30 Mai 2017
“O G7 de Taormina é inútil. Ou, melhor, é o primeiro G-Zero oficial.” Quem fala é justamente o inventor do conceito de “G-Zero”, Ian Bremmer, célebre analista político estadunidense e fundador do think tank Eurasia Group.
A reportagem é de Antonello Guerrera, publicada por La Repubblica, 27-05-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Bremmer tinha apresentado a sua profecia no ensaio Every Nation for Itself (“Cada nação por si”): G-Zero significa uma nova desordem geopolítica em que o Ocidente perde cada vez mais influência, cúpulas restritas como o G7 assumem uma representação insignificante, as organizações internacionais como a ONU e a Otan são cada vez menos decisivas, e nenhum dos outros protagonistas globais consegue preencher o vazio. Resultado: o mundo será cada vez mais instável, de acordo com Bremmer.
Mas, na cúpula de Taormina, buscam-se soluções para problemas que podem ter apenas uma resposta global, como o ambiente, o terrorismo, a imigração.
É claro. Mas sairá muito pouco disso dela, porque participam do G7 sete países que importam cada vez menos. Com a economia capitalista e a globalização, era iminente o surgimento da potência econômica e geopolítica da China, a desorientação da Europa, o peso crescente da Rússia, a implosão do Oriente Médio, uma relutância cada vez mais marcada dos Estados Unidos em relação ao resto do mundo, especialmente pelos valores que transmitia antigamente.
Trump, com o seu populismo, será o golpe final para o atual sistema geopolítico?
O mundo G-Zero é um processo econômico e político irreversível, com ou sem Trump. Mas ele marcou o fim da “Pax americana”. Os Estados Unidos continuam sendo intervencionistas, mas com um horizonte de seus interesses nacionais muito mais restrito. Os Estados Unidos são cada vez mais unilaterais, que, aliás, é a essência do conceito de G-Zero.
Mas parece haver no G7 os pressupostos para uma linha comum, por exemplo contra o terrorismo, depois do massacre em Manchester.
Parece-me difícil de pôr em prática.
Por quê?
Não esqueçamos que, quando Trump pede que a Otan se unisse à coalizão contra o Isis, esse também é um modo para forçar os aliados a colocarem mais dinheiro. Os outros membros da Aliança sabem disso e estão relutantes. É por isso que Stoltenberg diz que a Otan só pode participar em um papel não militar. Até mesmo sobre o clima voltaram os dissabores. Outro exemplo de divisões, talvez, irreconciliáveis.
Qual é o futuro do mundo G-Zero?
Muitos conflitos geopolíticos a mais. E, se organizações internacionais como a ONU e a Otan perdem cada vez mais peso e respeito, a instabilidade vai se expandir especialmente na economia e na segurança. Enquanto isso, os governos, esmagados pelas pressões domésticas da opinião pública, dedicam-se cada vez menos a políticas globais. O Ocidente tem instituições e anticorpos para resistir aos populismos, os países em desenvolvimento, não. E isso vai desencadear tensões também nos países emergentes. Se, em 2008, houve a recessão econômica, a partir de 2017, espera-se a recessão geopolítica.
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“G7? Não, G-Zero. E o mundo será cada vez mais instável." Entrevista com Ian Bremmer - Instituto Humanitas Unisinos - IHU