23 Março 2017
A definição do segundo turno das eleições presidenciais no Equador colocou a lupa sobre os negócios do candidato banqueiro. Segundo documentos públicos, Lasso teria vendido para si mesmo uma sucursal do Banco Banisi no Panamá.
A reportagem é de Cynthia García e publicada por Página/12, 22-03-2017. A tradução é de André Langer.
Guillermo Lasso, dono do Banco de Guayaquil, candidato da direita à presidência, que, no dia 02 de abril enfrenta, no segundo turno, Lenín Moreno, caminhava na quinta-feira passada em um ato de campanha, quando entre os microfones, um jornalista lhe perguntou sobre a investigação publicada no Página/12 que revelou sua rede econômica de fideicomissos e empresas offshore nos paraísos fiscais do Panamá, Ilhas Caimã e Delaware com 49 companhias com nomes de fantasia que ocultam sua identidade e a de familiares.
- É um jornalista dos meios de comunicação públicos – respondeu Lasso com um sorriso que virou careta, sem olhar para a pessoa que lhe tinha feito a pergunta e tentando proteger-se entre os demais microfones.
- Meu patrimônio é público, público – repetiu. Está no Equador, é publico e todos o conhecem e eu trabalhei para isso. Não como os corruptos do governo que você representa, que ocultam a lista da Odebrecht. Vá e investigue a lista da Odebrecht, amigo. Fora Correa, fora – gritou Lasso dando por terminada a resposta.
A verdade é que as revelações de desvios patrimoniais e descumprimentos da legislação fiscal às quais esta jornalista teve acesso não são públicas. O candidato da direita beneficia-se do cerco midiático protetor da maioria dos meios privados.
O Banisi S.A. é um banco no Panamá que, em 2013, era subsidiária 100% do Banco de Guayaquil, propriedade de Guillermo Lasso. A lei equatoriana, desde 2014, impede que banqueiros e bancos equatorianos tenham subsidiárias de sucursais em paraísos fiscais. Foi uma lei sancionada para evitar que os próprios banqueiros evadissem capitais. Diante disso, os donos de bancos com subsidiárias em paraísos fiscais estão obrigados a vendê-las. O Banisi Panamá passou então a pertencer a uma holding: 100% das ações do Banisi S.A. foram transferidas para a Banisi Holding S.A.
Na superintendência de bancos do Panamá existe um documento chamado “Comunicado ao Público” que indica quem são os diretores da Banisi Holding e aí está consignado que Guillermo Lasso é o presidente da Banisi Holding, sua esposa é a vice-presidenta da Banisi Holding e seu filho é secretário-tesoureiro da Banisi Holding S.A.
Foi o próprio Lasso quem, em 2016, depois das revelações dos Panamá Papers, através de um comunicado em sua página, reconheceu que era proprietário de um banco nesse país centro-americano: “a única empresa panamenha ativa chama-se Banisi Holding S.A., proprietária do Banco Banisi...”.
Em 2015, um relatório da qualificadora internacional Deloitte, que faz auditoria para a Banisi Holding S.A., revelou que grande parte das ações da Banisi Holding pertencia a Pietro Overseas e, portanto, Pietro Overseas é a principal novidade deste fato, porque é a empresa que supostamente vendeu o banco a Guillermo Lasso no Panamá. Deloitte considera Pietro Overseas a sociedade controladora: em termos legais significa que tem mais de 51% das ações da Banisi Holding.
Curiosamente, Pietro Overseas tem apenas um capital de 10 mil dólares, ao passo que o Banisi tem 300 milhões em ativos e a Banisi Holding, que é a figura intermediária, tem 30 milhões de dólares em ativos.
Fontes financeiras às quais esta jornalista teve acesso asseguram que Pietro é Lasso e que na realidade o candidato à presidência vendeu para si mesmo o banco do Panamá ocultando-o nessa empresa com nome fantasia italiano, que se você faz uma busca na internet só aparecem os registros de um escritório de advocacia especializado em negócios offshore.
O presidente da Banisi Holding é Guillermo Lasso Mendoza, sua esposa é tesoureira e seu filho, o secretário. Essas designações são feitas pelo acionista majoritário: Pietro Overseas.
Para maior vinculação, Juan Fernando Noboa, advogado de Guillermo Lasso, fez transferências bancárias para Alemán Cordero, o mencionado escritório panamenho especializado em empresas offshore que criou a empresa Pietro.
Seria como um encaixe de Mamuskas [ou Matrioskas, bonequinhas encaixadas umas nas outras]: Pietro nomeia Lasso como presidente da Banisi Holding. A Banisi Holding controla o Banco Banisi. A Banisi Holding nomeia Lasso como presidente do Banco Banisi... Lasso controla Pietro?
Em sua própria página, no dia 05 de abril de 2016, às 18h45, Guillermo Lasso acrescentou sobre o Banco Banisi: “Um banco formal, com escritórios e endereço conhecidos, devidamente autorizado pela Superintendência de Bancos, e que realiza atividades legais. Um negócio legítimo. Neste empreendimento trabalha o meu filho Juan Emilio”.
A verdade é que os acionistas do Banisi são empresas de papel e tem apenas dois caixas automáticos em todo Panamá.
Segundo o relatório de qualificação de risco do Banisi, 66% de todos os depósitos que estão nesse banco no Panamá pertencem a equatorianos. Além disso, a superintendência de bancos do Panamá autorizou o Banco Banisi a abrir um escritório de representação no Equador e seu domínio de internet, o Banisi.com, é acionado do próprio escritório do Banco de Guayaquil.
O portal de internet do Banisi não apenas funciona na cidade de Guayaquil, como do mesmíssimo prédio do Banco de Guayaquil. Os especialistas são da opinião de que, na verdade, dedica-se a evadir capitais equatorianos: “Todas as offshore são administradas a partir do segundo andar dos escritórios aqui no Equador. Se você for disfarçada de empresária bem sucedida ao Banco de Guayaquil e disser ‘eu gostaria de fazer um depósito, mas no Banisi’, aguarda um momento e a levam ao segundo andar, onde o elevador não para e há um escritório que parece a sala do Batman... Você entra e aí faz o depósito no Banisi. Nunca acontece que o equatoriano toma o avião e leva o dinheiro para o Panamá. Tudo é feito aqui mesmo, mas é registrado nos livros do Panamá”, explicam as fontes consultadas.
Lasso disse: “é um banco normal, comum; deixem-me ser empresário”. Mas o Banisi é um banco que só existe no papel, um banco offshore.
Nos anos 1990, quando Lasso foi um político ativo, promoveu a desregulamentação do sistema bancário que permitiu que os banqueiros pudessem outorgar empréstimos às suas próprias empresas. As companhias não pagavam o empréstimo e evadiam esse dinheiro para o exterior. Era uma gigantesca simulação, uma fraude, a forma de roubar do banco da maneira mais fácil. No Equador, quando se fala de créditos vinculados, proibidos desde 2002, as pessoas têm claro que significa emprestar a si mesmo.
A Justiça deve investigar se o banco no Panamá é Pietro, então Lasso é Pietro; uma operação vinculada, porque estaria vendendo a si mesmo. Se se comprovar isso, esta ação constitui o crime de peculato bancário, que pode ser punido com prisão.
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Equador. Lasso em xeque-mate pelos negócios no Panamá - Instituto Humanitas Unisinos - IHU