Por: André | 16 Mai 2015
Eles são cada vez mais diferentes um do outro. A crônica pública segue pintando o Papa Francisco como um revolucionário. Mas os fatos provam o contrário.
A reportagem é de Sandro Magister e publicada por Chiesa, 15-05-2015. A tradução é de André Langer.
Há agora duas versões do Papa Francisco cada vez mais distantes uma da outra: o Francisco dos meios de comunicação e o verdadeiro, o real.
O primeiro é super conhecido e esteve na onda desde a sua primeira aparição na sacada da Basílica de São Pedro.
É a história do Papa que revoluciona a Igreja, que depõe as chaves de ligar e desligar, que não condena, mas só perdoa, mais ainda, nem sequer mais julga, que lava os pés de uma prisioneira muçulmana e de um transexual, que abandona o palácio para se lançar às periferias, que abre caminhos em todos os campos, sobre os divorciados recasados e sobre o dinheiro do Vaticano, que fecha os costumes do dogma e abre as portas da misericórdia. Um Papa amigo do mundo, de quem já se louva a iminente encíclica sobre o “desenvolvimento sustentável” antes mesmo de conhecer o seu conteúdo.
Com efeito, nas palavras e nos gestos de Jorge Mario Bergoglio há muito que se presta a este relato.
O Francisco dos meios de comunicação é um pouco criação também sua, genial, que da noite para o dia reverteu milagrosamente a imagem da Igreja católica, de opulenta e decadente a “pobre e para os pobres”.
Mas, quando se toca com a mão apenas aquilo que é contribuição verdadeiramente nova do pontificado de Francisco, a coisa muda.
A velha cúria, tão detestada com ou sem razão, ainda está ali inteira em sua totalidade. Nada foi desmantelado ou substituído. As novidades são todas sobre coisas que se agregam: novos dicastérios, novos escritórios, novos gastos. Os diplomatas de carreira, que o Concílio Vaticano II quase chegou a abolir, estão mais no poder do que antes, também ali onde se esperava encontrar os “pastores”, como à frente do Sínodo dos Bispos ou da Congregação para a o Clero. Para não falar do “círculo interior” em contato direto com o Papa, carente de papéis definidos, mas muito influentes e com penetrantes ramificações nos meios de comunicação.
Depois há as questões candentes, que apaixonam e dividem muito mais a opinião pública: o divórcio e a homossexualidade.
O Papa Francisco quis que se discutisse abertamente e o fez ele mesmo, com poucas, estudadas e muito eficazes frases impactantes, como a de “quem sou eu para julgar?”, que se converteu na marca registrada de seu pontificado, dentro e fora da Igreja.
Durante meses e meses, entre os dois verões do seu primeiro e segundo anos como Papa, Bergoglio deu espaço e visibilidade aos homens e às correntes favoráveis a uma reforma da pastoral da família e da moral sexual.
Mas quando, no sínodo de outubro passado, se verificou que entre os bispos as resistências a esta reforma eram muito mais fortes e difundidas que o previsto, corrigiu o tiro e daí em diante não disse mais uma única palavra de apoio aos inovadores. Pelo contrário, voltou a martelar sobre temas controversos – o aborto, o divórcio, a homossexualidade, a anticoncepção – sem jamais se separar um milímetro do rígido ensinamento de seus antecessores Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI.
De outubro para cá, Francisco interveio sobre tais questões não menos que 40 vezes, atacando pesadamente sobretudo a ideologia de “gênero” e sua ambição de colonizar o mundo, não obstante, disse, seja “expressão de uma frustração e de uma resignação que busca eliminar a diferença sexual porque não sabe mais se confrontar com ela”. Passando das palavras aos fatos, negou o “placet” ao novo embaixador da França, porque é homossexual.
Também sobre o divórcio Francisco endureceu muito. “Com isso não se resolve nada”, disse recentemente sobre a ideia de dar a comunhão aos divorciados recasados, menos ainda, acrescentou, se eles a reclamam como um direito, porque a comunhão “não é um medalha, uma honraria, não, não”.
Sabe que nesta matéria as expectativas são muito grandes e sabe que ele mesmo as alimentou, mas agora se distanciou delas. Define-as como “expectativas desmesuradas”, sabendo que não pode satisfazê-las, porque depois de ter anunciado tanto um governo mais colegial da Igreja, do Papa junto com os bispos, é necessário que Francisco se alinhe à vontade dos bispos, em grande maioria conservadores, e renuncie a impor uma reforma que seria rechaçada pela maioria deles.
Apesar de tudo isso, os meios de comunicação seguem vendendo a história do Papa “revolucionário”, mas o verdadeiro Francisco está cada vez mais longe deste perfil.
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Os dois Franciscos: o dos meios de comunicação e o real - Instituto Humanitas Unisinos - IHU