias. Por fim, disse que “Milão tomou consciência de ser uma metrópole europeia, e agora todos reconhecem isso”.
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Delpini, novo arcebispo de Milão: “Inadequado, eu preciso de ajuda. Vou ouvir a todos” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU