25 Janeiro 2017
Uma comunicação “construtiva”, que rejeite os preconceitos frente ao outro e que rompa o círculo vicioso da angústia e do medo, sem conceder ao mal um papel de protagonismo. Foi o que pediu o Papa Francisco na mensagem para o Dia das Comunicações Sociais, publicado no dia 24 de janeiro de 2017, festa de São Francisco de Sales, patrono dos jornalistas.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 24-01-2016. A tradução é do Cepat.
“Gostaria com esta mensagem de chegar e animar todos aqueles que, tanto no âmbito profissional como no das relações pessoais – escreveu Bergoglio – “moem”, todos os dias, muita informação para oferecer um pão terno e bom a todos os que se alimentam dos frutos de sua comunicação. Quero exortar a todos a uma comunicação construtiva que, rejeitando os preconceitos contra os demais, fomente uma cultura do encontro que ajude a olhar a realidade com autêntica confiança”.
Francisco se disse convencido que “é necessário romper o círculo vicioso da angústia e frear a espiral do medo, fruto desse costume de se centrar nas “más notícias” (guerras, terrorismo, escândalos e qualquer tipo de frustração no acontecer humano) ”. Contudo, reconheceu o Papa, não se trata de promover “uma desinformação na qual se ignore o drama do sofrimento, nem de cair em um otimismo ingênuo que não se deixa afetar pelo escândalo do mal”.
Ao contrário, Francisco convidou a procurar “superar esse sentimento de desgosto e de resignação que com frequência se apodera de nós, lançando-nos na apatia, gerando medos ou nos dando a impressão de que não se pode frear o mal”. Em um sistema comunicativo no qual “reina a lógica segundo a qual para que uma notícia seja boa é preciso causar um impacto, e onde facilmente se faz espetáculo com o drama da dor e do mistério do mal, se pode cair na tentação de adormecer – observou Bergoglio – a própria consciência ou de cair no desespero”.
Por isso, o Papa busca favorecer um estilo de comunicação “aberto e criativo, que não dê todo o protagonismo ao mal”, mas que tente “mostrar as possíveis soluções, favorecendo uma atitude ativa e responsável nas pessoas para as quais a notícia é dirigida”.
A vida do homem, explicou Francisco, não é só “uma crônica asséptica de acontecimentos, mas é história, uma história que espera ser narrada mediante a escolha de uma chave interpretativa que saiba selecionar e reunir os dados mais importantes”. A realidade não tem um significado unívoco, porque “tudo depende do olhar com o qual é percebida, do “cristal” com o qual decidimos olhá-la”. Para os cristãos, “as lentes que nos permitem decifrar a realidade não podem ser outras que as da boa notícia, partindo da “Boa Nova” pela excelência: o Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”.
Uma notícia que “não é boa porque está isenta de sofrimento, mas porque contempla o sofrimento em uma perspectiva mais ampla, como parte integrante de seu amor pelo Pai e pela humanidade. Em Cristo - escreveu o Papa -, Deus se fez solidário com qualquer situação humana, revelando-nos que não estamos sós, porque temos um Pai que nunca se esquece de seus filhos”.
Nesta perspectiva, “cada novo drama que acontece na história do mundo também se converte no cenário para uma possível boa notícia, a partir do momento em que o amor consegue sempre encontrar o caminho da proximidade e suscita corações capazes de se comover, rostos capazes de não se desmoronar, mãos prontas para construir”. O Papa convidou os comunicadores a “descobrir e iluminar a boa notícia presente na realidade de cada história e no rosto de cada pessoa”.
“A esperança – concluiu Francisco – é a mais humilde das virtudes, porque permanece escondida nas dobras da vida, mas é similar a levedura que faz fermentar toda a massa. Nós a alimentamos lendo novamente a Boa Nova, esse Evangelho que foi muitas vezes “reeditado” na vida dos santos, homens e mulheres convertidos em ícones do amor de Deus”.
Durante a apresentação da mensagem do Papa no Vaticano, o Prefeito da Secretaria para a Comunicação, monsenhor Dario Viganò, citou o filme de Wim Wenders, Tal lejos y tan cerca (Tão longe, Tão perto), que começa com uma citação do Evangelho de Mateus: “A lâmpada do corpo é o olho. Se o olho é sadio, o corpo inteiro fica iluminado. Mas, se o seu olho está doente, o corpo inteiro fica na escuridão. Se a luz que existe em você é escuridão, como será grande a escuridão!” (6, 22-23). A pureza, continuou Viganò, “se refere à modalidade do olhar, não ao objeto observado”, e “quando Jesus fala do impuro não se refere ao âmbito da vida sexual, mas à hipocrisia”.
O encontro com a imprensa, moderado pela vice-diretora da Sala de Imprensa, Paloma Ovejero, foi realizado, pela primeira vez, com pequenas poltronas, estilo talk show. Também interveio a correspondente da CNN, Delia Gallagher, destacando que em uma época de “pós-verdade”, quando “o presidente dos Estados Unidos critica os números dados pela imprensa sobre as pessoas que participaram da cerimônia de posse”, é urgente como nunca que os jornalistas “digam a verdade e, seja como for, deem as notícias com atenção”.
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Que o mal não seja protagonista na comunicação, pede o Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU