15 Novembro 2016
Nem mesmo o choque da eleição de Trump nos poupou do tédio conformista de colunistas e comentaristas diversos que lidavam com a epocal rejeição às elites dominantes. Entre os poucos que se destacaram desse descontado pântano de ideias, as mesmas há já cinco anos, foi, como de costume, o Papa Francisco, um dos inovadores já do pensamento político global.
A reportagem é de Fabrizio D'Esposito, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 14-11-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
E não nos referimos tanto à entrevista scalfariana da última sexta-feira no La Repubblica, mas sim ao novo livro do pontífice, que recolhe mensagens, discursos e homilias de quando ele era arcebispo de Buenos Aires.
No volume intitulado Nei tuoi occhi è la mia parola [Nos teus olhos está a minha palavra], há uma conversa com o fiel Antonio Spadaro, diretor da revista La Civiltà Cattolica, em parte antecipada pelo Corriere della Sera da quinta-feira, 10 de novembro, e que passou para o segundo plano por causa do clamor do sucesso trumpiano nos Estados Unidos.
Lá, defende Bergoglio: "Há uma palavra muito maltratada: fala-se muito de populismo, de política populista, de programa populista. Mas isso é um erro". Textual. O Papa Francisco é um revolucionário, como muitos o definem, incluindo Scalfari, que acolhe o populismo na sua acepção contemporânea, no ano do Senhor de 2016.
É a resposta ou, melhor, um solapão clássico às doutrinas políticas àqueles que (incluindo Lenin) defenderam a incompatibilidade histórica entre revolução e populismo, ao longo da atávica fratura entre direita e esquerda.
Sem dúvida, apesar da sacudida do papa, há o seu conhecimento do peronismo ou justicialismo argentino. Não por acaso, Bergoglio muitas vezes foi acusado de ser um populista por ser peronista. Ao mesmo tempo, porém, Francisco também é o pontífice que agrada à esquerda vermelha antiga e não se envergonha em nada da comparação entre comunistas e cristãos sobre os pobres, sobre os fracos e sobre os excluídos.
Povo, em uma única palavra. Entendida como categoria não mística, mas "histórica e mítica": "O povo se faz em um processo, com o compromisso em visto de um objetivo ou um projeto comum. A história é construída por esse processo de gerações que se sucedem dentro de um povo. É necessário um mito para entender o povo".
E uma grande visão, modelo Aristóteles, em vez do "politiquês, as disputas pelo poder, o egoísmo, a demagogia, o dinheiro". Eis a receita para um populismo saudável e vencedor. Palavra de Bergoglio. Viva o Papa. Viva o povo ou, melhor, el pueblo.
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"Populismo, palavra maltratada": o choque do papa revolucionário - Instituto Humanitas Unisinos - IHU