03 Abril 2017
“Eu te amo.” A menina fica na ponta dos pés e estende os braços até tocar o rosto de Francisco, percorre atentamente os seus traços com a ponta dos dedos, a cabeça baixa, enquanto o papa a olha como se fosse ele que estivesse recebendo a bênção: “Eu também te amo”. A visita-surpresa ao centro para cegos e deficientes visuais Sant’Alessio-Margherita di Savoia de Roma é a imagem da misericórdia que Bergoglio colocou no centro do seu pontificado.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 01-04-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Quem acolheu Francisco na tarde da última sexta-feira foram 50 crianças que não veem desde o nascimento ou que ficaram cegas por causa de doenças muito graves. Foram chamadas de “Sextas-feiras da Misericórdia” as visitas ao excluídos que o papa decidiu continuar mesmo depois do Jubileu.
A misericórdia como “realidade concreta” na qual “Deus revela o seu amor como um pai ou uma mãe que se comovem a partir das profundezas das entranhas pelo seu filho”, explicava: o verbo que, no grego dos Evangelhos, descreve a compaixão de Jesus, splanchnízomai, vem de splánchna, o útero materno.
E Francisco, acompanhado pelo arcebispo Rino Fisichella, aproxima-se das crianças, abraça-as e as acaricia, beija-as na testa, uma por uma. É Sophie, de nove anos, que fica se pé para conhecer pelo tato o rosto do papa. “O amor compartilhado, as palavras”, escrevia em Elogio da sombra um grande poeta cego amigo de Bergoglio, Jorge Luis Borges.
As mães não seguram as lágrimas, Francisco tem os olhos brilhando: “Eu rezo por vocês, e vocês rezam por mim”. No andar de cima, há 37 idosos, na capela outras tantas crianças muitas vezes afetadas por deficiências múltiplas. Nenhum discurso. “Francisco ‘toca’ a vida de pessoas das quais a nossa sociedade hoje sequer conhece a existência”, murmura Dom Fisichella.
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A carícia da menina que não vê - Instituto Humanitas Unisinos - IHU